domingo, 11 de novembro de 2007

perguntas e respostas sobre o shabat

SHABAT

Perguntas & Respostas:

Por que os judeus não podem acender fogo aos sábados?

R:. Pela lei judaica, o Shabat é um dia sagrado de descanso, e qualquer forma de trabalho é proibida. Acender o fogo é uma das poucas atividades explicitamente classificadas como "trabalho" na Torá : "Não acendereis fogo em todas as vossas habitações no dia de Shabat." Shemót: 35:3.

Posteriormente, os rabinos do Talmud ampliaram o conceito, considerando como "trabalho" todas as tarefas desempenhadas na construção do Tabernáculo. Chegaram assim a um total de 39 categorias de atividades proibidas no Shabat.

O que é e no que se baseia o Shabat?

R:. Shabat, o dia de descanso, é o símbolo máximo do Judaísmo, a verdadeira essência da fé judaica. As origens do Shabat se encontram no Decálogo: "porque em seis dias fez o Eterno os céus e a terra, o mar e tudo o que há neles, e repousou no sétimo dia; portanto abençoou o Eterno o Shabat e santificou-o." Shemót: 20:11. O Shabat é, portanto, uma afirmação da Criação Divina: nesse dia interrompemos o trabalho, pois assim fez o Criador. O dia de descanso conscientiza o homem de que ele não domina o mundo, e de que ele depende do poder supremo de D’us.

Recebemos no Decálogo uma segunda explicação: "E lembrarás que servo foste na terra do Egito, e que de lá te tirou o Eterno teu D’us, com mão forte e com braço estendido; portanto te ordenou o Eterno, teu D’us, para fazer o dia de Shabat”. Devarim: 5:15. O Shabat é assim uma celebração da liberdade. O escravo não é livre - seu tempo não lhe pertence. Somente o homem que é dono do seu tempo é verdadeiramente livre. O homem livre domina à sua semana, e não se torna subserviente a ela.

Fisicamente, o Shabat atende a uma necessidade básica do ser humano. O descanso é o corolário indispensável do trabalho. Nesse dia, o homem não está sujeito às tensões e às exigências da vida cotidiana.

Socialmente, o Shabat e a essência da legislação democrática. É o clímax da justiça no sentido de que nesse dia, pelo menos, não há distinção de classe ou posição social. Todo ser humano tem direito a um dia de descanso semanal. No Shabat somos todos iguais.


O que significa Kidush?

R:. A palavra "Kidush" significa "santificação". No contexto do Shabat e outros dias festivos, refere-se a uma benção especial recitada sobre o vinho.

O Quarto Mandamento nos ordena "lembrar o Shabat, para santificá-lo". E como santificamos o Shabat? Recordando os dois eventos com os quais a observância do Shabat está relacionada na Torá: a Criação e o Êxodo.

A bênção é recitada no lar antes das refeições festivas. É também cantada na sinagoga, para que os forasteiros que estejam passando o Shabat ou o feriado longe de seus lares também tenham a oportunidade de escutá-la.

O vinho, como símbolo de vida e alegria, é o elemento mais apropriado para a santificação do Shabat. Entretanto, por uma questão de sensibilidade para com aqueles que não podiam se dar ao luxo de comprar vinho, os rabinos declararam que o Kidush também pode ser recitado sobre as chalot, os pães de Shabat.


Jogar futebol no Shabat e uma violação da lei do descanso?

R:. Embora o esporte não seja considerado uma forma de trabalho pela definição talmúdica, as autoridades ortodoxas proíbem qualquer atividade esportiva no dia do descanso, achando que isto depreciaria a santidade do Shabat e tomaria um tempo que poderia ser dedicado a uma ocupação mais nobre, tal como o estudo da Torá.

Outras autoridades não se opõem, em princípio, mas chamam atenção para certas restrições legais. Por exemplo, a bola não pode ser carregada de uma área particular para outra pública, o que constitui uma violação da lei do descanso, segundo o código tradicional. No entanto, isto é facilmente evitável: basta que o jogo se realize num jardim ou outro local onde haja um eruv, alguma espécie de cercado ou muro, para que o campo possa ser qualificado como propriedade particular.

Os liberais consideram válida a prática de esportes aos sábados, como uma forma de lazer que acrescenta alegria à observância do Shabat.



Por que é a mulher que acende as velas de Shabat?

R:. Existem duas explicações bastante contraditórias.

