segunda-feira, 19 de novembro de 2007

PARASHÁ VAYISHLACH g l y i e
Nesta porção da Torá, nos deparamos com a história de Diná, a filha de Yaacov, que segundo os cabalistas, representaria a própria Shechiná. O nome "Diná" significa "a justa", se referindo à justa parte da bênção espiritual destinada a cada um de nós. O processo de aprendizado que envolve os ensinamentos desta semana representa a necessidade de compreender que nem sempre o que desejamos nos é justo espiritualmente. É com base na escravidão dos desejos que muitas vezes nos deixamos corromper dentro do caminho do autoconhecimento.
“E Shechem ben Chamor, o Chivi, o prícipe da terra, viu-a e a tomou, deitou-se com ela e a violentou” Gn: 34:2 .
“E Chamor falou com eles, dizendo: Shechem, meu filho, afeiçoou sua alma por vossa filha; dai-a para ele, rogo-vos, por mulher" Gn: 34:8.
Os sábios da Cabalá nos ensinam que a interpretação mística do incidente em que Shechem , filho de Chamor, o Chivi que se relacionou sexualmente com Diná, era que Schechem representa Nachash e sua união com Havá. Isso se baseia na dedução de nossos sábios quanto à semelhança da palavra hebraica "chivi" com a palavra "chiviá", que significa serpente em aramaico. Sendo assim, Shechem é a força avassaladora de nossos desejos egóicos e os meios de que dispomos para realizá-los a qualquer preço. Shechem é a má inclinação o Yetzer Hara e o "mau instinto", como nos ensinam nossos sábios. A matriarca Léa teve seis filhos e uma filha apenas. Os seis filhos representam a consciência de Zeir Anphin que está relacionada a Olam Há-Yetzirá, e a filha é Malchut, onde temos a manifestação da Shechiná (Presença Divina) e suas bênçãos. Os cabalistas sabem que a todo momento, Nachash, que se manifesta pelo arrebatador desejo de receber para si mesmo, procura penetrar no espaço destinado a Shechiná (Malchut) para ali exercer o seu domínio. Mas, por que Malchut? Malchut revela todo o propósito da Criação. Este é o "território" do espaço. Já vimos que a Luz do Mundo Infinito só pode se revelar por intermédio de uma resistência voluntária. Malchut reúne todas as condições propícias à revelação da Luz, pois além de ter como essência o desejo de receber é a primeira resistência que a Luz do Mundo Infinito encontra ao percorre os Mundos da Árvore da Vida. Como Malchut é uma resistência para a Luz, ela reflete a Luz, pois é somente através do reflexo que uma Luz é manifestada. Como já observamos anteriormente, a luz do sol só se manifesta por intermédio da ação da resistência (restrição). Sendo assim, nada surge neste Mundo da Restrição sem que haja uma resistência, e aprendemos que quanto maior for à resistência, maior será a manifestação deste fluxo de energia. O trabalho do cabalista é trabalhar para desativar os efeitos da Clipá que encobre demasiadamente este mundo físico, para que o mesmo seja penetrado pela Luz do Mundo Infinito. Mas sabemos que deve haver um tempo e maturidade no lidar com esta revelação, não podemos "comer" do fruto antes dele estar maduro. Este tem sido todo o erro da humanidade ao longo dos tempos, até os dias atuais. Nos deixamos influenciar pelos aspectos sedutores de Nachash e acreditamos que estamos recebendo bem menos do que teríamos direito de receber. Muitos são os casos em que não concordamos com o "tempo" dos acontecimentos que se manifestam dentro do território espiritual. "Isso é lento demais", "Isso é burocrático demais", "Isso poderia ser mais rápido, poderia estar acontecendo em curto prazo", estas são algumas das formas de considerarmos que o que temos não é a justa parte (Diná). Atropelamos o shefá (fluxo) da Luz e nos esquecemos de cumprir etapas essenciais dentro do caminho.
