domingo, 24 de fevereiro de 2008

BOM DIA! Conta-se sobre um homem que foi ao Jóquei Clube e viu um rabino
abençoando um cavalo. Calculando que o rabino devia ser ‘chegado’ a D'us, o homem apostou naquele
cavalo e, como previsto, o cavalo venceu! Antes de cada páreo, o homem observava qual cavalo o
rabino abençoara, fazia sua aposta e ganhava. Entretanto, mesmo seguindo este padrão em todas as
corridas, no último páreo o cavalo chegou por último. O homem se aproximou do rabino e perguntou:
“Como pode ser que todos os cavalos que o senhor abençoou ganharam menos este?” O rabino
respondeu: “Meu amigo, você precisa aprender a diferença entre uma bênção e um kadish (a prece que
se diz em memória daqueles que faleceram) ”.
A maioria dos judeus está familiarizada com a bênção sobre o pão, chamada Hamotsi.
Entretanto, existem bênçãos para outros tipos de alimentos, bênçãos para Mitsvót (mandamentos)
(como, por exemplo, ao se colocar Tefilin ou acender as velas de Shabat), bênçãos de agradecimento
(como quando uma pessoa é salva de um acidente), bênçãos sobre fenômenos naturais (por exemplo:
ao se ouvir um trovão ou ver um raio), bênçãos por eventos da vida, como pelo nascimento de um bebê
ou o falecimento de uma pessoa. Há até uma bênção a ser recitada após se sair do banheiro. Não ria –
imagine se você não fosse capaz de fazer as suas necessidades ou se não conseguisse parar de fazêlas.
Não poderíamos viver!
O que é uma bênção? É uma declaração que se inicia com as palavras: “Abençoado é o Senhor,
nosso D'us, Rei do Universo...”. Isto não quer dizer que tenhamos qualquer poder de abençoar D'us.
Ele é infinito e não Lhe falta nada. O que estamos fazendo é reconhecendo que o Todo-Poderoso é a
Fonte de todas as bênçãos.
Por que recitamos estas bênçãos? A vida é uma questão de foco. Podemos comer, dormir,
trabalhar e um dia morrer sem nunca ter pensado em para que serve a vida ou o significado de um
momento. A bênção nos ajuda a focar no Todo-Poderoso e em nosso relacionamento com Ele.
No caso dos alimentos, ao invés de simplesmente enchermos a boca de comida, refletimos por
alguns instantes que os alimentos também vêm de D'us. Há dois versículos interessantes sobre este
tema nos Salmos. O primeiro diz (Salmo 24:1): “A terra e tudo o que há nela pertencem ao Todo-
Poderoso”. O segundo versículo diz: “Os Céus pertencem a D'us e a terra Ele deu ao homem (Salmo
115:16). Como esta aparente contradição pode ser resolvida? Tudo pertence ao Todo-Poderoso.
Entretanto, depois que reconhecemos este fato através da recitação de uma bênção, recebemos a
permissão de partilhar da bondade (a comida!) que Ele nos deu. Existe também uma bênção a ser
recitada após a refeição, onde agradecemos ao Todo-Poderoso por tudo aquilo que Ele nos
proporcionou.
Após ouvir alguém recitando uma berahá (bênção, em hebraico), aqueles que ouviram
respondem ‘Amen’. O que é ‘Amen’? É um acrônimo em hebraico (uma palavra formadas pelas iniciais
de outras palavras) de “D'us é o Rei Fiel”. É uma manifestação verbal de que a pessoa coloca sua fé no
Todo-Poderoso. Todos confiamos em alguma coisa – nossa inteligência, educação, dinheiro, poder. Na
verdade, a pessoa só pode verdadeiramente depositar sua fé em D'us. Como está escrito no Salmo
20:8: “Existem aqueles que confiam em suas carruagens e aqueles que confiam em seus cavalos, mas
nós clamamos o nome do Todo-Poderoso”.
Existem duas maneiras de como uma pessoa pode recitar uma berahá: a primeira é por rotina,
com velocidade e sem sentimento, apenas para cumprir o requisito de se recitar uma bênção. A
segunda maneira é saber as palavras e concentrar-se no significado delas, além da intenção apropriada
pela qual estamos recitando esta bênção.
Ao recitar uma berahá nos concentrando, vivenciamos uma experiência de crescimento. Isto nos
torna mais espirituais e mais profundamente conectados ao Todo-Poderoso, ao reconhecermos a Fonte
de todo o bem que recebemos e também ao expressarmos nossa gratidão por isto. (Da mesma forma
que é incumbente sobre nós agradecer a D'us por tudo o que Ele nos dá, é importante agradecermos
aos demais pelos favores que nos fazem).
Certa vez, após tomar café da manhã com um religioso não judeu, expliquei-lhe que precisava
de alguns minutos para recitar a bênção relacionada à refeição que havia comido. Ele ficou muito
animado. Sentou-se, inclinou sua cabeça para a frente e fechou os olhos. Enquanto eu recitava o Bircat
HaMazon, as bênçãos pós-refeição, a cada tantos segundos ele dizia com grande devoção:
“Sim”...“Sim”... “Sim”. Quando terminei, perguntei a ele: “Eu sei o que eu estava dizendo, mas o que
você estava fazendo?” Ele olhou para mim, com grande surpresa, e respondeu de forma simples: “Eu
estava concordando com você!”
Que possamos todos reconhecer a Fonte de nossas bênçãos e lembrar de agradecer a Ele ... e
lembrar de concordar com aqueles que o fazem!
Porção Semanal da Torá: Ki Tissá Shemót (Êxodus) 30:11 - 34:35
Esta porção semanal inclui: as instruções para realizar o censo (cada pessoa deveria doar uma moeda de
meio Shekel, as quais seriam contadas para totalizar o número de pessoas do Povo); as instruções para se fazer
o Incenso para o Mishcán (o Santuário Sagrado); a escolha de Betzalel e Aholiab para chefiarem os arquitetos e
artesãos que trabalhariam na construção do Mishcán e um mandamento especial proibindo a construção do
Mishcán no Shabat (as pessoas poderiam pensar que talvez fosse permitido violar o Shabat para realizar uma
Mitsvá...)
A Torá continua relatando a infame história do Bezerro de Ouro. O Povo, erroneamente, calculou que
Moshe estava atrasado para descer do Monte Sinai e começou a procurar um substituto para ele, fazendo um
Bezerro de Ouro (aqui há uma grande lição para nós sobre a virtude da paciência). Moshe os vê dançando em
volta do Bezerro e quebra as Tábuas da Lei. Depois pune os 3.000 malfeitores que idolatraram o Bezerro (menos
de 0,1% das 3 milhões de pessoas que ali estavam); implora a D’us que não destrua o Povo Judeu; pede para
ver a Glória Divina; e recebe as segundas Tábuas da Lei, contendo os Dez Mandamentos.
Dvar Torá: baseado no livro Growth Through Torah, do Rabino Zelig Pliskin
A Torá declara: “O Todo-Poderoso falou com Moshe dizendo: Fale ao Povo de Israel: ‘O Meu
Shabat vocês devem cumprir pois é um sinal entre vocês e Mim para todas as gerações, para que
saibam que Eu sou o Todo-Poderoso Que os torna sagrados’ (Shemót, 31:12-13)”.
Por que o Shabat (Shabes, segundo a pronuncia ashkenazi) é um sinal do relacionamento entre o
Todo-Poderoso e o Povo Judeu?
O Hafets Haim, Rabino Israel Meir Kagan (Polônia, 1839-1933), um dos maiores líderes do Povo
Judeu até o seu falecimento, trouxe duas parábolas para ilustrar como o Shabat serve como um sinal
do relacionamento entre o Povo Judeu e D'us: “Quando duas pessoas estão noivas e a caminho de
casar, elas enviam presentes uma à outra. Mesmo que dificuldades surjam entre elas, enquanto
guardam os presentes sabemos que continuam pretendendo se casar. Se devolvem os presentes,
então sabemos que o relacionamento está acabado. De maneira similar, enquanto a pessoa cumpre o
Shabat vemos que ainda mantém um relacionamento com o Todo-Poderoso. O Talmud (Shabat 10b)
descreve o Shabat como um presente especial que o Todo-Poderoso deu ao Povo Judeu. Se uma
pessoa ‘devolve’ o presente do Shabat, significa que há dificuldades neste relacionamento”.
A segunda parábola: “Quando uma pessoa abre uma nova loja, ela coloca uma placa ou aviso do
lado de fora informando a todos que tipo de negócio este estabelecimento realiza. Uma alfaiataria terá
um símbolo que demonstra que ali trabalha um alfaiate; uma sapataria terá um símbolo de que ali existe
um sapateiro. Mesmo que viaje por algum tempo, enquanto a placa permanecer afixada sobre a loja,
todos podem esperar e supor que o dono voltará. Todavia, se ele retira o emblema da loja, sabemos
que não planeja mais voltar”.
“Quando cumprimos o Shabat”, continuou o Hafets Haim, “testemunhamos que o Todo-Poderoso
criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo. Ao cumprir o Shabat proclamamos que temos esta
consciência. Alguém que falha em cumprir o Shabat remove este símbolo. Esta é a razão da
importância do Shabat”.
Um escritor judeu não religioso certa vez escreveu: “Mais do que o Povo Judeu cuidou do Shabat,
o Shabat cuidou do Povo Judeu”. Através das gerações e dos séculos o Shabat tem sido o ponto focal
da família e da comunidade. O Shabat deve estar no topo de nossos investimentos no futuro judaico de
nossas famílias! Para um bom início, tente o livro ‘Friday Night and Beyond’, de autoria de Lori Palatnik,
disponível em www.eichlers.com.