Embora contrária ao espírito do Judaísmo liberal, a interpretação tradicional é que a mulher cometeu a primeira transgressão no Jardim do Éden, e com isto extinguiu a luz da vida humana. Como uma forma de expiação, ela foi encarregada de acender as velas de Shabat, a fim de restaurar o brilho original daquela luz (Talmud Shabat 31b).

A outra interpretação é que cabe à mulher a responsabilidade de trazer paz, serenidade e felicidade ao lar. Portanto deve-lhe ser concedida a honra de iniciar o Shabat.

É importante frisar, entretanto, que se a mulher estiver ausente ou acamada, ou então se não mora nenhuma mulher naquela casa, o homem tem o dever de acender as velas.

O que é chalá?

R:. A palavra "chalá" (plural "chalot") aparece pela primeira vez na Bíblia em referência aos doze pães que deveriam ser colocados sobre o altar no Tabernáculo. O mesmo termo designava um pequeno pedaço de massa que deveria ser reservado como uma oferta para os sacerdotes.

Chalá é o pão festivo servido no Shabat (tradicionalmente em forma de uma trança alongada) e nos outros feriados.

Como se justifica o Shabes goy?

R:. Shabes goy é uma pessoa não-judia que de acordo com a lei judaica pode, sob certas circunstâncias, executar para os judeus as tarefas que estes não podem fazer sozinhos no Shabat. O Judaísmo nos proíbe qualquer tipo de trabalho no sétimo dia. Por esta razão, mobilizamos um não-judeu para nos substituir nas atividades necessárias.

Tal costume não implica uma discriminação. Todos os homens, de todos os credos, foram criados "à imagem de D’us". Portanto temos todos direitos iguais. Uma pessoa não-judia pode ajudar seu irmão judeu no sábado, desde que ela tenha garantido seu próprio dia de descanso no domingo, ou em outro dia qualquer. Enquanto estivermos dispostos a ajudar uns aos outros em nossos respectivos "dias de descanso", não há problema algum. Mas tem que ser recíproco. Porque somos todos nós filhos de um só D’us.

Nos bairros ortodoxos de Jerusalém, é freqüente os moradores
atirarem pedras nos automóveis que circulam aos sábados (por ser uma violação das leis do Shabat). A lei judaica permite atirar pedras no Shabat?

R:. De acordo com a Halachá, a lei religiosa, é estritamente proibido levantar uma pedra no Shabat. 0 Shulchan Aruch, "Orach Chayim", capítulo 308, parágrafo 7, diz: "É proibido carregar ou mover pedras no Shabat, mesmo que sirvam para tampar vasilhas." Mais proibido ainda atirar uma pedra, que pode provocar danos materiais e até mesmo físicos!

Isto é fanatismo. É uma perversão da religião, praticada justamente por aqueles que dizem ser seus defensores. É uma profanação da lei e do espírito do Shabat.

O que é Havdalá?

R:. "Havdalá" significa "separação": a separação entre o Shabat e o resto da semana, entre o espiritual e o material, entre o sagrado e o profano.

Assim como santificamos o início do Shabat com o Kidush, santificamos sua conclusão com a Havdalá: o ritual que se realiza sábado ao anoitecer com uma taça de vinho, especiarias e uma vela trançada.

Por que se colocam duas chalot na mesa de Shabat?

R:. Uma explicação é que as duas chalot representam as duas fileiras de pães dispostas permanentemente na mesa do Tabernáculo. Eram substituídos por pães frescos todo Shabat, e os que eram retirados deviam ser consumidos pelos sacerdotes no próprio santuário.
Outra explicação é que durante os quarenta anos no deserto, após saída do Egito, o povo judeu foi sustentado milagrosamente por meio de maná, um alimento que caía diariamente dos céus, numa quantidade suficiente para um dia. Às sextas-feiras, caía uma porção dupla de maná, para evitar que os israelitas tivessem que violar a lei colhendo o alimento no dia do descanso. Em lembrança desta porção dupla de maná, colocamos duas chalot na mesa de Shabat.

O costume de salpicar sementes de papoula ou gergelim sobre as chalot provem do orvalho que sempre caía sobre o maná para preservação.

Por que e costume comer peixe no Shabat?

R:. Uma das interpretações para este antigo costume e que, assim como o peixe não sobrevive fora da água, também o judeu não pode sobreviver sem a Torá – as águas vitais que nutrem sua alma e seu espírito. No Shabat, ressaltamos a imprescindibilidade deste aspecto espiritual da nossa existência.

