quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

por que ser judeu?

Por que ser judeu?Uma carta para meus filhos
Queridos Judah, Micah e Aviva
Diz uma tradição judaica que os pais devem deixar aos seus filhos um tzavaah, um testamento ético no qual expressam suas preocupações e expectativas em relação a seu futuro. Este costume remonta à época de Isaac, que abençoou seus filhos Jacob e Esaú. Jacob, por sua vez, chamou seu filhos e lhes disse: "Venham juntos, para que eu possa falar-lhes sobre o que acontecerá nos dias que estão por vir" (Gênese 49:1). Eu não ouso prever o futuro, mas gostaria de lhes falar sobre o nosso futuro como judeus.Embora isso lhes possa parecer inoportuno, hoje, algum dia, cada um de vocês se perguntará "Por que ser judeu?" Esta é uma pergunta não muito comum, pois provavelmente vocês nunca se perguntarão "Por que ser americano?" ou "Por que ser homem ou por que ser mulher".Eu gostaria que, para vocês, sua identidade judaica fosse sempre um fator positivo. No entanto, não gostaria que deixassem de refletir sobre o seu judaísmo, da mesma maneira como refletem sobre os demais aspectos da sua vida. Tenho certeza que perceberão que sua identidade judaica envolve mais do que apenas reflexão. Vocês descobrirão que ser e permanecer judeu exigirá uma tomada de decisão e uma atuação constante.Nenhum pai pode ter certeza de que seus filhos continuarão sendo judeus. Vocês podem concluir que não há espaço em seu coração para as questões ligadas ao povo judeu. Vocês podem considerar outras tendências espirituais mais atraentes ou se satisfazer em ser seres humanos dignos. Como pais, esperamos ter construido um lar e uma vida em comunidade nos quais ser judeu será uma escolha inevitável. Sabemos, no entanto, que vocês farão a sua própria escolha, a despeito de nossa escolha como pais. Por que ser judeu? Poderia dar-lhes várias respostas. Poderia dizer que vocês nasceram judeus, cresceram judeus e jamais conseguirão ser algo diferente. Sei que vocês podem fazer outras escolhas, inclusive uma tão séria quanto trocar sua identidade por outra. Mas, mesmo que vocês neguem sua condição judaica, haverá sempre outros para lembrá-los quem são. Vocês devem estar preparados para assumir os valores positivos do que são, pois os outros serão menos generosos.Sempre me lembro de um diálogo de Freud com um amigo judeu que não pretendia educar seus filhos de acordo com a tradição judaica. Freud lhe disse: "Se você não deixar o seu filho crescer como judeu, você o privará de fontes de energia insubstituíveis. Ele deverá lutar como um judeu e você deve ajudá-lo a desenvolver toda a energia de que necessitará. Não lhe tire esta vantagem". Quais são as fontes insubstituíveis mencionadas por Freud? Espero que sejam a característica judaica de superar os obstáculos, a busca pela perfeição e a capacidade de ver o mundo como este pode ser, não apenas como o é.Poderia também apelar para os sentimentos de lealdade. Pedir-lhes que não abandonem a religião que é sua desde o seu nascimento, a fé de seus pais e de seus ancestrais. Poderia dizer que o D'us do judaísmo é meu D'us e que o seu povo é o meu povo. Não acredito que o judaísmo tenha o monopólio da verdade, mas realmente me sinto próximo dos mitos sagrados do meu próprio povo.Vejo-me perguntando quem eram meus ancestrais, quais os livros que leram e quais as suas crenças. A certeza de que refletiram sobre os mesmos temas sobre os quais reflito, de que atravessamos os mesmos rios e paramos nos mesmos pontos, dá-me um sentimento de continuidade e de pertencer que eu não encontraria em outra fé.Sei que não posso esperar que tenhamos as mesmas opiniões políticas que eu ou escolham a mesma carreira que escolhi. Então, por que devo esperar que vocês sejam judeus apenas por causa de sua herança? O mundo precisa que vocês sejam judeus. A sociedade moderna enfrenta novos e inimagináveis desafios. Do ponto de vista puramente intelectual, o judaísmo é uma das mais antigas e ininterruptas culturas da civilização ocidental. É um segredo inestimável para entender a civilização. A cultura judaica teve um papel fundamental na transmissão da cultura clássica grega e romana ao Ocidente durante o Renascimento. Por várias vezes a literatura judaica serviu como instrumento de preservação e disseminação da tradição clássica pelo mundo. A cultura judaica é o tênue elo entre as tradições humanísticas da antigüidade e da modernidade.Reconheço que a causa principal da necessidade da sobrevivência do judaísmo está acima de qualquer explicação racional. Um judeu sabe instintivamente a importância da continuidade judaica, embora possa levar uma vida inteira para explicá-lo a si mesmo. Esta busca de respostas poderá levá-los a fazer cursos, integrarem-se a uma comunidade, visitar Israel ou apenas ler mais sobre temas judaicos. A razão mais forte para serem judeus é a satisfação que vocês podem encontrar em ser parte de tudo aquilo que compõe a vida judaica.Sei que até o momento só falei sobre as razões pelas quais eu acredito que este empreendimento que chamamos judaísmo e sobrevivência do povo judeu merece o seu apoio e o seu envolvimento. Se os judeus não se importarem com o judaísmo, quem se importará? E se os judeus deixarem de ser judeus, quem será o representante da crença em um mundo melhor? Mas a verdadeira resposta para a pergunta "Por que ser judeu?" está vinculada a vocês enquanto indivíduos.Se vocês optarem por desistir de sua herança judaica, estarão perdendo algo que não pode ser substituído. Conduzimos nossa vida neste mundo de maneira precária. O judaísmo nos ajuda a navegar no mundo, a preenchê-lo com grandiosidade e a alcançar alguns momentos eternos. Dá-nos uma orientação espiritual que não nega a importância de cada dia e nos ajuda a elevar o mundano. Estou preocupado com a maneira como vocês viverão suas vidas. Ao transmitir-lhes a fé de nossos antepassados, faço-o com a esperança de que vocês usem o potencial que D'us lhes deu para tornar a vida extraordinária.Ser judeu é ser eterno caçador das infinitas maneiras pelas quais podemos realizar D'us em nossas vidas. Um provérbio chassídico incentiva-nos a nos concentrarmos em dois pensamentos: que o "mundo foi criado por minha causa" e que "eu nada sou além de pó e cinzas". Quando nos sentimos pequenos e insignificantes, devemos lembrar que fomos criados à imagem e semelhança de D'us, e que o mundo foi criado por nossa causa. Quando nos sentimos poderosos, devemos lembrar da nossa mortalidade. O objetivo máximo de nossa vida é ser a manifestação de D'us no mundo.Acreditamos que D'us é o ideal supremo ao qual aspiramos em nossa vida diária, em nossas práticas religiosas, em nosso aprendizado e nossas preces. O mundo mais elevado é o mundo ao qual aspiramos, mas também é aquele que só podemos realizar em nosso íntimo, em nossos relacionamentos e em nossa comunidade. Alcançar a realidade transcendental, acima de nós mesmos, é o objetivo espiritual do judaísmo.Meus filhos, esse é o meu tzavaah, meu testamento ético. Lembrem-se, sua vida é como um livro. Escrevam nele o que vocês querem que seja conhecido sobre vocês.
Com amor,
Seu pai
Adaptado do livro "What do Jew Believe? The Spiritual Foundations of Judaism", de David S. Ariel.
Enviado por Leon M.MayerPresidente da Loja Albert Einstein da B'nai B'rith do RJlmmayer@openlink. com.br

