domingo, 11 de novembro de 2007

a toalha roubada

TOALHA ROUBADA - PARASHÁ CHAIEI SARA 5768 (02 de Novembro de 2007)

Quando Eduardo fez 12 anos, sua mãe lhe deu de presente uma viagem para um acampamento, para que ele aproveitasse as férias de verão. Ela ajudou na arrumação da mala, e fez uma minuciosa lista com todas as roupas, para se certificar de que nada se perderia.

Após um mês de férias bem aproveitadas, Eduardo voltou para casa com muitas novidades para contar. Sua mãe, muito zelosa, quis antes de tudo verificar se realmente todas as roupas haviam sido trazidas de volta. Para sua irritação, descobriu que estava faltando uma toalha. Imediatamente pegou o telefone, ligou para o dono do acampamento e começou a despejar um monte de acusações:

- Vocês são desonestos e ladrões. Como vocês mandam meu filho de volta sem uma das toalhas?

- Mas não é nossa culpa – se defendeu o dono do acampamento - pode se que seu filho emprestou para algum amigo, ou pode ser que tenha esquecido na piscina ou na lavanderia.

- Não quero saber – esbravejou a mãe – A responsabilidade é de vocês. Isso é roubo, e eu não admito!

Querendo terminar a discussão, o dono do acampamento aceitou dar uma nova toalha para ela. Para saber que toalha comprar, perguntou como era a que havia desaparecido. A mulher fez a descrição:

- Era uma toalha branca, grande, felpuda, escrito "Hotéis Hilton"....
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Explicam nossos sábios que a Torá é tão precisa em suas palavras que até mesmo uma letra pode conter muitos ensinamentos. Um exemplo está na Parashá desta semana, Chaiei Sara, que começa descrevendo a morte de Sara aos 127 anos. Avraham imediatamente começou a procurar um lugar para enterrar sua esposa, e escolheu a "Mearat Hamachpela", uma caverna onde estavam enterrados Adam e Chava (Adão e Eva), e cujo proprietário era Efron, do povo de Het.

A Torá nos descreve um pouco da personalidade de Efron, uma pessoa cínica, materialista e aproveitadora. Em um primeiro momento, para parecer uma boa pessoa aos olhos dos outros, ele ofereceu a Mearat Hamachpela de graça a Avraham, que recusou. Depois disso, vendo o quanto Avraham estava realmente interessado naquela caverna, ele cobrou 400 moedas de prata, um preço muito caro e injusto. Avraham, que entendia o valor espiritual daquela caverna, não discutiu o preço e pagou imediatamente. Mas há um detalhe interessante na forma como a Torá escreve o nome de Efron. Por diversas vezes está escrito Efron com a letra "Vav", com excessão do último versículo que fala sobre a venda, "...e pesou Avraham para Efron a prata que havia falado na presença do povo de Het, quatrocentos siclos de prata, em moeda corrente entre os mercadores" (Bereishit 23:16), onde o nome Efron está escrito sem o "Vav". Por que esta diferença, isto é, por que Efron "perdeu" uma letra do seu nome?

Explica o Chafetz Chaim que aquele que rouba é um Rashá (malvado) e um tolo. Entendemos que a pessoa seja Rashá, pois está descumprindo as ordens de D'us, que nos ensinou explicitamente "Não roubarás". Mas por que tolo? Pois a pessoa que rouba pensa que está ganhando algo, quando na verdade está perdendo. E isso não somente em aspectos espirituais, também em aspectos materiais. Todo o dinheiro que a pessoa receberá durante o ano já foi decretado em Rosh Hashaná, e portanto a pessoa que rouba apenas diminui seus méritos espirituais, recebendo menos ainda do que já havia sido decretado.

E é isso que aprendemos na Parashá da semana. Há um Midrash (parte da Torá oral) que nos ensina que enquanto Avraham contava o dinheiro, Efron permaneceu ao lado da balança, e durante todo o tempo mudou os pesos para roubar Avraham e receber mais dinheiro. Por isso a Torá retirou o último "vav" do nome de Efron, para nos ensinar que não apenas ele não ganhou nada, no final das contas ele perdeu.
Não existe nada que passa desapercebido do controle de D'us, e portanto uma pessoa não pode tirar algo de outra pessoa sem isto estar decretado nos Céus. Mas como isso funciona na prática? Vemos que quando uma pessoa rouba, ela fica com o dinheiro do roubo, e a outra pessoa perde. Como então a Torá nos ensina que quem roubou não ganha e quem foi roubado não perde?

D'us é perfeito em Sua justiça, e o faz de forma oculta, para não diminuir nossa livre escolha. Na forma de pequenos prejuízos, a pessoa vai perdendo, sem perceber, tudo o que ganhou desonestamente. É o carro que quebra, a geladeira que estraga, a infecção que precisa de um antibiótico caro, a cano de água que arrebenta. E por outro lado a pessoa que foi roubada também recebe tudo de volta, quando seu carro passa a consumir menos combustível ou as roupas dos filhos não estragam. Nos final a justiça perfeita sempre se cumpre, mas de forma a nos deixar a livre escolha de sermos honestos ou desonestos.

Todos somos contra o roubo e a enganação, e sempre gritamos contra as injustiças. Criticamos os políticos que desviam dinheiro e desprezamos juízes que recebem suborno para mudar um julgamento. Porém, será que nós realmente somos tão justos e honestos quanto pensamos? Quantos de nós nunca levou uma "lembrancinha" do Hotel, para guardar para sempre na memória aquelas férias inesquecíveis? Quantos de nós nunca furou uma fila de cinema, ao encontrar amigos na fila, passando na frente de várias pessoas que já estavam a muito tempo esperando? Quantos de nós nunca andou pelo acostamento, nos sentindo mais espertos do que os "bobos" que ficam parados no congestionamento? Quantos de nós nunca passou horas na Internet ou no telefone no dia em que o chefe não estava no escritório?

Portanto, antes de procurar erros nos outros, devemos lembrar que todas as vezes que apontamos o dedo para alguém, 3 dedos ficam apontados para nós mesmos.

"O CRIME NÃO COMPENSA" (Ditado Popular)

SHABAT SHALOM

Rav. Efraim Birbojm

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