domingo, 11 de novembro de 2007

PARASHÁ VAIETSÊ ` v i e

PARASHÁ VAIETSÊ ` v i e

Um grande mistério que inicia logo de início a quinta porção desta parashá é o fato de mesmo sendo uma pessoa negativa, o gado de Lavan prosperou e se multiplicou muito durante o tempo em que Yaacov trabalhou para o mesmo. Qual é a razão da prosperidade de Lavan?

“E disse-lhe: Tu sabes bem o quanto te servi, o que era teu gado comigo”. Gn: 30:29

“Pois pouco tinhas antes de mim , e cresceu em grande número; e te abençoou o Eterno por minha causa. E agora, quando trabalharei também para minha casa?” Gn: 30:30

Para os cabalistas, há uma Presença Suprema no universo, e ela se chama Or Ein Soph (Luz do Mundo Infinito). Quando os cabalistas falam em Luz, isso é uma referência ao Criador, que nunca muda, que nunca se desloca e que não possui forma alguma. Esta Luz está em toda parte e preenche todo o universo a nossa volta, nela está contida toda a forma de cura, prosperidade, bem estar e bênção que possamos receber. O que fecha o nosso receptor para esta Luz, ou é a natureza do desejo de receber para si mesmo ou a natureza do Pão da Vergonha. O desejo de receber para si mesmo é parte de nossa natureza egoísta que nos faz sentir como um ser separado de todo o restante da criação, já o Pão da Vergonha é uma natureza igualmente egoísta que nos faz estar preenchido com o sentimento da auto-suficiência e total independência da Luz do Mundo Infinito. Para os cabalistas existem aspectos dentro do Mundo Físico que nos permite perceber algumas das leis do Mundo Espiritual. Por exemplo, há aspectos em comum entre a Luz do Mundo Infinito e a luz física. Para os cabalistas, o que acontece no alto (Mundos Superiores), se reflete em baixo (Mundo Inferior). Um é o reflexo distorcido do outro, mas há inevitavelmente uma forma de "comunicação" e conexão entre a Luz do Mundo Infinito e a luz que se manifesta dentro do Mundo Físico.

Aprendemos que ambas as luzes, superior e inferior, precisam de resistência e restrição para ser revelada. Sabemos também que a resistência possui duas formas de se manifestar, voluntariamente e involuntariamente. A luz do sol e a luz artificial se revelam através de uma resistência automática e não intencional, mas para se fazer revelar o Or Ein Soph se faz necessário uma reflexão consciente e voluntária.

Dentre tudo o que existe no mundo físico, apenas a espécie humana necessita exercitar uma resistência para revelar a Luz do Mundo Infinito. A restrição é vista a todo o momento na história de Yaacov, quando o mesmo restringe o seu desejo por Rachel, aguardando o tempo necessário para se casar com ela. Os critérios de restrição e resistência; nos permite eliminar o Pão da Vergonha.

Um outro ponto comum existente entre a luz do Mundo Físico e a Luz do Mundo Infinito é que o Or Ein Soph penetra em toda a existência , mais, assim como a luz do sol, a mesma só se torna visível quando é refletida. Refletir a Luz é revelar a energia infinita que habita no universo, não refletir esta Luz significa permanecer na obscuridade espiritual.

Podemos estabelecer um paralelo e uma analogia a uma superfície escura que absorve a luz integralmente sem que a mesma seja refletida, contendo assim a energia semente do desejo de receber para si mesmo, e uma superfície branca que reflete a luz e contem em si a energia semente do desejo de compartilhar. A cor negra captura a luz, permitindo que escape apenas uma mínima quantidade de luz possível. O mesmo ocorre com uma pessoa tomada por uma consciência egoísta, que motivada pelo desejo de receber para si mesmo, captura a Luz que chega a sua vida e consome tudo o que é humanamente possível consumir, dando muito pouco em troca. A cor branca, ao contrário, reflete a luz e compartilha assim a iluminação com todos e com tudo o que se encontra a sua volta. Portanto, sabemos que a pessoa cuja consciência está centrada no desejo de receber para compartilhar imita a superfície branca que aceita unicamente o que necessita para seu sustento e compartilha com os demais. O nome de Lavan (branco) está ligado a LEVANÁ (lua), uma referência direta à noite e a obscuridade. Yaacov está relacionado a Tiferet na Árvore da Vida, o mesmo representa a energia do Sol.