parasha kitisa

PARASHÁ KI TISSÁ `y z ik
O Bezerro de Ouro Purificado:
Liderança Equilibrada ou Uma Crise de Liderança
O tópico principal assunto desta porção semanal da Torá (Ki Tissá) é o pecado do bezerro de ouro, que é considerado o pior pecado do povo Judeu. Os comentaristas explicam que o povo não pretendia criar um substituto para D’us. Em vez disso, eles colocaram um falso líder – o bezerro – no lugar de Moshê, o qual erroneamente acreditaram que os tivesse abandonado. Assim, o pecado arquétipo do povo como um todo é o de seguir uma falsa liderança.
Purificação do Pecado da Falsa Liderança
Mesmo que os pecados sejam resultados de nosso livre arbítrio, existe uma razão mais profunda porque D’us permite que eles aconteçam. No caso do pecado do bezerro de ouro, a lição profunda que aprendemos deste pecado é a de que não importa quão longe tenhamos saído do caminho ou quão profundamente tenhamos caído, sempre podemos retornar a D’us.
Existe um verdadeiro líder em toda geração. Ele é chamado o Moshê da geração. O mais profundo retorno a D’us acontece através de conexão e identificação com o Moshê da geração, o qual recebe inspiração e instrução diretamente de D’us e fortalece nossa própria conexão com Ele.
Purificação Intrínseca
Nossos Sábios explicam que a expiação pelo pecado do bezerro de ouro era através da vaca vermelha – como se a vaca-mãe estivesse reparando o pecado de seu bezerro. Disto aprendemos que a purificação vem do próprio bezerro. Existe algo inerente no bezerro que pode causar a transformação do mau bezerro da falsa liderança no bezerro puro e sagrado da liderança da Torá.
Transformação Meditativa
Todo fenômeno negativo pode ser transformado em um fenômeno positivo correspondente através da meditação em sua essência. A essência está sempre relacionada ao nome em Hebraico do fenômeno. O nome em Hebraico
do fenômeno é o poder Divino pelo qual ele é continuamente recriado, em todo instante.
A Raiz de "Bezerro"
A palavra em Hebraico para "bezerro" l b r é egel, soletrado ayin, gimel, lamed. Esta raiz em Hebraico significa "redondo". A forma arredondada é um fenômeno neutro. Ela pode ser tanto positiva quanto negativa.
A forma redonda negativa existe quando uma pessoa segue os ciclos da natureza, sem reconhecer a Divindade e a Providência Divina no mundo. A palavra em Hebraico para "natural", teva, é também circular e significa "anel". Divindade e o caminho da Torá significam retidão. Se a pessoa está imersa somente nos ciclos da natureza, ela irá girar continuamente e jamais penetrará os limites do círculo. Este círculo também pode ser um círculo político negativo.
A forma redonda positiva é o movimento espiralar contínuo que está sempre
ascendendo em direção à Divindade.
Outra palavra com a raiz ayin, gimel, lamed l b r é agalah, "carroça". Uma carroça é qualquer tipo de veículo. A conexão óbvia da carroça à forma arredondada é as rodas giratórias.
Em Hebraico, existem sete sinônimos para o conceito de "estrada". O sétimo sinônimo para "estrada" é ma’agal, "circuito", cuja raiz também é l b r ayin, gimel, lamed. A mais importante aparição da palavra ma’agal está no Tehilim 23, "ma'aglei tzedek", no qual o Rei David suplica a D’us para levá-lo a caminhos circulares justos. A palavra tzedek, "retidão", sempre aparece em conjunção com malchut, "reinado" Sendo ma’agal o sétimo sinônimo para "estrada", ele também corresponde a "reinado". O reinado purificado é o caminho circular purificado. O Reinado precisa penetrar os ciclos e purificá-los.
Bezerro ou Jóias do Tabernáculo
A próxima palavra com a raiz l b r ayin, gimel, lamed é agil, que significa "brinco". Jóias podem ser negativas ou sagradas. Se forem usadas para aumentar a vaidade, elas são negativas e refletem o bezerro de ouro, o qual
foi feito parcialmente do ouro das jóias das mulheres no deserto. A purificação do bezerro de ouro foi à construção do Tabernáculo, cujos utensílios de ouro também foram feitos das jóias das mulheres. Quando as jóias revelam a verdadeira graça da mulher justa, isto é sagrado e reflete o santo Tabernáculo.
O Senso de Equilíbrio Purificado
Brincos podem ser usados na orelha, p f ` ozen em Hebraico. A raiz de ozen - alef, zayin, nun – significa "equilíbrio". Os dois brincos são como uma balança em perfeito equilíbrio.
Na Bíblia, a palavra ma’agal é usada em conjunto com a palavra pa’les, que significa "pesar" ou "equilibrar". Para que possamos purificar o bezerro, devemos conduzir (a palavra em Hebraico para "motorista" que também significa "líder") a carroça de maneira adequada ao longo das curvas da estrada. Um pré-requisito para uma direção firme, particularmente nas curvas, é um bom senso de equilíbrio.
Este é o segredo da purificação do bezerro de ouro. Com este senso de equilíbrio interior, o líder purificado tem um instrumento essencial com o qual atravessará os perigosos caminhos circulares do mundo e liderará seu povo à era Messiânica.
Rabbi Yitzchak Ginsburgh
Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg
RESUMO DA PARASHÁ KI TISSÁ:
A Parashá Em Uma Clipá (Casca) de Noz
SHEMOT: 30:11 – 34:35
O Povo de Israel é instruído a contribuir exatamente com meio shekel de prata para o Santuário. Instruções também são dadas relação à construção da pia de cobre do Santuário, ungindo-a de óleo e incenso. Sábios artesãos Betzalel e Ahaliav são encarregados da construção do Santuário e o povo é, mais uma vez, ordenado a observar o Shabat.
Quando Moshê não retorna quando esperado do Monte Sinai, o povo faz uma
Bezerro de Ouro e o adora. D’us propõe destruir a nação errante, mas Moshê intercede em seu nome. Moshê desce da montanha carregando as Tábuas do Testemunho gravadas com os Dez Mandamentos; vendo o povo dançando em volta de seu ídolo, ele quebra as Tábuas, destrói o Bezerro de Ouro e faz com que os principais culpados sejam mortos. Ele então retorna a D’us para dizer: "Se Tu não os perdoares, apague meu nome do livro que Tu escreveste".
D’us perdoa, mas diz que o efeito de seu pecado será sentido por muitas gerações. Primeiramente, D’us propõe enviar Seu anjo Gabriel junto com eles, mas Moshê insiste para o próprio D’us acompanhe Seu povo à Terra Prometida.
Moshê prepara um novo conjunto de Tábuas e mais uma vez sobe a montanha onde D’us reescreve o pacto nas Segundas Tábuas. Na montanha, a Moshê também é concedida a visão dos Treze Atributos Divinos de Misericórdia. Tão radiante é a face de Moshê ao retornar, que ele precisa cobri-la com um véu, o qual ele remove somente para falar com D’us e para ensinar Suas leis ao povo.
NA MESA DE SHABAT
A Vaca Vermelha
Incluindo a Todos
Muitos assuntos aparecem na Parashá desta semana [1]. Há a história do Bezerro de Ouro e de como Moshê implorou a D'us por perdão em nome de seu povo. Mas, antes destes importantes eventos, há uma passagem que poderia passar despercebida e que nos fala algo sobre como a Torá vê a comunidade judaica. Isto está relacionado à preparação do formoso incenso aromático que era queimado no pequeno altar de ouro no Santuário e, depois, no Templo, todos os dias do ano.
Como explicado pelos Sábios, há ao todo onze elementos no incenso. Quando os examinamos bem de perto, algo se mostra intrigante. Nós esperaríamos que a fragrância de cada um dos ingredientes fosse o que há de melhor. E
assim era, com uma exceção. Chamado de chelbana (galbanum), este, de fato, tinha um odor desagradável.
Por quê um ingrediente como este seria incluído no incenso do Templo? A Tora deixa bem claro que cada um deles era essencial: se qualquer ingrediente estivesse faltando, toda a mistura seria inválida.
Disto, nós aprendemos uma importante lição. Os Sábios nos dizem que os diferentes ingredientes do incenso representam os diferentes tipos de Judeus. A especiaria com odor desagradável representa alguém cujas ações são menos que perfeitas. Ele pode ser, de várias formas, um transgressor, uma pessoa cuja vida está, infelizmente, em desacordo com os ensinamentos da Torá. Ele pode ser uma pessoa "espinhosa" e anti-social de várias maneiras. Mas a composição do incenso nos diz que ele faz parte do Povo Judeu tanto quanto qualquer outro. De fato, se ele estiver faltando, se nós o deixarmos sentir-se distante e excluído, então nós não estaremos funcionando adequadamente como um povo.
Isto também está relacionado ao tema mais adiante na Parashá: o pedido a D'us por perdão. Os Rabinos afirmam que num dia de jejum, quando estamos todos implorando por misericórdia a D'us, os "transgressores" também devem
estar presentes [2]. No início da reza do Kol Nidre, nós anunciamos isto. Nós somos um povo reunido, e somente sendo um, nós podemos nos aproximar de D'us. Do ponto de vista de D'us, todos estão incluídos.
A Vaca Vermelha (Bezerro)
Esta semana, nós lemos, em um segundo rolo de Torá, sobre a Vaca Vermelha [3]. Isto expressa parte de nossa preparação para Pessach quando todo o Povo ia a Jerusalém.
Para poder entrar no Templo, uma pessoa precisa estar totalmente pura. Ao longo da vida, nós nos tornamos impuros a partir de eventos como, p.ex., ter contato com os mortos. As cinzas da Vaca Vermelha eram usadas para purificar o povo através de uma cerimônia especial.
Isto também nos ensina algo sobre a comunidade judaica. A Vaca Vermelha era um tipo muito sagrado de sacrifício. Mas, em vez de ser oferecida no Altar dentro do Templo, ela era sacrificada e queimada fora da área do Templo. Os ensinamentos chassídicos explicam porquê está importante
cerimônia era executada do lado de fora. D'us está preocupado com aqueles que estão "de fora". Ele quer que todos façam parte do conjunto [4].
Referências:
1. Shemot 30:11-34:35.
2. Ver Rashi sobre 30:34 e Likkutei Sichot do Lubavitcher Rebbe, vol. 19 p.
303.
3. Vayikra cap. 19.
4. Ver Tanya IV cap. 28 e Likkutei Sichot vol. 19 págs. 420-421.
Dr. Tali Loewenthal, Diretor do Chabad Research Unit, Londres
Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg
NO JARDIM DA TORÁ
Em Direção A Um Propósito Além De Nossa Concepção
1. O Caminho Para Cima
O nome da leitura desta semana, Ki Tissá, levanta uma questão. Literalmente, Ki Tissá significa "quando tu ergueres" e se refere à elevação das "cabeças dos filhos de Israel". Já que a maioria da leitura se centraliza no pecado do Bezerro de Ouro e suas conseqüências, poderíamos perguntar: Como pode este terrível pecado contribuir para a elevação do Povo Judeu?
O pecado do Bezerro de Ouro representa uma descida trágica. A impureza transmitida pelo pecado da Árvore do Conhecimento saiu das almas do Povo Judeu na Entrega da Torá, mas retornou depois do pecado do Bezerro de Ouro. Portanto, este pecado é a fonte de todos os pecados subseqüentes. Da mesma forma, todas as punições sofridas pelo Povo Judeu através dos séculos estão conectadas a este pecado. Que lugar pode um evento como este ter em uma Parashá cujo nome indica a ascensão dos judeus?
2. Para Que O Homem Se Torne Mais Do Que Homem
Para responder esta questão, nós devemos expandir nossa estrutura conceitual, pois o estado ao qual D'us deseja levar a humanidade está acima
da concepção humana comum. Isto é indicado pela expressão: "Quando tu ergueres as cabeças"; "as cabeças", o intelecto humano, deve ser elevado.
A essência de nossas almas é "uma parte real de D'us" e D'us deseja que o homem transcenda a si próprio e vivencie este potencial Divino. Além disso, a intenção não é meramente a de nos elevarmos acima de nosso intelecto humano, mas que "ergamos as próprias cabeças", transformemos nossas mentes. Experimentar uma conexão supra-racional com D'us não é suficiente; nossos próprios pensamentos, a maneira pela qual entendemos o mundo, devem abranger a Verdade que transcende o intelecto.
3. Uma Jornada Planejada Por D’us
O intelecto é uma encruzilhada. Por um lado, é a faculdade que permite à humanidade crescer e expandir seus horizontes. Por outro lado, um intelecto mortal é, por definição, limitado. Ademais, todo intelecto está enraizado no ego; quanto mais alguém entende, mais forte seu sentimento de individualidade se torna.