Depois de acender as velas de Shabat, por que a mulher cobre os olhos
com as mãos enquanto recita a benção?

R:. Normalmente, qualquer benção deve ser recitada imediatamente antes do cumprimento da respectiva Mitzvá, para que não se pronuncie o nome de D’us "em vão". No caso das velas, não se pode seguir este princípio, porque, no momento em que é recitada a benção, inicia-se o Shabat e, portanto, a partir desse instante é proibido acender velas.

Para superar este dilema, a mulher primeiro acende as velas e em seguida fecha ou tampa os olhos e recita a benção. Somente depois de abençoar Aquele que ordenou a luz do Shabat, ela pode desfrutar a alegria de ver suas velas brilhando.

Por que se coloca sal na chalá antes de comer?

R:. O sal acompanhava todos os sacrifícios levados ao altar do antigo Templo. Comendo pão com sal, revivemos simbolicamente o passado e reforçamos o conceito judaico de que "a mesa é como um altar" (Talmud Brachot 55a).

Outra interpretação: o sal, por sua própria natureza, é uma substância que preserva os alimentos e não os deixa deteriorar. O uso do sal na chalá de Shabat representa assim nosso desejo de preservar a Aliança entre o Todo-Poderoso e o Povo de Israel.



Existe uma hora certa para acender as velas de Shabat?

R:. Uma vez que o acender das velas de Shabat não é um preceito bíblico, existem divergências quanto à hora certa de acendê-las. Na maior parte das comunidades judaicas, elas são acesas sexta-feira à tarde, 18 minutos antes do pôr-do-sol. Em Jerusalém, é costume acendê-las 40 minutos antes do pôr-do-sol. O essencial é que elas já estejam acesas quando escurece, para que não seja profanado o Shabat.

Por que a congregação se vira em direção à porta enquanto é cantado o
hino "Lechá Dodi" no serviço religioso sexta-feira à noite?

R:. Os rabinos do Talmud comparam o Shabat a uma noiva e rainha, que deveria ser acolhida festivamente. No século XVI os místicos de Safed instituiram um ritual de "Kabalat Shabat" ("acolhida do Shabat") que consistia em ir até os campos nos arredores da cidade para receber simbolicamente a "noiva" com cantos de júbilo.

Daí provém o costume de virar-se em direção à porta enquanto é cantado o hino "Lechá Dodi", a canção de boas-vindas à Rainha Shabat, a noiva do Povo de Israel.

Por que se acendem duas velas nas vésperas do Shabat? Poderia ser
uma, ou três ou mais?

R:. Devemos acender no mínimo duas velas, representando simbolicamente as duas expressões do Quarto Mandamento: "Zachor et yom ha'Shabat le'kadsho", "Lembra-te o dia do Shabat para santificá-lo". Shemót: 20:8; e "Shamor et yom ha'Shabat le'kadsho", "Guarda o dia do Shabat para santificá-lo." Devarim: 5:12.

Em alguns lares judaicos, acendem-se três ou mais velas, uma para cada membro da família. Quando está presente alguma convidada, pode-se colocar uma vela a mais para ela acender. Mas não é obrigatório.

O importante é que haja luz. Luz de Shabat. Luz para iluminar um mundo sombrio.



Por que se costuma cantar o hino "Shalom Aleichem" quando se volta
para casa na sexta-feira à noite, após o serviço religioso?

R:. O hino foi introduzido pelos cabalistas no século XVI. É um canto de boas-vindas aos anjos do Shabat: "A paz esteja convosco, anjos que sevem a D’us, emissários do Senhor!"

Diz uma lenda talmúdica que dois anjos nos acompanham quando voltamos da sinagoga para casa na sexta-feira à noite - o Anjo do Bem e o Anjo do Mal. Eles observam o ambiente no lar. Se a casa está festivamente preparada para o Shabat, a mesa coberta com uma toalha branca, as chalot prontas, as velas acesas - o Anjo do Bem diz: "Que o próximo Shabat seja como este", o Anjo do Mal tem que responder: "Amém!". Se, por outro lado, os anjos encontrar a casa em desordem e nada preparado para o Shabat, é o Anjo do Mal quem diz: "Que o próximo Shabat seja como este", e o Anjo do Bem é obrigado a responder: "Amém!"

Por que a vela de Havdalá tem que ser uma vela trançada?

R:. A explicação está na benção que se recita durante a Havdalá:
"Baruch Ata Adonai, Eloheinu Melech ha’olam, borei me’orei ha’esh", "Bendito sejas, o Eterno nosso D’us, Rei do Universo, Criador das luzes do fogo."

