sábado, 17 de novembro de 2007

Amor para sempre

AMOR PARA SEMPRE – PARASHÁ VAIETZE 5768 (16 de novembro de 2007)

"Um senhor, já em idade avançada, entrou no ônibus. Ele trazia nas mãos um belo buquê de rosas vermelhas. Sentou-se ao lado de um jovem rapaz, que ao olhar as lindas flores, exclamou:

- Alguma esposa vai receber um lindo presente hoje.

O velhinho sorriu, e balançou a cabeça afirmativamente. Algum tempo depois, o velhinho percebeu que o jovem rapaz não tirava os olhos das flores. Puxando conversa, perguntou ao rapaz se ele estava comprometido, e o rapaz respondeu que sim, e contou que estava justamente indo visitar sua noiva. Então o velhinho perguntou se o rapaz estava levando para a noiva algum presente, e ele respondeu:

- Na verdade eu gostaria muito de dar para ela um belo presente, pois ela merece. Porém, não tenho dinheiro para comprar um bom presente, apenas comprei este cartão. Espero que ela goste.

Os dois continuaram em silêncio por mais alguns minutos, até que o velhinho se levantou para descer do ônibus. Ele parou no corredor, pensou alguns instantes, colocou as flores no colo do jovem rapaz e falou:

- Sabe, estas rosas eu comprei especialmente para entregar para minha amada esposa. Mas tenho certeza que ela vai entender se eu explicar que eu te dei as flores, para que você possa presentear a sua noiva.

Antes do rapaz conseguir responder qualquer coisa, o velhinho rapidamente desceu do ônibus. O rapaz, muito agradecido, somente teve tempo de virar a cabeça e ver que o velhinho entrava, com um grande sorriso, pelos portões do cemitério...."

Infelizmente hoje são poucos casos em que vemos casamentos que duram para sempre. Atualmente, os casamentos são descartáveis, do tipo "se não deu certo, parte para a próxima". Será que o erro está no casamento, ou as pessoas já não sabem nem mesmo por que casar? Onde foi parar o amor?
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Na Parashá desta semana, Vaietze, Yaacov foi para a casa de seu tio Lavan em busca de uma esposa. Encontrou-se com Rachel, filha de Lavan, e decidiram casar-se. Como não tinha dinheiro, trabalhou 7 anos para seu tio Lavan em troca de Rachel. Apesar de parecer um tempo interminável, a Torá nos descreve como foram estes 7 anos: "E então Yaacov trabalhou 7 anos por Rachel, e pareceram aos seus olhos poucos dias, por causa de seu amor por ela" (Bereishit 29:20).

Mas este versículo nos soa um pouco estranho. Sabemos que quando nós amamos muito ou desejamos muito algo, o tempo parece que passa mais devagar. Quando esperamos um dia especial, alguma ocasião festiva, parece que os dias não passam, parece que cada minuto fica mais longo. Então como pode a Torá nos ensinar que o amor de Yaacov por Rachel era tão grande que o tempo passou mais rápido, e os 7 anos foram como poucos dias? Isso não é contraditório?

Para entender o que a Torá está nos ensinando, antes precisamos esclarecer o conceito de amor. Imagine uma pessoa que entra em um restaurante, e quando o garçom pergunta o que ela quer comer, ela responde "eu amo peixe". Que tipo de amor é este? Quem ama um peixe compra um aquário para ele, troca a água regularmente, o alimenta e cuida de sua saúde. A pessoa no restaurante que "ama o peixe" faz justamente o contrário, o corta em pedacinhos, mastiga e engole. Portanto, isto não é amor ao peixe, é amor a si próprio.

Atualmente o conceito de amor é muito mal entendido e banalizado pelas pessoas. Namorados que se conheceram há 2 dias dizem um para o outro "Eu te amo". Por que? Pois segundo o conceito da filosofia ocidental, amor é aquele sentimento de satisfação e prazer que sentimos quando estamos com alguém que consideramos como sendo "amado". Porém, esta não é a definição correta, pois este amor está baseado na idéia de gostar do outro pelo que o outro pode me proporcionar de satisfação. No fundo isso é o amor de "eu amo peixe", é o amor próprio, é o amor com interesse, e a tendência deste tipo de amor é que não dure, pois não é verdadeiro. Por isso vemos tantos casais que "se amavam tanto" e depois de 1 ano se divorciam.

O conceito judaico de amor, baseado nos ensinamentos da Torá, é completamente diferente. A palavra amor, em Lashon Hakodesh (língua sagrada com a qual foi criada o mundo) é "Ahavá", e vêm da raiz "Hav", que significa "dar". O amor verdadeiro é aquele que desperta na pessoa a vontade de fazer algo pelo outro, de dar para o outro satisfação e alegria.

Por isso, quando o amor é um sentimento egoísta, poucos dias parecem uma eternidade, pois tudo está voltado para a vontade de receber e de preencher os nossos desejos. Mas quando a Torá fala do amor de Yaacov por Rachel, certamente é um amor verdadeiro, no qual a pessoa que ama está preocupada em constantemente fazer algo pelo outro, em buscar sempre um caminho para fazer o bem ao próximo, sem pedir nada em troca. E pelo fato de que Yaacov sentia por Rachel este amor espiritual puro, sem nenhuma inclinação egoísta, os 7 anos passaram como se fossem poucos dias.

Yaacov, antes de ir para a casa de seu tio Lavan, passou 14 anos se dedicando ao estudo da Torá, na Yeshivá dos filhos de Noach (Noé). Por que? Para se preparar para as dificuldades da vida, para se tornar uma pessoa melhor, para vencer seu lado egoísta. Foi por isso que quando ele conheceu Rachel, ele conseguiu construir com ela um amor verdadeiro e puro.

Pouquíssimas pessoas casam amando, na verdade o que existe é apenas uma "química', um bem estar físico. Isso é apenas paixão, não é amor. Amor, portanto, é algo que construímos com o tempo. É preciso um trabalho interno árduo para conseguir chegar ao amor verdadeiro. Por isso temos em nossas vidas duas escolhas: viver no mundo da fantasia, em que a vida começa como um conto de fadas e termina como um filme de terror, ou podemos viver na realidade, sabendo que o verdadeiro amor só vem com muito estudo, esforço e dedicação.

SHABAT SHALOM

Rav. Efraim Birbojm

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