Seguir nosso próprio entendimento pode nos levar a ver a existência material ou, pelo menos, alguns de seus aspectos, como sendo separada de D'us. Nossas mentes podem entender como certas entidades e experiências podem servir como canais para a expressão da Santidade. Outras entidades e práticas materiais, entretanto, parecem ser estranhas àquele propósito e nós rejeitamos a possibilidade de que elas também possam servir a esta função.
Indo por este caminho ao extremo, alguns modos de serviço a D'us se esforçam a evitar o confronto entre a existência material no geral, ficando, em vez disso, dentro do domínio do espiritual. Apesar de existirem certas virtudes nesta abordagem, ela contém um defeito inerente: ela encoraja a noção de que a realidade material existe separada da santidade.
A verdade final, as "alturas" às quais as cabeças dos judeus devem se elevar, é a de que todo aspecto da existência pode expressar a verdade de Seu Ser. Isto é refletido na descrição da Torá sobre os esforços de Avraham para espalhar a consciência da existência de D'us: "E ele proclamou o nome de D'us, o Senhor eterno". O versículo não afirma mlerd l-` "D'us do mundo", que poderia indicar que D'us é uma realidade para Ele mesmo e o
mundo é uma realidade separada para ele mesmo. Em vez disso, ele afirma mlerd l-`, indicando que a Divindade e o mundo são um.
Mesmo depois que este impulso é aceito, entretanto, existem certos aspectos do ser que parecem separados d’Ele. Existirá Divindade na maldade, por exemplo? E, se existir, como pode o homem fazer com que esta Divindade seja revelada?
Apesar dos mortais não poderem conceber um ponto de convergência entre a maldade e a santidade, D'us pode. De fato, ele traça caminhos que levam cada indivíduo e o mundo em geral a tal interseção. Com a Providência Divina, Ele cria situações nas quais nenhum homem justo entraria voluntariamente, forçando-o a se envolver com (e, assim, elevar) os interesses materiais mais básicos.
Esta é a intenção da ordem de "erguer as cabeças dos filhos de Israel"; que mesmo dentro do domínio caracterizado pela separação, maldade e ego, pode surgir uma consciência da ilimitada verdade espiritual de D'us.
4. A Intriga Terrível de D’us
Neste caminho, o pensamento chassídico descreve o pecado como "uma terrível intriga planejada contra o homem". Os judeus, por natureza, estão acima de qualquer conexão com o pecado. Se o yêtser hará de alguém subjugá-lo e fazê-lo pecar, isto é porque o yêtser hará foi empurrado das Alturas para levá-lo a este ato. Isto é intencional, "uma intriga horrível" planejada por D'us para produzir uma união mais elevada e mais completa entre D'us, aquele indivíduo e o mundo em geral.
Em sua explicação da declaração de nossos Sábios de que "No lugar do baalei teshuvah, mesmo o mais completamente justo dos homens não pode alcançar", o Rambam [Maimônides] afirma que os baalei teshuvah estão em um nível mais alto porque "eles vencem melhor sua má inclinação". Os justos não têm de se esforçar tanto contra suas más inclinações; por serem justos, sua má inclinação é anulada. Um baal teshuvah, por outro lado, possui uma poderosa má inclinação como evidenciado por seu pecado e, mesmo assim, ainda deseja se ligar a D'us.
Além disso, nossos sábios ensinam que a teshuvah transforma em méritos mesmo os pecados que uma pessoa comete intencionalmente. Isto eleva os
mais baixos aspectos da existência que produzem sustento do domínio da kelipah e os traz a uma ligação com D'us.
Por quê um baal teshuvah tem o potencial de elevar aspectos da existência que estão, por natureza, distantes da Divindade? Porque, para que se esforcem na teshuvah, uma pessoa deve tocar seus mais profundos recursos espirituais, aquela alma que é "uma parte real de D'us". Quando ele atinge este ponto, ele é capaz de apreciar que nada está separado d’Ele. E, em sua vida, ele é capaz de mostrar como cada elemento da existência expressa Sua Verdade.
Este processo é um exemplo do padrão "uma descida com o propósito de uma ascensão". Nossa subida àqueles picos que nosso intelecto não pode atingir sozinho envolve uma descida a níveis que nosso intelecto normalmente rejeitaria.
5. Três Fases
Baseado no exposto acima, nós podemos apreciar a seqüência da Parashá Ki Tissá. O objetivo da ascensão do Povo Judeu é declarado no versículo inicial. Mais tarde, a leitura continua com as ordens finais para a construção e inauguração do Santuário, a oferenda de incenso e a entrega das Primeiras Tábuas. Todos estes assuntos refletem uma conexão com D'us acima dos limites da experiência comum.
Para que esta conexão penetre o domínio terrestre, e para que ela permeie até mesmo os mais baixos aspectos da existência, segue-se à narrativa do Pecado do Bezerro de Ouro e a quebra das Tábuas. Esta terrível queda motivou o Povo Judeu a voltar para D'us em teshuvah, evocando uma terceira fase: a revelação dos Treze Atributos de Misericórdia, um nível totalmente ilimitado de Divindade que abrange até mesmo os mais baixos níveis.
Este elevado clímax encontra expressão na entrega das Segundas Tábuas e o evento final mencionado na Parashá desta semana, o brilho do semblante de Moshê.
O brilho da face de Moshê manifestou a fusão final do físico e do espiritual. Luz Divina brilhava do corpo físico de Moshê.
6. E Finalmente, Ascensões Sem Descida
Ciclos semelhantes de descidas e subidas formaram a história de nosso povo. O objetivo deste processo é uma união final entre o espiritual e o material, a Era da Redenção, quando "o mundo será preenchido pelo conhecimento de D'us como as águas cobrem o leito do oceano".
Quando visto neste contexto, todos os anos de exílio parecem meramente "um momento fugaz". Pois o exílio não tem nenhum propósito nele ou dele. Ele é meramente um meio de evocar uma conexão mais profunda com D'us e um meio que permite que a ligação permeie todo aspecto da experiência. Quando este objetivo é atingido, o exílio acabará; para citar o Rambam: "A Torá prometeu que no final de seu exílio, Israel se arrependerá e imediatamente será redimido".
E, então, começará uma subida sem fim, como está escrito: "Eles avançarão de força em força e aparecerão perante D'us em Tsyion".
(Adaptado de Likkutei Sichos, Vol. XVII, p. 410 ff; Sichos Shabbos Parshas Ki Sissa, 5751, 5752)
Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg
RESUMO DA HAFTARÁ KI TISSÁ
I MELAHIM: 18:1-39
A Haftará de Ki Tissá registra o famoso confronto entre Eliáhu e os profetas de Baal. Mas a acusação de Eliáhu recai mais pesadamente sobre o Povo Judeu por sua indecisão do que contra os "profetas" por sua idolatria. O desafio com o qual ele os enfrentou está em sua pergunta: "Por quanto tempo mais vocês hesitarão entre duas opiniões?" Por quê, então, ele próprio se dirigiu contra homens de dividida lealdade mais do que contra aqueles que eram positivamente antagônicos ao Judaísmo? O Rebbe examina os dois pecados de hesitação e idolatria e mostra até onde a hesitação envolve traição dos valores religiosos e as formas que ela acontece nas sociedades modernas.
1. O Desafio
A Haftará de Ki Tisah contém um relato da resposta do profeta Eliáhu a um período turbulento da história judaica, uma situação engendrada, como
sempre, pela confusão mental e imprecisão ideológica. Sua ação foi reunir os profetas de Baal e o Povo Judeu e perguntar a eles: "Quanto tempo mais vocês hesitarão entre duas opiniões?"
Por quê, então, ele colocou este desafio para eles? Ele deveria, em face disto, ter dito: "Quanto tempo mais você adorarão a Baal? O momento chegou de parar e dizer: O Senhor, Ele é D'us".
Para entender a intenção de Eliáhu, nós devemos começar olhando a diferença entre idolatria e hesitação.
2. As Raízes da Idolatria
De fato, é difícil entender como um Judeu pode sequer pensar em praticar idolatria. Os Judeus são chamados "aqueles que acreditam, filhos daqueles que acreditam". Sua natureza exclui a possibilidade de uma genuína negação de D'us.
Rambam [Maimônides] atribui a origem da idolatria ao fato de que a energia criativa com a qual D'us sustenta o universo é canalizada através de forças naturais – as estrelas e os planetas. A idolatria começa quando estes intermediários são eles mesmos adorados como governantes do destino humano, embora, na verdade, eles sejam apenas instrumentos de D'us, sem nenhum poder próprio deles. Eles são como "um machado na mão do lenhador".
A Chassidut explica a diferença entre um pai e uma mãe e as influências planetárias. Ambos parecem ser causas de nossa existência. E, ainda assim, nos é ordenado honrar nosso pai e nossa mãe e nos é proibido adorar as estrelas. O motivo é que mães e pais têm livre arbítrio. Criando filhos, eles são responsáveis e eles são honrados. Mas os planetas e seus movimentos são determinados. Eles não têm escolha. Nossa gratidão pertence não a eles, mas a Ele que os criou.
A idolatria, portanto, erra ao trocar o intermediário com a fonte. É um dos mais sérios pecados, tanto que o Talmud relata: "Idolatria é um pecado tão grave que rejeitá-la é como se alguém assumisse o compromisso com toda a Torá". O impulso pela idolatria acontece quando, de acordo com este conceito errado, alguém recebe benefícios materiais ao aceitar as forças naturais. Isto é: a idolatria sempre tem motivos velados. E é por isto que um Judeu pode ser levado a praticá-la. Ele não está comprometido com a idolatria per si. Ele a está usando como um meio para seus próprios fins. Quando ele serve
a D'us, ele o está fazendo "não com a condição de receber uma recompensa", mas em Seu próprio mérito e de todo coração. O desejo pela recompensa material está no coração da adoração de Baal e nós encontramos os idólatras dizendo a Irmiáhu: "Desde que nós paramos de queimar incenso (para os ídolos) ... têm-nos faltado todas as coisas e nós temos sido consumidos pela espada e pela fome".
3. A Natureza da Hesitação
Apesar desta caracterização geral da idolatria com uma tentativa de influenciar a natureza pela adoração de forças naturais, há uma diferença entre idolatria e "hesitação entre duas opiniões".
Idolatria envolve a crença genuína de que objetos de adoração - as estrelas e os planetas - são as fontes de bem-estar material. Mas alguém que hesita está na dúvida. Às vezes, uma sensação desconfortável o incomoda de que a idolatria é montada em uma ilusão. Ou pode ser que ele acredite que D'us e as forças da natureza estão em parceria. Ele acredita em ambos, e que ambos
devem ser adorados. Entretanto, idolatria, mesmo em sua forma sutil, e mesmo que seja somente pela palavra ou por atos, sem qualquer compromisso interior, é um pecado tão grande que está na natureza de um Judeu estar preparado para sacrificar sua própria vida em vez de participar dela.
4. Níveis de Traição
De várias formas, hesitação é até pior que a verdadeira idolatria. Em termos gerais, idolatria é um ato mais grave. Ela envolve a absoluta negação de D'us, em completa oposição ao Judaísmo. Mas é mais difícil à mente hesitante voltar ao Judaísmo ou fazer seu retorno de forma sincera e completa.
Por dois motivos.
Primeiramente, quando aquele que genuinamente acredita na idolatria chega a ver que "o Senhor, ele é D'us", ele percebe até que ponto sua vida prévia foi construída em erro. Ele sente a extensão completa de seu pecado. Seu arrependimento é profundo. "Ele retorna e ele é curado".
Mas, o hesitante não pode enxergar assim. Ele justifica a si próprio. Ele diz: "Eu não neguei, eu somente duvidei. E minha dúvida foi somente superficial. Na verdade, eu era, como todos os Judeus, alguém que acredita". Suas desculpas o protegem do remorso, e seu retorno à fé é incompleto.
Em segundo lugar, apesar do idólatra ser culpado de um erro massivo de julgamento ao substituir D'us por Baal, e, assim, danificar sua relação com D'us, ele está, apesar de tudo, aberto a algum tipo de espiritualidade. Mas, a pessoa que paira entre duas opiniões, removeu a si mesma da noção geral de espiritualidade. Apesar dela saber que "o Senhor, Ele é D'us", ela está desejosa de abandoná-Lo em prol da recompensa material. Ela está pronta para trocar a "fonte das águas vivas" pelas "cisternas quebradas que não podem conter nenhuma água".