"Luzes": a palavra está no plural. E por quê? Porque se refere à luz da Criação: "maor ha’gadol" e "maor ha’katan". Bereshit: 1:16, a luz maior e a luz menor, o sol e a lua. Por este motivo, são necessárias pelo menos duas chamas. Quando não se tem uma vela trançada com dois pavios, pode-se segurar juntas duas velas comuns.

Por que é costume usar uma toalha branca na mesa de Shabat?

R:. Primeiro em lembrança do maná, o alimento milagroso que caía dos céus e formava uma camada branca sobre a superfície do deserto, conforme o relato no Livro Êxodo. Segundo, porque a mesa no Tabernáculo onde se colocavam as chalot (os pães) é descrita como "a mesa pura diante do Eterno". Vaykrá: 24:6. A cor branca é símbolo de pureza.



Por que se acendem velas antes do Shabat e dos feriados?

R:. A Torá proíbe explicitamente o ato de produzir fogo durante o Shabat: "Lo tevaaru eish bechol moshvoteichem, be'yom ha'Shabat". Shemót 35:3. Interpretando esta lei ao pé da letra, algumas comunidades judaicas antigas proibiram não só a criação do fogo, mas também sua utilização - nenhum calor, nenhuma luz, nenhum alimento quente no Shabat! Alguns radicais foram ainda mais longe: considerando a paixão sensual como uma forma de "fogo ardente", eles insistiam na abstinência sexual durante o dia sagrado de descanso. E assim, o Shabat que deveria ser marcado pela alegria e prazer; foi transformado num dia de escuridão e tristeza.

Em protesto contra essa visão restritiva, os rabinos ordenaram que se acendessem velas antes do início do Shabat. Recebendo nossos dias santos com luminosidade e calor, ressaltamos seu caráter festivo. Neste sentido, acender o fogo do amor no Shabat, longe de ser uma profanação, é um ato sagrado, uma verdadeira Mitzvá.

Por que e costume cantar zmirot (canções tradicionais) na mesa do
Shabat?

R:. A razão havia é que a música acrescenta calor e alegria à celebração do Shabat.

Existe uma outra razão, um pouco mais sofisticada. O Shabat é essencialmente um dia de aprimoramento da mente e do espírito. Neste contexto, quando a família se reúne para a refeição de Shabat, o ideal seria que a conversa girasse em torno de temas filosóficos e religiosos. Uma vez que nem todos têm a base intelectual necessária para participar de tais discussões, resolveu-se que a melhor forma de transmitir as valiosas mensagens do Judaísmo seria através de melodias letradas, facilmente captadas por qualquer pessoa.

O costume de cantar zmirot foi introduzido pelos cabalistas da cidade de Safed, no século XVI, e difundiu-se pelo mundo afora.





Por que as chalot e a faca com a qual elas serão cortadas ficam
cobertas antes da benção?

R:. Os rabinos dizem que este costume nos ensina dois importantes valores judaicos: a dignidade humana e a preciosidade da paz.

Na mesa de Shabat, as velas estão colocadas em belos candelabros e o vinho está dentro de uma linda taça. Enquanto as benções sobre as velas e o vinho estão sendo recitadas, as chalot estão "abandonadas" sobre a mesa. Os rabinos decretaram então que, a fim de evitar que as chalot sintam-se humilhadas, elas devem permanecer cobertas até a hora em que se recita a benção sobre o pão. Preocupando-nos com a dignidade dos objetos inanimados, aprendemos também a preocupar-nos com a dignidade do nosso semelhante.

Por que cobrir a faca? No Shabat, nossos pensamentos se voltam para a paz e a harmonia. Cobrimos a faca, portanto, para impedir que um símbolo visível de guerra e violência deturpe o espírito do Shabat.

Alguns vão ainda além, recomendando que se parta o pão com as mãos, em vez de cortá-lo com uma faca.

Por que o ritual da Havdalá inclui uma benção sobre especiarias?

R:. De acordo com uma lenda rabínica, cada judeu recebe no Shabat uma alma adicional: figurativamente, a paz de espírito que nos invade no dia do descanso, expulsando todas as tensões e preocupações do cotidiano. Quando termina o Shabat e a "alma extra" vai embora, sobrevém uma sensação de tristeza. O aroma estimulante das especiarias (vessamim) é uma injeção de ânimo, uma compensação simbólica pela perda de energia espiritual.

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