Para os cabalistas, o fenômeno da "disputa" entre a energia da obscuridade e da luz, se estabelece em maior grau, ao amanhecer e ao anoitecer, quando o sol se aproxima do horizonte. Durante este período, as superfícies escuras e tudo o que as envolve torna-se invisível e tudo o que é claro e o que se encontra a sua volta torna-se visível. Espiritualmente existe uma situação similar, relativa ao indivíduo cuja principal influencia é o desejo de compartilhar. Ao resistir a Luz, ao refletir a Luz, todos os que estejam a sua volta também recebem esta mesma Luz do Mundo Infinito. As pessoas motivadas apenas pelo desejo de receber para si mesmo, não refletem Luz alguma e, portanto se tornam espiritualmente invisíveis e inexpressíveis.

Portanto, o cabalista atua sempre como uma superfície que reflete, resistindo e opondo-se suavemente a tudo o que mais deseja, como um espelho, para que a Luz possa ser revelada. Mas é claro, é necessário também que se desenvolva o desejo de receber para então poder compartilhar e ai está o mistério do gado malhado que se destinava a Yaacov (preto e branco) e também o segredo da ressonância mórfica existente por trás das letras do alfabeto hebraico usadas em textos sagrados e nas meditações. Ao combinar o preto e o branco, o claro e o escuro, o sol e a lua, o desejo de compartilhar e o desejo de receber, obtemos o equilíbrio.

Manter o equilíbrio destas duas forças, é absolutamente necessário para que o cabalistas possa ter o equilíbrio sobre os seus desejos. Mas, quais são as origens dos nossos desejos?

Quando o Criador se contraiu, no instante da Criação, Ele criou um estado vazio, obscuro e negativo que exigia ser preenchido (tal qual um recipiente). Por associação, este estado vazio se manifestou em cada fase e estrutura presente dentro da existência, e desde este momento inicial, não se revela nenhuma Luz no mundo sem um recipiente cuja motivação essencial é sempre o desejo de receber.
Tudo aquilo que se manifestou após o tzimtzum, cada partícula de matéria emergiu com uma necessidade original, um vazio que exige ser preenchido. Esse vazio é a essência de todo o desejo. E a necessidade de preencher o vazio que existe entre nós e a Luz do Mundo Infinito é à base de todos os paradigmas: psicológicos, físicos, emocionais e espirituais.

Tudo o que se manifesta neste mundo, nasce com esse vazio (tzimtzum) e portanto possui essencialmente a semente do "desejo de receber".

Mas, o cabalista não pode se esquecer que o vazio é uma ilusão criada pelo Emanador para nos dar a oportunidade de nos redimir do Pão da Vergonha. Sendo assim, o desejo torna-se uma grande oportunidade para declararmos nossa dependência do Emanador e a nossa vontade de manter a conexão com Ele. Mas, na realidade nada aconteceu com a Luz do Mundo Infinito, tudo o que aconteceu foi uma profunda ilusão para todos os que se localizam deste lado (físico) da cortina que nos separa da fonte de todas as coisas. Pela perspectiva Infinita, o vazio não existe. Não temos nenhuma carência. Não há vazio algum a ser preenchido. O fato é que muitas vezes, tendo como base a perspectiva finita, algumas vezes o vazio parece ter poder sobre nós. Como foi o caso de Lavan. Se estivermos com a nossa consciência centrada na perspectiva Infinita, vamos nos encontrar, submersos no mais absoluto estado de plenitude.

Desta forma, a forma de não ser dominado por este estado de vazio é compreender a natureza efêmera do desejo e impedir que este estado de necessidade se faça presente a todo o momento em nossas vidas. O método para que isso seja possível é através da resistência voluntária. Se entendermos a ilusão de carência e a percebermos como uma aparição temporal que desaparece quando confrontada com a consciência Infinita, vamos atuar sempre tendo como base a terceira coluna da Árvore da Vida, criando um meio para sair da obscuridade e entrando na realidade da Luz.

Os cabalistas então nos ensinam que chegará um momento em que não mais haverá a obscuridade e a ilusão da falta no Mundo Físico, como nos ensina o Zohar:

"...e pode se entender que o sol e a lua estão em uma única ligação..." Zohar – Vaietsê

Emuná V’Bitachon.
Rav Meir

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