Assim, quando eles perceberem seu engano, sua resposta será diferente. O idólatra, ainda capaz de espiritualidade, fará de seu retorno um ato espiritual. Mas o homem hesitante retornará pelo motivo errado. Ele queria benefício material. Ele se enganou ao pensar que as forças da natureza, ou eles próprios, poderiam provê-lo. Portanto, ele, de fato, retorna a D'us, mas ainda desejando somente os benefícios materiais.
5. O Próprio e os Outros
Até aqui, falamos somente sobre o indivíduo. Em outro aspecto, a hesitação é pior que a idolatria – em seus efeitos sobre os outros.
O idólatra completo não influenciará o Judeu que crê, pois seu antagonismo à verdadeira fé é óbvio e o isola. Mas a pessoa que oscila entre duas opiniões é, em parte, ainda um crente. Ele é capaz de desviar os outros e o ato de "fazer com que muitos pequem" é o pior de todos os pecados.
6. Lealdades Divididas e o Presente
O Talmud diz que o ímpeto da "Má Inclinação" em relação à idolatria já foi removido. Mas a tendência em relação à hesitação, seja em público ou de forma sutil, é hoje mais forte do que em relação à idolatria.
Há aqueles que temporariamente se afastam da Torá e dos mandamentos em nome do benefício material: dinheiro, honra e status social. Eles deixam D'us e as leis de lado por um tempo, se isolam de forma a não se sentirem fora de contato com a atualidade. Eles seguem a máxima contemporânea do mundo ocidental que regras podem ser dobradas e tradições renegadas em nome do elusivo "espírito da época". E eles estão preparados temporariamente para vender D'us e suas almas por efêmero status ou por dinheiro que (por não virem como uma bênção Divina) deles escapam novamente em pagamentos a médicos e psicanalistas.
Esta hesitação, esta dupla tendência, é pior do que idolatria, como já vimos.
Primeiro: É mais difícil fugir dela com um verdadeiro retorno, pois a mente dividida esconde de si mesma o fato de que pecou. Tal pessoa pode racionalizar. Ele pode convencer a si mesmo que, em geral, ele é um bom Judeu. O que é tão ruim – ele se diz – em dobrar algumas regras de vez em quando em nome do seu próprio sustento?
Segundo: Sua integridade é destruída. Ele vendeu o espírito pelo mundo material. Ele trocou a eternidade por um momento passageiro. Ele trocou o Mundo Vindouro pelo brilho do dinheiro e a sombra da honra.
Terceiro: Ele leva outros ao pecado. Se ele negasse abertamente o Judaísmo, ele interromperia seu contato com o ambiente judaico. Mas ele esconde sua oposição por trás de uma máscara de lealdade. Ele até cita a Torá em sua defesa. Ele infiltra a comunidade e leva os outros para o caminho errado.
7. O Caminho do Retorno
Este é o significado da Haftará. O desafio primário do Judeu é "Por quanto tempo vocês hesitarão entre duas opiniões?" Sentar sobre o muro é pior do que cruzar para o outro lado.
No fim da Haftará, nós lemos que os Judeus retornaram em arrependimento e disseram, duas vezes: "O Senhor, Ele é D'us. O Senhor, Ele é D'us". Isto foi mais até do que o momento da revelação no Sinai, quando foi dito somente uma vez "Eu sou o Senhor, teu D'us". Pois o arrependimento leva o Judeu ainda mais alto em espírito do que onde ele estava antes de pecar.
Esta é a óbvia implicação para os dias de hoje. A necessidade retornar e atingir as alturas do espírito.
Todos os judeus estão conectados. E a luz daqueles que retornam atingirá aqueles que eles fizeram pecar. Eles serão respondidos com uma resposta Divina de compaixão e misericórdia. E os líderes e os liderados serão agrupados em um movimento coletivo de retorno, com uma voz única que proclama: "O Senhor, Ele é D'us. O Senhor, Ele é D'us."
(Fonte: Likkutei Sichot, Vol. I págs. 183-187)
Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg
HORÁRIO DE ACENDIMENTO DAS VELAS DE SHABAT
Início do Shabat (Sexta-feira).
16 de ADAR I de 5768 (22 de FEVEREIRO de 2008)
Acender as velas ANTES do horário indicado
Rio de Janeiro S. Paulo P. Alegre Brasília Belém Salvador
18:06 18:21 18:46 18:22 18:12 17:40
Final do Shabat (Sábado).
17 de ADAR I de 5768 (23 de FEVEREIRO de 2008)
Rio de Janeiro S. Paulo P. Alegre Brasília Belém Salvador
19:15 19:31 19:55 19:29 19:22 18:50
Na Sexta-feira, acenda as velas somente ANTES do horário indicado.
Ao ascender às duas velas kasher, primeira a da direita e depois a da esquerda, faz-se três movimentos circulares com as mãos, de fora para dentro em volta das velas, e em seguida cubra os olhos com as mãos e fale a seguinte bênção:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner shel Shabat kodesh.
Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou acender a vela do sagrado Shabat.
Ato contínuo, descubra os olhos e mire as chamas das velas. Reflita sobre a alegria em receber o Shabat; agradecendo a D’us por todas as bênçãos e pelo mérito de podermos cumprir a sua vontade.
PARASHÁ KI TISSÁ `y z ik
Shemot: 30:11 - 34:35
É possível ver D’us?
A parashá da semana nos dá dois argumentos a favor e dois contra. O primeiro argumento contra é visto na condenação à construção do Bezerro de Ouro, através do qual se pretendia construir um deus físico e material. O segundo aparece mais tarde, quando Moshê pede a D’us para vê-Lo: "Hareni na et kevodêcha" — Mostra-me a Tua honra; e D’us responde: "Ló tuchal lirot et Panai" – Não poderás ver o Meu rosto.
Contudo, Maimônides aponta em seu livro filosófico, Moré Nevuchim (O Guia dos Perplexos) que esse diálogo entre D’us e Moshê é mais complexo. No texto bíblico, por duas vezes Moshê se dirige a D’us com seu pedido para vê-Lo. Na primeira ele diz: "Hareni na et kevodêcha" — Mostra-me a Tua honra; e na segunda ele pede: "Hodiêni na et derachêcha" — Mostra-me os Teus caminhos.
Vemos que D’us dá seguidamente duas respostas, uma clara e contundente que já mencionamos: "Não poderás ver o Meu rosto"; e outra, confusa e estranha: "Eu derramarei todo o Meu bem".
Ambas são concluídas em um ato prático no qual D’us tapa o rosto de Moshê, passa diante dele e logo permite que ele veja como se fossem as Suas costas ou o que restou da Sua passagem; a conseqüência, o resultado. Maimônides explica esta estranha e confusa passagem dizendo que Moshê pediu para ver duas coisas distintas e por isso recebeu duas respostas diferentes. Ao pedir para ver a Honra de D’us, Moshê está pedindo para ver a essência Divina, o próprio D’us; e a isso D’us responde que ele não poderá. Porém ao pedido para ver os caminhos de D’us, a conduta Divina, a ética e o bem de D’us, Ele lhe responde que o verá derramado pelo mundo inteiro.
Em outras palavras, é possível ver D’us, conforme Maimônides entende que diz a parashá, mas não desde um ponto de vista mágico, místico nem teológico, ou seja: não como corpo, não como matéria e não em Si Mesmo, em tudo o que D’us é. Somente se pode ver o resultado das ações Divinas, pode se ver a ética Divina realizada na terra.
Mas, cabe aqui perguntarmos: acaso se pode ver isso? O mundo não está cheio de mal, injustiça, sofrimento e dor? Por acaso esta é a bondade Divina?! Esse é o resultado da Sua ética?!
Aqui chegamos ao aspecto mais profundo da interpretação maimonideana que se baseia na literatura talmúdica: somente se percebem os atributos Divinos quando os praticamos. Somente vemos D’us quando tentamos imitá-Lo e nos comportamos como Ele.
Vejamos a grandeza desta reflexão: Não vemos D’us fora de nós, mas sim no momento em que realizamos o melhor de nós em um ato de bondade.
Aqui chegamos ao segundo argumento que a parashá nos dá a favor da possibilidade de ver o Divino no físico-material: Betsalel, o artista plástico do Santuário, é reconhecido nesta parashá como se fosse um profeta que conta com a sabedoria Divina, com o espírito do próprio D’us, ao fazer seu trabalho manual. O próprio D’us, que havia proibido nos Dez Mandamentos a produção de estátuas e de toda imagem, e que nesta condenou o Bezerro de Ouro, nomeia o artista plástico do Santuário: um Profeta. Por sua arte material.
Como assim?
Porque também Betsalel não pretende dizer que a sua obra é D’us. Betsalel não fabrica um D’us. Ele não deifica seus atos e muito menos a si mesmo como criador deles; ao contrário. Ele procura expressar a sua intenção interior de chegar a se comunicar com o Divino, a sua sabedoria e visão interna, por meio de sua arte externa.
Não podemos nem precisamos ver um corpo Divino, uma matéria Divina. Nem na arte, nem nas pessoas, tampouco no mundo do espaço. Mas podemos e devemos realizar o Divino em nosso sentimento interior e em nossa ação concreta para com os demais e para com o mundo.
Shabat Shalom
Rabino Ruben Sternschein
PARASHÁ KI TISSÁ `y z ik
Shemot: 30:11 - 34:35
A leitura desta semana, Ki Tissá, fala sobre o pecado do bezerro de ouro, e a haftará, que ressoa a mensagem da leitura da Torá, relata o confronto entre o profeta Eliáhu e profetas da falsa deidade, Baal.
Naquela época, a maioria dos judeus idolatrava o Baal. Entretanto, eles não renunciaram por completo à sua ligação com a herança judaica. Ao invés disso, eles alternavam estas duas formas de culto, por vezes seguindo as orientações da Torá, e, outras ocasiões, revertendo ao paganismo.
O profeta Eliáhu repreendeu o povo: "Por quanto tempo vocês ficarão em cima do muro? Se D’us é o Senhor, sigam-No, e se é Baal, então sigam a ele."
O povo permaneceu em silêncio, e, então, Eliáhu lhe propôs um teste. Os profetas de Baal ofereceriam um touro a Baal, enquanto Eliáhu ofereceria um touro a D’us. Não seria aceso nenhum fogo sob cada sacrifício. O touro sobre qual descesse um fogo dos Céus seria aceito.
O povo e os profetas de Baal concordaram com o teste, e os dois touros foram sacrificados. Os profetas de Baal se sentiram desamparados, visto que não tiveram resposta a suas invocações. E quando Eliáhu pediu a D’us uma resposta, um fogo intenso desceu dos Céus. Quando o povo viu este milagre, proclamou em uma única voz: "D’us é o Senhor."
O desafio que Eliáhu propôs ao povo judeu merece consideração: Como ele pôde ter lhe dito "Se é Baal, então sigam Baal?" Aparentemente, é melhor para uma pessoa ficar "em cima do muro" do que servir completamente a Baal. Com certeza, ficar sobre o muro não é uma posição desejável, mas para alguém que não está preparado a assumir um compromisso, ela apresenta certas vantagens. Ele não abandonou por completo o Judaísmo. A porta está aberta para ele a qualquer hora, e ele, às vezes, até entra. Por que Eliáhu diz a alguém assim para seguir Baal?
Existem desvantagens muito grandes em se permanecer em cima do muro, e foi isto que motivou a declaração de Eliáhu. Primeiramente, a
pessoa que está em cima do muro terá dificuldade em assumir um compromisso sincero com o Judaísmo. Quando alguém serve a Baal de todo coração, ele está cometendo um grave erro, porém ele é sincero em sua busca espiritual. E, assim, existe a chance de que, em algum momento, ele perceba que está desorientado em seu serviço e busque alternativas.
Quando, no entanto, a pessoa permanece em cima do muro, ela não leva nenhuma das duas possibilidades a sério. Fosse ela sincera em servir a D’us ou a Baal, ela veria que o culto a ambos não pode se misturar. Mas porque falta sinceridade a esta pessoa, será difícil ela entender o seu erro. Ela tende a permanecer em cima do muro para sempre.
Outra dificuldade que surge é a imagem que a pessoa passa aos outros. Quando alguém acredita sinceramente em Baal, não é certo que ele consiga convencer outra pessoa a segui-lo. É improvável que um judeu opte por este caminho. O complacente caminho do meio, no entanto, é socialmente aceitável e pode ser muito atrativo.
Eliáhu era capaz de motivar os judeus à "saírem de cima do muro." Seu compromisso zeloso em encarar a verdade motivou a nação inteira a buscar a verdade e aceitar um confronto — através do qual ficou claramente estabelecido que "D’us é o Senhor."
Congregação Monte Sinai