“E sua alma se apegou a Diná (a justa), a filha de Yaacov (Tiferet), e amou a moça” Gn: 34:3.
Para Rav Abuláfia, devemos também nos impulsionar a buscar uma aderência com a Shechiná, motivados pelo supremo estado de submissão ao Mundo Infinito, e não apenas pelo instinto do que nos é agradável ao nosso tempo. A essência desta aderência (devekut) é que devemos nos esforçar com cada parte de nosso ser a unirmos nossa alma a Shechiná e desfazer toda e qualquer forma de clipot (cascas). Para conseguir isto é necessário remover da nossa mente todos os pensamentos impuros, todo e qualquer desejo de receber para si mesmo. Quando procuramos esta aderência tendo como base os impulsos de Nachash, agimos por intermédio de polaridades invertidas.
"Seu ser adere a Diná...""Apaixona-se pela jovem...""Ele fala ao coração...".
Temos que notar que Nachash (que é a nossa força egóica) primeiro "adere" (penetra) a Shechiná (Diná), depois se apaixona e só depois é que fala ao seu coração. Esta não é a ordem apropriada. Este procedimento inverte completamente o procedimento de submissão ao Sagrado. Este tem sido o grande artifício de Nachash ao longo de séculos, ele não trabalha com mentiras e sim com verdades invertidas. O processo correto seria de inicialmente "falar" ao coração por intermédio de vocalizações e das orações, e, sobretudo, controlando sua boca para evitar o lashon hara. Em seguida o cabalista deve "apaixonar-se pela jovem", e isso está relacionado aos seus ritos, ao Shabat e ao cortejo da Shechiná que ocorre no momento da Confraternização, quando todos cantam e oscilam em uma roda. Neste momento torna-se possível envolver e encantar a "jovem", a "noiva", a Shechiná. Somente após o cortejo é que se torna possível à aderência (devekut) com o Infinito. O caminho espiritual é o caminho do enamoramento. Ou estamos enamorados da Shechiná ou apenas somos guiados pelos desejos mais básicos, ligado ao que nos é agradável e/ou nos dá prazer no caminho. Para que a sedução da Shechiná possa ocorrer de forma a não invertermos a ordem das coisas e de forma a não sermos Shechem dentro de nossa vontade de aderência à Luz, temos que desenvolver o "estado de quietude". Despertando a virtude de Malchut dentro de nós e ativando a humildade, devemos nos deixar guiar pelo estado de quietude. O estado de quietude da Luz é Malchut. O estado de quietude é a única possibilidade de conseguir acessar e revelar a Luz do Mundo Infinito. Somente o estado de quietude revela a realidade. Acessando o estado de quietude de seu próprio ser é que uma pessoa poderá vivenciar este estado de quietude em sua vida e na vida de seus próximos, caso contrário se manterá aprisionado para sempre na obscuridade espiritual do ego. Isso porque é somente no estado de quietude que toda a Luz se revela. Se sentimos tristeza e privação, isso significa que estamos ainda presos nas velhas armadilhas de Nachash. Como já foi dito, a carência só pode encontrar raízes no mundo da ilusão e somente aí (na ilusão) pode sobreviver. Ao encontrar aderência (devekut) com o estado de quietude, tomamos parte do que é justo (a justa parte) para nós e perdemos toda a forma de ilusão de carência e assim, Nachash não obterá nada de natureza negativa para alimentar-se e por si só deverá desaparecer. Por isso é que os cabalistas afirmam que o estado de quietude é a diferença entre o ser espiritual e o ser não espiritual. Desta forma, através do estado de quietude temos a paciência que nos permite bem conduzir o amor e nos livrar do "mau instinto".
"Este é meu instinto que o aflige em cima e o aflige embaixo. E se não fosse o mau instinto não encontrariam inimigos ao ser humano no mundo..." Zohar – Vayishlach.
Emuná V’Bitachon.Rav Meir

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