domingo, 11 de novembro de 2007

A cigarra e a formiga

A Cigarra e a Formiga
Marcos Wasserman, presidente doCentro Cultural Israel-Brasil em Tel Aviv
Outro dia estive pensando na clássica fábula da formiguinha que trabalha incansavelmente no verão, para ter o que comer no inverno, enquanto a Dona Cigarra segue cantando e sambando, e, quando chega a fatídica estação, morre de raiva e inveja da outra. Esta historieta se adapta como uma luva a muitos aspectos do conflito israelo-palestino.
Há mais de 100 anos, em 1901, sob a inspiração de Theodor Hertzl, os judeus criaram um fundo – o Keren Kayemet LeIsrael - para a redenção das terras da Palestina, então parte do Império Turco-Otomano. Os vendedores riam dos judeus que pagavam qualquer preço por áreas desérticas e até pantanais. Mas não bastava ter a propriedade das terras. Não bastava fincar ali uma bandeira e com isso proclamar o direito de propriedade. A Revolução Ideológica Sionista transformou toda uma geração de jovens judeus em pioneiros, que foram trabalhar a terra com vistas à concretização de um sonho milenar. Os pântanos secaram e foram cultivados, e desertos viraram jardins a custa de muito suor e muito sangue.
"Os árabes venderam suas terras desérticas aosjudeus e agora reivindicam um direito de recompra"
Ficou estabelecido que as terras do Keren Kayemet seriam inalienáveis, mas poderiam ser arrendadas aos judeus, sendo as rendas reaplicadas a bem da comunidade. O Keren Kayemet é hoje uma ONG que goza de enorme respeito internacional. Atuando em inúmeras áreas, plantou mais de 230 milhões de árvores em território israelense, construiu mais de 7 mil quilômetros de estradas e participou da construção da infra-estrutura de mais de mil comunidades.
Agora vem o problema. Existe em Israel uma entidade que se chama "Adala", que pugna pelos direitos de minoria dos árabes-israelenses. Em princípio, legítimos. Só que esta organização tem uma linha ideológica muito clara, extremamente controvertida e que chega a ser antagônica a certas instituições e à estrutura do próprio Estado de Israel. Desta vez "Adala" está quase que marcando um tento. Abriram fogo contra o Keren Kayemet, acusando essa entidade de racista por arrendar terras somente aos judeus.
Os ignorantes da história Sionista e das funções da supracitada ONG perguntariam intrigados: que estória é essa de racismo em Israel? Não é nada disso. Os árabes venderam suas terras desérticas aos judeus e agora reivindicam um direito de recompra. Objetivamente falando, poder-se-ia dizer que o que era válido há 100 anos, deixaria de sê-lo na realidade hodierna. Afinal, os árabes-israelenses são cidadãos e deveriam ter os mesmos diretos que os judeus-israelenses. Mas estamos no Oriente Médio e, via de regra, as coisas nesta conturbada região não estão muito bem definidas. Por outro lado, em países vizinhos a Israel, um árabe que se atreva a vender uma propriedade imóvel a um judeu está sujeito à pena de morte.
Mas Israel é uma democracia e os tribunais terão que se manifestar, e a celeuma já está na ordem do dia do país. E a tese dos árabes-palestinos encontra a devida repercussão em não poucos meios políticos e legais. Mas, ao mesmo tempo, nas circunstâncias em que vivemos neste minúsculo país chamado Israel, as pretensões da organização árabe-israelense "Adala" são vistas também com muitas suspeitas. Há quem prognostique que, seguindo uma mesma linha de pensamento, mais cedo ou mais tarde irão eles abrir sua campanha contra a Lei do Retorno, que também seria "racista".
"Em países vizinhos a Israel, um árabe que seatreva a vender uma propriedade imóvel aum judeu está sujeito à pena de morte"
Traduzindo em outras palavras, assistimos aqui a uma inteligente e suspeitíssima orquestração visando à deslegitimação de Israel como país dos judeus. Em determinados círculos israelenses, o modus vivendi da população árabe dentro de Israel provoca não poucas dúvidas. Não pelo fato de desejarem manter sua cultura, língua e costumes, mas por não quererem participar da cidadania. Eles se recusam a participar de qualquer serviço civil em favor da população geral, isentos que estão, por razões óbvias, da prestação do serviço militar, obrigatório para o resto da população.
Enquanto isso, os palestinos lá de fora têm em sua própria agenda a exigência do reconhecimento de uma Lei do Retorno para eles, não para a futura Palestina (que Alá os perdoe), pois querem o direito de viver em Israel. Os palestinos, como a cigarra, não aceitaram a realidade, desprezaram o país que se lhes ofereceu em 1947 numa bandeja de prata. Durante 60 anos eles se recusaram a construir seu próprio país. Grande será o dia quando adotarem a marcha das formigas.
Publicado na Tribuna Judaica

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