parasha vaiac

PARASHÁ VAIAC´HEL ldwie
E convocou
Shabat: Proteção da Congregação.
Energia: Chessed de Netzach - Compartilhando a Perseverança
Meditação: Sabemos que Chessed está associada à busca do que é elevado e isso irá nos ajudar a diferenciar a persistência da teimosia. A persistência sempre tem por objetivo algo sublime, algo que nos aproxima de Ha-Shem, que desenvolve uma virtude, que contribui para o nosso crescimento e para o crescimento das pessoas ao nosso redor. Sempre que estamos próximos de uma revelação luminosa as forças assediadoras investem em mil obstáculos para que nos desviemos do caminho ou desistamos dele. Manter os olhos fixos no outro lado da ponte é um conselho muito útil nestes momentos. A teimosia, por outro lado, reflete um desejo do ego, a necessidade de auto-afirmação, a conquista de um bem ou um status que estimula a nossa vaidade e nos distancia da Luz, logo, é sempre prejudicial. Ao ter esta consciência, devemos compartilhá-la, ajudando as outras pessoas a serem também perseverantes, principalmente no caminho espiritual. Sempre que vemos alguém desanimado ou perto de desistir de algo positivo, é muito importante que tentemos incentivá-la a continuar. E uma das melhores formas é procurarmos ser sempre motivados e alegres, sendo um exemplo de perseverança. Dessa forma passamos esta energia para todos ao nosso redor e os incentivamos. Uma das maiores qualidades de um líder é conseguir motivar as pessoas.
Exercício: Faça uma avaliação sincera de suas metas, procure entre elas as que você insiste em alcançar por teimosia e as descarte sem olhar para trás. Reflita se você consegue despertar a perseverança nos outros. Seja um bom exemplo, procure motivar as pessoas ao seu redor.
Tehilim: 61
Torá: Shemot: 36:20 - 37:16
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VAIAC´HEL
Proteção do tabernáculo e da congregação
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HAIA
Misericórdia
Ocultar
Domina a política e as influências da opinião pública
Torna os juízes favoráveis e protege os contemplativos
Tehilim 118
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YELAH
Eternidade
Doçura no julgamento
Tehilim 118
PARASHÁ VAIAC´HEL ldwie
E reuniu Moshé toda a congregação dos filhos de Israel e disse-lhes: Estas são as coisas que o Eterno ordenou que se fizessem. "Seis dias se fará trabalho, e no sétimo dia haverá para vós santidade, sábado de repouso ao Eterno; todo aquele que nele fizer trabalho será morto. Não acendereis fogo em todas as vossas habitações no dia de sábado". Shemot 35:1-3.
Vaiac´hel e Pecudê (a parashá seguinte) são lidas juntas nos anos comuns e separadas nos anos com a presença de Adar II. Vaiachel segue Ki Tissá, onde é narrado o pecado do bezerro de ouro. Em função disso este Shabat ganha o nome de Shekalim.
No começo de Vaiac´hel, Moshê reúne a congregação para que cada membro dê a sua contribuição para a construção do Tabernáculo (metais, tecidos, madeira, etc.). Diante de tão grandiosa obra, é de se imaginar que não haveria nada mais importante naquele momento do que finalizá-la. No entanto, o Eterno ordena que o trabalho seja interrompido no Shabat, o que indica que o tempo sagrado (o Shabat) prevalece sobre o espaço sagrado (o Tabernáculo).
Já comentamos anteriormente (parashá Terumá) que o Tabernáculo não foi construído para que a Shechiná se manifestasse nele (no Tabernáculo), mas entre eles (os filhos de Israel), mas não é só isso: não se trata de uma reflexão sobre o Shabat e o Tabernáculo, mas da importância do tempo e do espaço como um todo.
Quando falamos de espaço, não estamos nos referindo apenas a uma área, como uma sala, uma casa ou um campo. Espaço, aqui, se refere a tudo o que ocupa lugar no mundo físico, tudo o que pode ser avaliado pelos nossos sentidos.
Quando alguém se dedica por algum tempo a alguma atividade, as pessoas perguntam "o que você vai ganhar (ou está ganhando) com isso?", ou seja, o tempo, na cabeça da maioria das pessoas, deve oferecer algum retorno no mundo físico - o que nem sempre é possível mensurar.
A Tradição nos ensina que o Eterno é percebido no tempo, e não no espaço. A percepção do sagrado no espaço é uma das armadilhas da contra inteligência, daí o pecado do bezerro de ouro.
D’us é o que está acontecendo e a dificuldade em percebê-Lo está na dificuldade de todo ser humano em trazer a sua consciência para o aqui e o agora. Estamos em casa pensando no trabalho; estamos no trabalho pensando em voltar para casa. Estamos em uma reunião com a cabeça na próxima - ou no que deixamos de falar na reunião anterior. Se D’us é o que está acontecendo, estamos constantemente nos desencontrando..
A Amidá mais "forte" é a mais difícil de ser cumprida: a Amidá de Minchá. A Amidá de Minchá acontece de tarde (minchá), no auge do nosso processo produtivo. Parar tudo para rezar é um grande desafio para muitos. Exceto por algumas orações complementares, as Amidót da manhã, da tarde e da noite são essencialmente as mesmas. O "corpo" da Amidá são as 18 bênçãos. Por que a Amidá da tarde seria mais "poderosa"? Porque quanto maior o obstáculo, maior a possibilidade de revelação da Luz.
O Shabat começa na noite de sexta-feira e segue até a noite de sábado, com o ritual de Havdalá. Para muitos judeus, a Shabat se resume aos rituais e a proibição das 39 categorias de trabalho (melachá), afinal é o dia em que o Eterno "descansou". Esta é uma visão limitada do processo.
Algumas pessoas seguirão à risca as 39 proibições e não terão vivido o Shabat. Outras, acenderão luzes em casa, farão uso do computador e carregarão caixas, entre outras coisas, e o Shabat será uma experiência intensa para elas.
Qual o mistério? Depois de uma semana de trabalho, o Shabat não é um dia para se descansar, mas para se apreciar a obra. Não basta estar de corpo presente em um ritual de Cabalat Shabat, é preciso comprometer a mente e o coração. A palavra-chave para o Shabat é menuchá ("tranqüilidade"), um estado de espírito, alcançado quando voltamos a nossa atenção para a Shechiná.
Viver o Shabat é estar plenamente consciente do seu momento, livre das cobranças dos dias comuns. Se passamos a semana buscando dominar o
mundo, este é o dia para nos deixar dominar - dominar pela plenitude da Luz Espiritual que se encontra mais abundante neste dia.
Imagine um rio com uma forte correnteza. Você se serve deste rio captando a sua água para as suas necessidades diárias (alimentação, higiene, etc.), mas não pode nadar nele, sob o risco de ser levado e morrer. Imagine agora que uma vez na semana esta correnteza cessa, o que lhe dá a oportunidade usufruir do rio de uma outra forma: você pode se banhar em suas águas, deslizar na sua superfície ou explorar os pontos mais profundos com segurança. Este é o espírito do Shabat.
Comece nesta semana a fazer do seu Shabat uma experiência diferente. Há muito mais o que ser discutido
Vaiac´hel é a primeira parashá regida pela sefirá Netzach, que traz a energia da imortalidade, da meta alcançada e do dever cumprido. Este o início de um período em que desperta dentro de cada um de nós a coragem para superar os limites pessoais e fazer o que deve ser feito.
Ivdu et Ha-Shem B’simchá
Sirva o Criador com alegria!

Dias de jejum e de luto

Dias de jejum e de luto
Para relembrar os tristes eventos que marcaram o começo do exílio e a destruição do Templo, os profetas instituíram 4 dias de jejum; 4 vezes por ano se requer dos judeus que jejuem desde o amanhecer até que apareçam as primeiras estrelas: Assará be Tevet (10 de tevet), Taanit Ester (13 de adar), Shivá assar be Tamuz (17 de tamuz) e Tzom Guedaliá (3 de tishrei).
Chamam-se de Taanit Tzibur (jejum público). A diferença do jejum de Tishá beAv (9 de av) é que este dura de um entardecer até o seguinte. Se qualquer um destes jejuns cai no shabat, é adiado até o dia seguinte, exceto Iom Kipur, que não se adia, e Taanit Ester, que se adianta para quinta; senão cairia em Purim, e luto e alegrias não devem entremear-se.
O cumprimento dos jejuns pelo povo de Israel servem a 3 propósitos: teshuvá (arrependimento), bakashá (pedido especial ou súplica privada ou pública) e avelut (luto privado ou público).
1. 17 de tamuz - recorda o assalto a Jerusalém pelos babilônios, além da quebra das Tábuas da Lei por Moshê e a brecha na muralha do Templo, feita, mais tarde, pelos romanos.
2. 9 de av - é a data mais sombria do calendário judaico. Nela se registram vários fatos trágicos como: o decreto pelo qual os israelitas deveriam vagar pelo deserto por um período de 40 anos; a destruição do I e do II Templos; a queda da fortaleza de Beitar; a queda de Bar Ko’hbá e o massacre de sua gente; o sítio de Jerusalém por Adriano; a assinatura do édito de expulsão dos judeus da Inglaterra em 1290 e a do decreto de expulsão da Espanha, em 1492. De todas estas desgraças, a mais dolorosa para os judeus é a destruição dos 2 Templos. Neste dia se jejua não apenas para recordar os tristes fatos do passado como para testemunhar a unidade do povo no presente, sua vontade de existência e sua fé em seu destino.
Em 9 de av se lê a Meguilat Ei’há (Lamentações), escrita pelo profeta Irmiáhu que presenciou a destruição do I Templo. A meguilá se lê de noite, à luz de uma lúgubre vela, e na manhã seguinte. A congregação se senta no solo ou em bancos baixos e não se usam nem os tefilin nem o talit. Depois da leitura de Ei’há, se cantam as Kinot (súplicas): são poemas de lamentos e elegias escritas por poetas de várias épocas que foram testemunhas de desastres para o povo judeu. As kinot variam de comunidade em comunidade, porém geralmente terminam com as chamadas shirei Tzion (Siônidas), poemas dedicados ao Monte Sagrado do Templo - Monte Sião. Uma das famosas é o poema Tzion halo tishali de Iehudá ha-Levi. Uma nota de esperança se encaixa em Tishá be Av. Segundo o Midrash Ei’há Rabá , capítulo 1, "o Messias nasceu no dia em que o Templo foi destruído". Nem no momento mais lúgubre se pode deixar de ter esperança num futuro mais luminoso.
3. 3 de tishrei - recorda o assassinato de Guedaliá, último governador de Judá, nomeado por Nabucodonosor.
4. 10 de tevet - dia do começo do cerco de Jerusalém, por Nabucodonosor.
O período entre 17 de tamuz e 9 de av é considerado período de luto (bein há-meitzarim = entre as angústias). Durante essas 3 semanas deve-se se abster de manifestações de alegria e, nos últimos dias é proibido comer carne e beber vinho.
Nestes dias de jejum são lembradas as infelicidades do povo judeu e se pede a D’us que perdoe suas faltas e que reconstrua o Templo, transformando o luto em dia de festa.
O jejum de 10 de tevet- com a tentativa de destruição do judaísmo europeu, alcançou um novo significado. O Grande Rabinato o declarou dia
permanente de kadish, dedicado à memória dos seis milhões de judeus que pereceram na Europa durante os anos de 1940-1945. Neste dia se recita o kadish e se estudam Mishnaiot pelo descanso de suas almas.
Jane Bichmacher de Glasman,
Autora do livro À Luz da Menorá

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

por que ser judeu?

Por que ser judeu?Uma carta para meus filhos
Queridos Judah, Micah e Aviva
Diz uma tradição judaica que os pais devem deixar aos seus filhos um tzavaah, um testamento ético no qual expressam suas preocupações e expectativas em relação a seu futuro. Este costume remonta à época de Isaac, que abençoou seus filhos Jacob e Esaú. Jacob, por sua vez, chamou seu filhos e lhes disse: "Venham juntos, para que eu possa falar-lhes sobre o que acontecerá nos dias que estão por vir" (Gênese 49:1). Eu não ouso prever o futuro, mas gostaria de lhes falar sobre o nosso futuro como judeus.Embora isso lhes possa parecer inoportuno, hoje, algum dia, cada um de vocês se perguntará "Por que ser judeu?" Esta é uma pergunta não muito comum, pois provavelmente vocês nunca se perguntarão "Por que ser americano?" ou "Por que ser homem ou por que ser mulher".Eu gostaria que, para vocês, sua identidade judaica fosse sempre um fator positivo. No entanto, não gostaria que deixassem de refletir sobre o seu judaísmo, da mesma maneira como refletem sobre os demais aspectos da sua vida. Tenho certeza que perceberão que sua identidade judaica envolve mais do que apenas reflexão. Vocês descobrirão que ser e permanecer judeu exigirá uma tomada de decisão e uma atuação constante.Nenhum pai pode ter certeza de que seus filhos continuarão sendo judeus. Vocês podem concluir que não há espaço em seu coração para as questões ligadas ao povo judeu. Vocês podem considerar outras tendências espirituais mais atraentes ou se satisfazer em ser seres humanos dignos. Como pais, esperamos ter construido um lar e uma vida em comunidade nos quais ser judeu será uma escolha inevitável. Sabemos, no entanto, que vocês farão a sua própria escolha, a despeito de nossa escolha como pais. Por que ser judeu? Poderia dar-lhes várias respostas. Poderia dizer que vocês nasceram judeus, cresceram judeus e jamais conseguirão ser algo diferente. Sei que vocês podem fazer outras escolhas, inclusive uma tão séria quanto trocar sua identidade por outra. Mas, mesmo que vocês neguem sua condição judaica, haverá sempre outros para lembrá-los quem são. Vocês devem estar preparados para assumir os valores positivos do que são, pois os outros serão menos generosos.Sempre me lembro de um diálogo de Freud com um amigo judeu que não pretendia educar seus filhos de acordo com a tradição judaica. Freud lhe disse: "Se você não deixar o seu filho crescer como judeu, você o privará de fontes de energia insubstituíveis. Ele deverá lutar como um judeu e você deve ajudá-lo a desenvolver toda a energia de que necessitará. Não lhe tire esta vantagem". Quais são as fontes insubstituíveis mencionadas por Freud? Espero que sejam a característica judaica de superar os obstáculos, a busca pela perfeição e a capacidade de ver o mundo como este pode ser, não apenas como o é.Poderia também apelar para os sentimentos de lealdade. Pedir-lhes que não abandonem a religião que é sua desde o seu nascimento, a fé de seus pais e de seus ancestrais. Poderia dizer que o D'us do judaísmo é meu D'us e que o seu povo é o meu povo. Não acredito que o judaísmo tenha o monopólio da verdade, mas realmente me sinto próximo dos mitos sagrados do meu próprio povo.Vejo-me perguntando quem eram meus ancestrais, quais os livros que leram e quais as suas crenças. A certeza de que refletiram sobre os mesmos temas sobre os quais reflito, de que atravessamos os mesmos rios e paramos nos mesmos pontos, dá-me um sentimento de continuidade e de pertencer que eu não encontraria em outra fé.Sei que não posso esperar que tenhamos as mesmas opiniões políticas que eu ou escolham a mesma carreira que escolhi. Então, por que devo esperar que vocês sejam judeus apenas por causa de sua herança? O mundo precisa que vocês sejam judeus. A sociedade moderna enfrenta novos e inimagináveis desafios. Do ponto de vista puramente intelectual, o judaísmo é uma das mais antigas e ininterruptas culturas da civilização ocidental. É um segredo inestimável para entender a civilização. A cultura judaica teve um papel fundamental na transmissão da cultura clássica grega e romana ao Ocidente durante o Renascimento. Por várias vezes a literatura judaica serviu como instrumento de preservação e disseminação da tradição clássica pelo mundo. A cultura judaica é o tênue elo entre as tradições humanísticas da antigüidade e da modernidade.Reconheço que a causa principal da necessidade da sobrevivência do judaísmo está acima de qualquer explicação racional. Um judeu sabe instintivamente a importância da continuidade judaica, embora possa levar uma vida inteira para explicá-lo a si mesmo. Esta busca de respostas poderá levá-los a fazer cursos, integrarem-se a uma comunidade, visitar Israel ou apenas ler mais sobre temas judaicos. A razão mais forte para serem judeus é a satisfação que vocês podem encontrar em ser parte de tudo aquilo que compõe a vida judaica.Sei que até o momento só falei sobre as razões pelas quais eu acredito que este empreendimento que chamamos judaísmo e sobrevivência do povo judeu merece o seu apoio e o seu envolvimento. Se os judeus não se importarem com o judaísmo, quem se importará? E se os judeus deixarem de ser judeus, quem será o representante da crença em um mundo melhor? Mas a verdadeira resposta para a pergunta "Por que ser judeu?" está vinculada a vocês enquanto indivíduos.Se vocês optarem por desistir de sua herança judaica, estarão perdendo algo que não pode ser substituído. Conduzimos nossa vida neste mundo de maneira precária. O judaísmo nos ajuda a navegar no mundo, a preenchê-lo com grandiosidade e a alcançar alguns momentos eternos. Dá-nos uma orientação espiritual que não nega a importância de cada dia e nos ajuda a elevar o mundano. Estou preocupado com a maneira como vocês viverão suas vidas. Ao transmitir-lhes a fé de nossos antepassados, faço-o com a esperança de que vocês usem o potencial que D'us lhes deu para tornar a vida extraordinária.Ser judeu é ser eterno caçador das infinitas maneiras pelas quais podemos realizar D'us em nossas vidas. Um provérbio chassídico incentiva-nos a nos concentrarmos em dois pensamentos: que o "mundo foi criado por minha causa" e que "eu nada sou além de pó e cinzas". Quando nos sentimos pequenos e insignificantes, devemos lembrar que fomos criados à imagem e semelhança de D'us, e que o mundo foi criado por nossa causa. Quando nos sentimos poderosos, devemos lembrar da nossa mortalidade. O objetivo máximo de nossa vida é ser a manifestação de D'us no mundo.Acreditamos que D'us é o ideal supremo ao qual aspiramos em nossa vida diária, em nossas práticas religiosas, em nosso aprendizado e nossas preces. O mundo mais elevado é o mundo ao qual aspiramos, mas também é aquele que só podemos realizar em nosso íntimo, em nossos relacionamentos e em nossa comunidade. Alcançar a realidade transcendental, acima de nós mesmos, é o objetivo espiritual do judaísmo.Meus filhos, esse é o meu tzavaah, meu testamento ético. Lembrem-se, sua vida é como um livro. Escrevam nele o que vocês querem que seja conhecido sobre vocês.
Com amor,
Seu pai
Adaptado do livro "What do Jew Believe? The Spiritual Foundations of Judaism", de David S. Ariel.
Enviado por Leon M.MayerPresidente da Loja Albert Einstein da B'nai B'rith do RJlmmayer@openlink. com.br

judeus na Franca

Betreff:
[judaismoonline] OS JUDEUS NA FRANÇA

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UMA VIAGEM ATRAVÉS DAS SINAGOGAS DA FRANÇAInterior da Sinagoga Cavaillon, FrançaMesmo em sua hora mais negra, no exílio, os judeus encontram a Presença Divina em suas sinagogas e casas de estudos. “Assim diz o Senhor, D’us de Israel: Ainda que os tenha lançado para longe entre as nações, e ainda que os tenha espalhado pelas terras, todavia Eu lhes servirei de santuário, por um pouco de tempo, nas terras para onde foram”. (Ezequiel 11: 16)
Edição 37 - Junho de 2002
Em 1791, após a Revolução francesa de 1789 ter sacudido a França e a Europa com seu lema “Liberdade, igualdade e fraternidade” , os judeus que viviam em território francês foram emancipados, tornando-se cidadãos franceses e passando a ter total liberdade de culto.Hoje, mais de duzentos anos se passaram desde que os revolucionários franceses, após uma série de hesitações e prorrogações, decretaram a emancipação de todos os judeus da França e Napoleão criou estruturas administrativas para definir o judaísmo frente à nação francesa.O judaísmo, na França,vive em sua plenitude, neste século 21, apesar de nuvens sombrias do anti-semitismo estarem toldando o brilho de suas sinagogas. A tradicional sinagoga, o Beit Haknesset dos judeus, torna-se a partir daquele período um monumento, uma instituição que muito nos revela sobre a vida dos judeus franceses e da cultura judaica, sob o contexto da emancipação. Como não se impressionar com a vitalidade de uma minoria – apenas 90 mil pessoas – que consegue edificar 250 sinagogas em um período de meros cem anos após sua emancipação? Hoje, a fisionomia do judaísmo francês se transformou. Não são mais as crianças das regiões da Alsácia-Lorena ou de Bordeaux que são a sustentação da comunidade judaica. São os filhos e netos dos sobreviventes da Shoá, do Holocausto; são os refugiados e repatriados da África do Norte que reavivaram um judaísmo quase destituído de cor e de vida.Os judeus na história da FrançaA história dos judeus na França foi marcada por períodos de perseguição, expulsão e restrição de liberdade, sem direito à cidadania. A situação começou a mudar após a Revolução de 1789, culminando com a nova constituição que passa a vigorar dois anos mais tarde e, entre outros atos importantes, emancipa a população judaica do país. Uma situação bastante diversa da vigente durante o Antigo Regime, quando a maioria dos judeus não existia oficialmente. Às vésperas da Revolução Francesa, havia cerca de 40 mil judeus no país: os sefaraditas ou portugueses, mais abastados e integrados, viviam no sul e no oeste da França, na região de Bordeaux; os ashquenazitas – estimados em cerca de 30 mil – com menos recursos, viviam no norte e no leste do país, a região da Alsácia-Lorena, falavam iídiche e mantinham uma estrutura comunal autônoma. A partir de 1791 os judeus passam ser considerados cidadãos franceses israelitas.Ao tomar o poder, Napoleão Bonaparte tenta impulsionar o processo de emancipação e integrar, ainda mais, as comunidades judaicas na vida francesa. Após concluir a reorganização da Igreja Católica e Protestante, na França, mantendo-as sob o controle do estado, o imperador desejava regularizar os assuntos judaicos de maneira semelhante. Queria definir a posição dos judeus frente ao estado e estabelecer um novo conjunto de instituições judaicas. Como parte desse processo convoca uma “Assembléia dos Judeus Notáveis” e, em 1807, um “Grande Sinédrio”, composto por rabinos e intelectuais leigos.Em 1808, logo após a reunião do Grande Sinédrio, um edito imperial estabelece, na França, um sistema de consistórios - juntas de rabinos e leigos, para administrar os assuntos judaicos. De acordo com este modelo, o Consistório Central de Paris, nomeado pelo Ministério, supervisiona os outros consistórios distritais. Além de manter e gerir as sinagogas e outras instituições religiosas e zelar por sua ordem, os consistórios fiscalizam a aplicação dos decretos e encarregam-se da distribuição dos impostos. Com a lei de 8 de fevereiro de 1831, o culto israelita passa a ser equiparado ao das outras religiões e recebe um orçamento do Estado.
Durante todo o século 19 os consistórios desempenham um papel primordial na vida religiosa e administrativa dos judeus da França. Atuam como interme-diários obrigatórios entre o Estado e as comunidades, recebem autorização para adquirir terrenos e construir edifícios em nome das comunidades e chegam, mesmo, a ser considerados como “donos” das sinagogas.As sinagogas após a EmancipaçãoAs sinagogas construídas na época muito revelam sobre a vida dos judeus emancipados, com seus dias de glória e de derrota. Pode-se ver a arquitetura posta a serviço da redefinição ideológica pela qual passava o judaísmo francês. A vida judaica abre-se à modernidade, sob o efeito da mudança de seu status e de sua mentalidade. Com a emancipação, as comunidades fazem das sinagogas um símbolo da sua suposta “regeneração” e de seu desejo de se inserir no contexto da França revolucionária e no ambiente das cidades em que viviam. Ao passar da condição de exilado para a de cidadão, os judeus deixam de lado a prática de construir sinagogas simples, às vezes escondidas em ruas pequenas e secundárias. Em seu lugar, surgem obras monumentais que retratam o seu sentimento de liberdade e atestam a sensação de finalmente estarem integrados e instalados no país.Os rabinos do século 19 aprovam a construção de sinagogas com tamanha arte e pompa, pois no judaísmo é apropriado adornar e embelezar a casa de orações como mais uma forma de se honrar a D’us. O uso da arte nas sinagogas é um mandamento justificado, Hidu mitzvá, segundo o qual deve ser adicionada uma dimensão estética a todos os objetos religiosos.Na realidade, não existe um estilo arquitetônico que possa ser chamado de “tradicionalmente judaico”, na França nem em outros países, talvez em virtude dos séculos de opressão e de expulsão que não permitiram aos judeus desenvolver um estilo próprio na construção de seus locais de oração. Por isso, é interessante ver como, na ausência de modelos e regras precisas, os arquitetos criaram uma nova concepção ao construir as sinagogas, adotando novos estilos, usando fachadas expressivas, novos motivos decorativos. Procuram inspiração na Antigüidade bíblica e na única referência disponível em seus livros sagrados, em suas canções nostálgicas, em sua memória coletiva: o Templo de Salomão, em Jerusalém, duas vezes destruído e sempre presente nos sonhos e anseios do povo judeu.As sinagogas construídas a partir de 1791 passam a ser produto de uma curiosa mistura de fundamentos judaicos com a arquitetura ocidental, fortemente impregnada de elementos vindos do cristianismo. Na França, atingem o seu esplendor no final do século 18. Os resultados foram extraordinários: um conjunto de monumentos esplêndidos considerando- se a modéstia de uma comunidade que contava aproximadamente 90 mil pessoas no fim do século 19. A maioria das sinagogas construídas entre 1791 e 1830 seguem o estilo do “schil”- apesar de suntuosas, no interior, as fachadas eram simples, discretas e quase imperceptíveis. A única sinagoga que foge a este padrão é a de Bordeaux.O schil, como os judeus ashquenazim chamavam o seu local de orações e de estudos, geralmente era uma construção simples, seguindo a situação que lhes fora imposta antes da emancipação. Essa designação se aplicava, sobretudo, a um local interno, situado muitas vezes no andar superior de uma casa construída no meio de um contexto hostil, numa rua de judeus, num vilarejo da Alsácia-Lorena ou dentro de um gueto. Às vezes, sob o mesmo teto, podiam-se encontrar uma sala de orações, uma de estudos, a mikvê e um forno comunitário para assar as matzot para Pessach.Foi determinante na evolução deste estilo, encontrado em grande parte da França pré Revolução, a proibição que pesava sobre os judeus de construir sinagogas e a grande intolerância das comunidades no seio das quais viviam. Um exemplo dessa animosidade foi a ordem do Conselho Real de Colmar, em 1726, de destruir sinagogas que haviam sido construídas sem a devida autorização.Nas regiões da Alsácia, Lorena, Nancy, Metz e outras, as sinagogas seguiam tal padrão de simplicidade. Exceção constituíram as de Nice e do Condado de Venaissin, perto de Avignon, hoje, Vaucluse. Apesar de as mesmas imposições se aplicarem aos judeus dessas áreas, suas casas de oração eram interiormente muito suntuosas. O Condado de Venaissin era um estado papal: um enclave, dentro da França, cedido ao Papa. Este confinou os judeus da região em pequenos guetos, em Carpetras e Cavaillon. Este último era conhecido como o gueto de “la Carrière” (termo provençal que significa “rua”).Mesmo depois da emancipação, uma certa intolerância subsistia nessas regiões. Isto é comprovado pelo fato de as sinagogas raramente serem de frente para a rua. Em Venaissin, as sinagogas sofrem restrições apesar de construídas dentro das “Carrières”. Mas, mesmo assim, o schil de Carpentras e o de Cavaillon tornaram-se famosos por sua linda decoração, com seu echal (o altar central) elevado e a ricamente ornada cadeira de Eliahu ha-Navi, suspensa.A magnífica sinagoga de Cavaillon foi reconstruída em 1772, com o nome de Contadine. A sinagoga era dividida em três níveis: o mais baixo era usado para o ritual de lavagem das mãos, netilat iadaim, além de abrigar um forno para assar matzot, os pães ázimos de Pessach. Contrastando com essa simplicidade funcional, os níveis superiores tinham luxuosa decoração em estilo rococó. É muito interessante ver esse tipo de construção, em vários andares, para as funções comunitárias; especialmente em Carpentras, onde, por trás de uma estreita fachada, muito simples, encontra-se verdadeiro complexo, com vários edifícios.Contudo, é importante mencionar que, apesar de todos os esforços, a emancipação se deu lentamente. Até 1822, os judeus de Paris não possuíam sinagogas nem outros edifícios comunitários de porte. Espalhavam-se entre várias casas de orações e de estudo, pequenas e dispersas, localizadas principalmente no bairro do Marais. O schil da rua Saint Avoye, construído em 1796, recebeu o pomposo título de “sinagoga consistorial” . No entanto, e apesar de ser maior que as outras, contém apenas 107 lugares para homens e 85 para mulheres.Somente em 1819 os judeus de Paris receberam a autorização real para a construção da primeira sinagoga da cidade, na rua Notre Dame de Nazareth. Era chegada a hora desta justificada e esperada permissão. Em 1822, a comunidade celebra oficialmente, com grande pompa, a inauguração de uma magnífica sinagoga, como que a testemunhar que o período de discrição nos edifícios comunitários judaicos havia terminado.O sistema de consistórios, criado em 1808 por Napoleão, perdura até nossos dias, com modalidades um pouco diferentes. Para os rabinos e os consistórios, o sentido representado pelas três denominações talmúdicas – Beit Haknesset, Beit Hatefilá e Beit Hamidrash, respectivamente, casa da assembléia, casa das rezas e casa dos estudos – permanece o ponto primordial das sinagogas. Mas estes importantes conceitos, de oração e estudo em congregação, eram transformados por um caráter oficial e pomposo. E estas transformações são evidenciadas pela evolução na arquitetura das casas de oração francesas. Já quase no fim do século 19 surgem as sinagogas financiadas pelos mecenas judeus, como a família Rothschild. Surgem belos trabalhos dos arquitetos judeus, entre os quais Aldrophe, Ulmann, Poutremoli, Bechmann e Hess. Deve-se aos Rothschild o financiamento da construção das sinagogas de Paris e da província: Boulogne, Neuilly e Chasseloup. Outras famílias abastadas oferecem preciosos objetos de culto, candelabros, adornos e mantos de Torá, bem como fino mobiliário. A Sra. Furtado Heine, dedicou-se à construção da sinagoga de Versalhes. O banqueiro de origem bordolense Daniel Iffla financia a construção do templo de rito sefaradi em Paris, na rua Buffault (1877) e de várias outras sinagogas, em Arcachon (1879), Bruyerès (1903), Tours e Tunis. Grandes famílias sefaraditas como Allegri, Astruc, Sciama e Paz, também participam na construção de sinagogas. Com a chegada dos judeus da África do Norte, várias sinagogas mais, de rito sefaradi, são construídas: Neuilly, Saint Lazare e outras.Na grande sinagoga da rua da Victoire segue-se o rito ashquenazi. Em 1857, os judeus poloneses fundam nova sinagoga, na rua des Rosiers, em Paris.Nas últimas décadas, graças à chegada dos judeus do leste, sobreviventes do Holocausto, e dos da África do Norte, chegou a 800 mil o número de judeus na França. Talvez, os fundadores dessas casas de oração achassem “exótica” a forma como é, hoje, praticado o culto nessas sinagogas, segundo os costumes das comunidades que as freqüentam. Mas, não se pode negar que são uma imagem maravilhosa da sobrevivência do judaísmo francês.As sinagogas da emancipação são monumentos que têm sua presença concreta, inscrita na vida das cidades. Elas atestam a liberdade de consciência e a igualdade cívica enfim reconhecidas aos judeus. “Como são eloqüentes, essas rezas mudas que o talento do artista soube animar!”, proclamava o grande rabino Zadoc Kahn diante da sinagoga da rua da Victoire.Ou como afirmou, certa vez, o Grão-Rabino Joseph Sitruk: ...”Não é significativo lermos, até hoje, nas sinagogas que se transformaram em bibliotecas ou centros culturais, trechos como os Salmos ou a Gênese, que atestam a vida que há em nossas orações, que vão além das paredes de uma comunidade? O interior da sinagoga – construção e reunião de fiéis, verdadeira escada de Jacob – como o interior de nós mesmos – não seria esta a imagem do santuário que cada um deve erguer ao Eterno, em seu coração? E o culto exterior, não seria a expressão do culto interior? ...Em nossas sinagogas em todos os vilarejos, de Bayonne a Bergheim ou Schalbach, as palavras de Isaías proclamam aos olhos do mundo: “Minha casa será chamada de Casa de Orações para todas as nações” (Isaías 56:7).

judeus no marrocos

HISTÓRIA DAS COMUNIDADES
Judeus no Marrocos Foto Ilustrativa
Edição 55 - dezembro de 2006
A milenar saga judaica no Marrocos, onde os primeiros judeus se estabeleceram ainda quando Salomão reinava sobre Israel, está intimamente ligada à conturbada e, por vezes, sangrenta história do país.
Invadido no decorrer de milênios por inúmeros povos - até a chegada dos árabes, que trouxeram o Islã e mudaram para sempre a região - o Marrocos localiza-se no norte da África, na região mais ocidental do Magrebe, em árabe, "lugar onde o sol se põe".
A falta de documentação não permite determinar com exatidão quando os primeiros judeus chegaram à região e, mais especificamente, ao Marrocos. Há provas tangíveis de uma presença judaica a partir da destruição do Segundo Templo, em 70 E.C., mas há estudiosos que acreditam ser bem mais antiga, remontando ao período do Primeiro Templo. Para apoiar a tese, citam inúmeras tradições. Entre estas, uma, segundo a qual, na época do rei Salomão, mercadores judeus percorriam a região em busca de ouro. Alguns deles se teriam estabelecido no Saara marroquino. Já os judeus de Ifrane, cidade ao sul do Marrocos, acreditam descender da tribo de Efraim, uma das Dez Tribos exiladas durante o período do Primeiro Templo.
Ao chegar à região, os primeiros judeus lá encontraram os berberes, povo que até hoje representa importante parcela da população marroquina e cuja história se entrelaça com a da comunidade judaica local.
O domínio romano
No ano de 70 E.C., após ter esmagado na Judéia a Grande Revolta, Tito, general romano, expulsa os judeus da Terra Santa dispersando- os por todo o Mediterrâneo. Alguns milhares se estabelecem no norte da África - inclusive na área que hoje é o Marrocos. A presença judaica na região é atestada pelos artefatos arqueológicos descobertos em Volubilis e por lápides com inscrições em hebraico, que remontam ao século 2 E.C.
Na época, as comunidades judaicas marroquinas eram bem organizadas e possuíam grande autonomia sobre os assuntos internos. Mantinham intenso contato com a Terra Santa, havendo mesmo registros históricos de que Rabi Akiva visitou várias comunidades do Magrebe.
Tal tranqüilidade sofre seu primeiro grande revés quando, no século 4, o cristianismo se torna a religião do Império Romano. Discriminados, os judeus vêem seus antigos direitos civis abolidos e suas sinagogas transformadas em igrejas. Muitos deixam as cidades litorâneas, refugiando-se entre os berberes, nas montanhas Atlas.
Por um breve período, por volta de 406 E.C., quando os vândalos, tribo germânica, conquistam o Norte da África, os judeus voltam a ter liberdade religiosa e independência comunitária. Mas tal período de bonança chega ao fim quando os bizantinos tomam a região. O imperador Justiniano desencadeia um período de cruel perseguição aos judeus.
E mesmo quando visigodos, outro povo germânico, tomam o Marrocos após conquistar a Espanha, a vida dos judeus não apresenta melhora. As perseguições e as conversões forçadas fazem com que milhares deles abandonem a Espanha e as cidades da costa marroquina, buscando mais uma vez refúgio entre os berberes.
Início do domínio islâmico
Por volta de 630, surgia o Islã, novo poder militar e religioso que mudaria para sempre a geopolítica da região. Bastaram apenas quatro décadas para que os exércitos árabes dominassem todo o Norte da África. Para os judeus, a conquista árabe foi um período de grande sofrimento, em que inúmeras comunidades foram totalmente arrasadas.
Os berberes do Atlas resistiram à invasão islâmica e um grande número de judeus se aliou a eles, juntos organizando uma resistência armada que duraria 25 anos. É desse período a história de Kahena, famosa rainha judia da tribo berbere de Jerawa. Principal líder na luta contra as forças islâmicas, entre 687 e 697, Kahena conseguiu mobilizar seu povo nos Aures, atual Argélia, a leste das montanhas Atlas. Sua derrocada marcou o fim da independência das tribos berberes, que então se submetem ao Islã. Serão os seus guerreiros - e não os árabes - os que subjugaram a maior parte do Magrebe em nome do islamismo.
Os primeiros a contar a história de Kahena e das tribos berberes judaizantes resistentes à invasão islâmica foram os historiadores árabes do século 7, e, mais tarde, Ibn Khaldoun, filósofo muçulmano do século 14. Já em tempos modernos, estudiosos como H. W. Hirschberg questionam o fato e até mesmo a possibilidade de que tribos inteiras se tenham convertido ao judaísmo. Apesar de não descartar totalmente a teoria, apontam para o fato de não haver registros de tais conversões, nem tampouco ser a história mencionada em documentos judaicos anteriores ao século 15.
A retomada das atividades comerciais, aliada ao fato de serem boas as relações entre os governantes e os judeus, faz com que muitos voltem à região, reconstruindo a vida judaica. E, quando da conquista da Espanha, em 711, por Tarik ibn-Ziyad, governador do Magrebe Ocidental, as comunidades judaicas marroquinas passam a ter contatos com as academias da Babilônia tornando-se parte da tradição babilônico-sefaradi.
Somente as comunidades do interior, menores e mais isoladas, continuaram a viver como sempre o tinham feito, muitas destas sobrevivendo, intocadas, até meados do século 20.
Vida judaica sob o Islã
A presença muçulmana no Marrocos perdura até hoje, e não há como descrever, de forma simplista, as condições em que os judeus viveram desde a conquista árabe até a chegada dos europeus, quase mil anos mais tarde minoria permanente, os judeus sofriam mais do que os demais habitantes com a instabilidade política da região, onde, no decorrer dos séculos, com espantosa regularidade, os períodos de paz eram suplantados por outros, de turbulência e matança. A verdade é que sua vida e bem-estar estavam à total mercê dos governantes. Classificados de dhimmis - não-muçulmanos que se recusavam à conversão - os judeus eram passíveis de obediência a uma série de leis, cujo rigor dependia do humor de cada governante. Além do mais, para terem permissão de viver em terras muçulmanas, eram obrigados a pagar altos impostos, talvez suportáveis em tempos de paz, mas exorbitantes em épocas de guerra. Tais tributos eram a maior fonte de ingresso nos cofres públicos e essa situação fiscal explica o interesse dos mandantes na prosperidade judaica e no fato de que, assim que novas cidades eram fundadas, os sultões criarem mellahs - bairros reservados aos judeus. Explica também o número reduzido de conversões forçadas, já que, uma vez convertidos, representariam prejuízo financeiro para o Erário público.
Dinastias trás dinastias no poder
Um período glorioso do judaísmo marroquino teve início no século 9, após a subida ao trono de Idris II. Sua benevolência perante a comunidade judaica permitiu o desenvolvimento do judaísmo marroquino, que recebe o afluxo de judeus de outros pontos do Norte da África. O Sultão lhes permite estabelecer- se na recém-construí da capital, Fez, que se torna importante centro do judaísmo mundial. Segundo relatos, mais de 90 mil viviam na cidade, inclusive vários dos maiores sábios da época. Entre estes, podemos citar Rabi Yitshak Al- Fassi (ver artigo), Rabi Judah ben David Hayyuj, Rabi Yehuda ben Koraiach e Rabi Dunash ibn-Labarat. O próprio Maimônides deixou a Espanha para viver e estudar em Fez, durante vários anos.
Mas a dinastia idríssida não consegue manter-se no poder e sua queda dá início a um período de turbulências, em que o Marrocos é governado por uma sucessão interminável de dinastias curtas e instáveis. Um período nada favorável aos judeus. Quando, em 1032, Fez cai em mãos berberes, a cidade é devastada e 6 mil judeus massacrados, cabendo idêntica sorte aos que residiam em outras cidades marroquinas.
No mundo muçulmano, os conflitos entre as dinastias religiosas, que se sucediam no poder, era exacerbado por disputas doutrinárias quanto ao rigor da aplicação da lei islâmica. E quando uma dinastia liberal era substituída por uma mais extremista, os judeus eram expostos aos riscos inerentes à sua condição de dhimmis. Contudo, não se pode afirmar que sua vida, no país, fosse pior do que a do restante da população local - até a chegada dos almóadas, em árabe os al-Muwahhidun, a dizer, "os monoteístas".
Rigidamente intolerantes com os não-muçulmanos, os almóadas conquistam o Marrocos em 1147, ocupando sucessivamente grande parte da Espanha, e se mantendo no poder até o ano de 1269. Iniciava-se um século de intenso sofrimento para a comunidade judaica. Relatos da época falam de massacres, conversões forçadas e destruição em massa. Até mesmo o poderoso reino judaico localizado no vale do Draa Oriental, que há séculos era independente, chega ao fim com os conquistadores.
Em um de seus poemas, Rabi Ibn Ezra descreve a desgraça que se abateu sobre os judeus marroquinos, a quem os almóadas davam como opção a conversão, a morte ou o exílio. Apesar do perigo, milhares deixam o país. Entre os que lá permaneceram, muitos escolhem a morte. A maioria, no entanto, para salvar a vida, aceita pro forma o Islã, enquanto secretamente continuavam praticando o judaísmo. Um dos momentos mais dramáticos para essa comunidade foi quando, consultado sobre a escolha feita pelos cripto-judeus, um sábio que vivia fora do Marrocos deu uma resposta devastadora: teria sido melhor escolher a morte à conversão. As conseqüências foram gravíssimas. Muitos julgaram que se era esse o caso, era melhor, então, abraçar totalmente o Islã. Maimônides, que, à época, residia em Fez, levantou-se em defesa dos cripto-judeus, publicando a famosa "Carta sobre a Apostasia", Igereth ha-Chamad. Nesta, Maimônides rechaça, com veemência, a responsa do sábio, afirmando que este certamente desconhecia a realidade dos que viviam sob o jugo almóada. Ademais, no decorrer de nossa história, outros judeus haviam sido forçados a aceitar, na aparência, uma fé que não era a nossa, fato que não os transformara, por si só, em não judeus. No entanto, advertia Maimônides, o ideal era abandonar os países onde fosse difícil praticar a nossa religião, abertamente.
Com o passar do tempo, de muçulmanos radicais os almóadas se transformaram em governantes refinados. A situação dos judeus também melhorou; no início do século 13 cessaram as perseguições e, aos poucos, foi recuperando seu fôlego o judaísmo marroquino - uma sombra, porém, da vida existente antes da catástrofe. Quando, em 1258, toma o poder uma nova dinastia berbere, os merínides, que reinará até 1456, os judeus entram em novo período de tranqüilidade e prosperidade.
Diáspora sefaradita
Após os violentos pogroms de 1391 e a instalação da Inquisição, levas de judeus deixaram a Espanha, em grande parte já sob domínio cristão. E, entre as paragens que se apresentavam para se estabelecerem, estava o Marrocos. O fluxo aumentou após 1492, quando, entre os 300 mil judeus que preferiram deixar a Espanha a se converter ao cristianismo, muitos escolheram novamente esse país. Ciente de seu talento e elevada cultura, bem como das vantagens que suas habilidades comerciais trariam para o reino, o Sultão abre-lhes as portas.
Em 1497, foi a vez dos judeus que viviam em Portugal ter que optar entre exílio ou conversão, e, outra vez, refugiaram-se no Marrocos, aos milhares. E, nos séculos posteriores, esse mesmo país virou um porto-seguro para conversos que escapavam da Inquisição, ansiosos por retornar ao judaísmo.
Os sefaraditas, chamados de megorashim, ou seja, exilados, fixam-se principalmente no litoral Norte, onde se tornam a maioria. Criam suas próprias comunidades e sinagogas, vivendo conforme suas tradições e costumes. A princípio, os judeus locais, os toshavim ou "residentes" , tratavam os refugiados ibéricos com desconfiança. Estranhavam seus hábitos, seus min'haguim; até o idioma era diferente, pois enquanto os sefaraditas falavam espanhol ou português, os toshavim se comunicavam em judeo-árabe. Com o tempo, apesar da enorme influência dos oriundos de Sefarad sobre a vida religioso-cultural das comunidades judaicas do Marrocos, eles próprios acabaram por assimilar aspectos da cultura judaica local, criando uma nova síntese tipicamente marroquina, assim como um novo dialeto, um ladino arabizado, chamado de Haquitia.
Graças a seu talento para o comércio e contatos com toda a diáspora sefardi, os judeus ibéricos se tornaram prósperos mercadores. Seu prestígio junto ao Sultão aumentou ainda mais a partir de 1600, quando os portugueses tomam áreas do litoral atlântico marroquino. As raízes européias dos "exilados" e suas habilidades de negociadores e diplomatas, tornavam-nos indispensáveis entre os governantes árabes e os reis católicos.
A Era moderna
No século 17, instala-se no poder nova dinastia berbere, originária do Sudeste marroquino, os alaouitas, que constituem a família real do Marrocos até hoje. Seus sultãos, buscando contrabalançar as constantes pressões dos turcos otomanos, que, em fins do século 16 já haviam conquistado todo o Magrebe, procuram desenvolver ligações comerciais e diplomáticas com as nações da Europa Ocidental. Nesse cenário, era preponderante o papel dos grandes comerciantes judeus, que não só obtêm dos sultãos virtual monopólio do comércio ultramarino, como se tornam os responsáveis pela diplomacia do país e pela negociação de tratados internacionais. Para os europeus, também, os judeus eram praticamente indispensáveis, sendo os únicos intermediários plausíveis entre o mundo islâmico e o europeu.
Para proteger seus interesses as nações européias começam a instalar consulados no Marrocos, que podiam estender sua proteção a representantes e funcionários locais, via de regra, judeus. Tal "representação judaica" dos poderes europeus provoca um forte ressentimento entre as massas berberes, fazendo com que, até o século 20, os judeus servissem de bode expiatório em qualquer instância em que os muçulmanos discordassem das medidas adotadas pelos estrangeiros.
Fontes judaicas relatam a "dança" das fortunas judaico-marroquinas , na Era moderna. Durante o reinado de Moulay Ismail, por exemplo, em que o Marrocos atingia seu apogeu, dois dos mais importantes conselheiros reais eram judeus, Moshé Ben Attar e Youssef Memran. Mas, com a morte de Ismail, em 1727, o país entra em um período de anarquia durante o qual são arrasadas comunidades judaicas inteiras, no interior. E, se sob o sultanato de Mulay Muhammed (1757-1790), os únicos diplomatas enviados a países ocidentais eram judeus marroquinos, seu filho Mulay al-Yazid encarrega-se de massacrar milhares de judeus em Tetuan, Marrakesh e Meknés.
Um outro fator que influenciava as condições de vida dos judeus marroquinos era a sua posição econômica. Enquanto grandes mercadores e diplomatas formavam uma pequena mas poderosa classe alta, a maioria deles vivia na total penúria, como seus vizinhos muçulmanos. Em busca de um futuro melhor, a partir do século 19 inicia-se um intenso processo de emigração para a Europa, América do Sul, inclusive para a Amazônia, e para Eretz Israel.
O único raio de esperança nesse período foi a chegada, ao Marrocos, da Alliance Israelite Universelle, que abre sua primeira escola em Tetuan, em 1862. Sua missão era dar aos judeus uma educação moderna, francesa, que os ajudasse a melhorar de vida. Em 1912, a Alliance já tinha mais de 27 escolas, em todo o território marroquino, com acima de 30 mil alunos.
A difícil situação dos judeus marroquinos leva, em 1864, sir Moses Montefiori àquele país. Recebido pelo sultão Sidi Mohammed Abd-al-Rahman com grandes honras, Montefiori intercede em favor dos judeus junto ao mesmo, que tudo promete mas nada faz para mudar o status quo.
Protetorado francês
No Marrocos, o domínio colonial inicia-se formalmente em 1912, quando o país é dividido entre Espanha e França, que fica com a maior parte. Tânger é declarada Zona internacional. O tratado provocou uma onda de violência contra os judeus de Fez, que têm a terça parte de seu bairro incendiado, deixando 60 mortos e outras várias dezenas de feridos.
Os franceses governam o país por mais de 45 anos, mantendo o sultão no poder, com um papel apenas figurativo. A mudança é notória; todo o Marrocos é modernizado, urbanizando- se as cidades. Para os judeus locais, o domínio francês traz algum alívio, terminando com a segregação que lhes fora imposta. O processo geral de urbanização faz com que, em número crescente, deixem o interior e se estabeleçam nas cidades, onde lhes é permitido viver fora dos mellahs. Contudo, sob o aspecto de sua situação legal, não há grandes avanços. Eles não detêm igualdade de direitos e vêem frustrada a esperança de receber cidadania francesa, diferentemente do que ocorrera na Argélia.
Os judeus logo se adaptam, e com entusiasmo, à cultura européia, sob cuja influência surge uma elite judaica moderna. Mas, felizmente, a assimilação em massa que se viu na Argélia não se repetiu no Marrocos, graças à força da tradição rabínica marroquina, além da intensa pressão comiunitária sobre seus membros.
A Shoá
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a população judaica do Marrocos somava 225.000 pessoas. Com a queda da França em mãos alemãs, a partir de 1940, o Marrocos francês passa a seguir as determinações do governo de Vichy. No entanto, o sultão Mohamed ben Youssouf , futuro rei Mohamed V, recusa-se a aplicar as leis raciais e a autorizar a deportação dos judeus. Apesar disso, o governo de Vichy "interna" em campos restritos os judeus "estrangeiros" e obriga os "locais" a voltar aos mellahs.
Entre os "projetos" nazistas estava a criação de um campo de concentração no Saara, mas o desembarque das forças americanas, em 1942, no Marrocos e Argélia, coloca um fim no sinistro plano. Para celebrar esse milagre, os judeus do Marrocos fixaram o dia 2 de Kislev do ano de 5703 como um outro Purim - e o denominam "o Purim de Hitler".
Com o fim da 2a Guerra e a criação do Estado de Israel, em 1948, a violência anti-judaica torna-se freqüente. Apesar da mão forte do governo sobre os responsáveis, o clima de instabilidade faz com que 67 mil judeus emigrem para Israel, até 1956, ano em que o Marrocos se torna independente. Ao voltar do exílio e retomar o governo de sua nação, Mohamed V concede igualdade de direitos aos judeus e os insere na vida pública. No entanto, pouco depois, são demitidos todos os que detinham algum cargo oficial. A emigração para Israel é proibida, porém, mais de 47 mil conseguem fazer aliá.
Em 1961, quando Hassan II, o 21o monarca da dinastia Alaouita, sobe ao trono, reverte a política do pai no tocante aos judeus, permitindo-lhes, entre outras benesses, emigrar. Mas, apesar da proteção do Sultão, são intensos, no país, os sentimentos anti-judaicos e as agitações contra a comunidade atingem um nível de pico em 1967, quando da Guerra dos Seis Dias. Naquele ponto, a maioria dos que ainda viviam no país decidem partir de vez. Alguns vão para Israel, outros para a França e Canadá. Calcula-se que, em 1970, 35 mil judeus ainda vivessem no Marrocos, protegidos pelo Rei.
Hassan II foi, sem dúvida, o melhor amigo de Israel, em todo o mundo árabe. Em 1986, recebeu Shimon Peres, então primeiro-ministro do país, e se reuniu com uma delegação oficial de judeus de origem marroquina. Ao falecer, em 1999, assume o trono seu filho, Mohamed VI, seguindo a mesma política paterna em relação a Israel. Quando, no ano de 2000, dois jovens marroquinos tentaram vandalizar uma sinagoga, em Tânger, o próprio Rei, em um pronunciamento pela televisão, afirma que não toleraria qualquer ação contra os judeus.
Mesmo assim, em maio de 2003, homens-bomba atacam quatro entidades judaicas, em Casablanca, e realizam um quinto ataque contra o consulado espanhol. Nenhum judeu ficou ferido nos incidentes, por ser Shabat, não havia judeus nos locais atingidos, mas 29 muçulmanos perderam a vida. O rei Mohammed VI visitou o local de um dos atentados, no próprio dia. E, como demonstração de apoio à comunidade judaica, o governo organiza uma grande manifestação pelas ruas de Casablanca, na qual o Monarca reafirma a tradicional proteção de sua família aos judeus marroquinos.
Protegidos pelo Rei, por volta de 6 mil judeus vivem atualmente no Marrocos, sendo que quase todos em Casablanca. Há pequenas comunidades judaicas em Rabat, Marrakesh, Meknés, Tânger, Fez e Tetuan. Apesar de seu número reduzido, os judeus marroquinos continuam tendo importante papel na vida econômica e política do país. Merece destaque o fato de ser judeu um dos principais assessores do Rei, André Azoulay. Outro aspecto notório é o de que as escolas judaicas e as sinagogas, espalhadas pelo país, recebem subsídio do governo. O Marrocos tornou-se um local de grande interesse turístico para os judeus de todas as partes do mundo, alguns em busca da milenar e fascinante tradição judaico-marroquina; outros, para zorear, ou seja, visitar os túmulos dos Tzadikim, e lá invocar pelas bênçãos e orientações divinas - um costume de grande significado entre nossos irmãos marroquinos, de todas as épocas.
Bibliografia:
Stilman, Norman, The Jews of Arab Lands in Modern Times, The Jewsih Publication Society, N.Y.
Mann, Vivian B, Morocco: Jews and Art in a Muslim Land, Merrell Publishers, Catalogo da exposição do Jewish Museum de New York Artigo publicado na revista Kountrass, L'histoire des Juifs au Maroc, outubro de 2006