judeus na Franca

Betreff:
[judaismoonline] OS JUDEUS NA FRANÇA

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UMA VIAGEM ATRAVÉS DAS SINAGOGAS DA FRANÇAInterior da Sinagoga Cavaillon, FrançaMesmo em sua hora mais negra, no exílio, os judeus encontram a Presença Divina em suas sinagogas e casas de estudos. “Assim diz o Senhor, D’us de Israel: Ainda que os tenha lançado para longe entre as nações, e ainda que os tenha espalhado pelas terras, todavia Eu lhes servirei de santuário, por um pouco de tempo, nas terras para onde foram”. (Ezequiel 11: 16)
Edição 37 - Junho de 2002
Em 1791, após a Revolução francesa de 1789 ter sacudido a França e a Europa com seu lema “Liberdade, igualdade e fraternidade” , os judeus que viviam em território francês foram emancipados, tornando-se cidadãos franceses e passando a ter total liberdade de culto.Hoje, mais de duzentos anos se passaram desde que os revolucionários franceses, após uma série de hesitações e prorrogações, decretaram a emancipação de todos os judeus da França e Napoleão criou estruturas administrativas para definir o judaísmo frente à nação francesa.O judaísmo, na França,vive em sua plenitude, neste século 21, apesar de nuvens sombrias do anti-semitismo estarem toldando o brilho de suas sinagogas. A tradicional sinagoga, o Beit Haknesset dos judeus, torna-se a partir daquele período um monumento, uma instituição que muito nos revela sobre a vida dos judeus franceses e da cultura judaica, sob o contexto da emancipação. Como não se impressionar com a vitalidade de uma minoria – apenas 90 mil pessoas – que consegue edificar 250 sinagogas em um período de meros cem anos após sua emancipação? Hoje, a fisionomia do judaísmo francês se transformou. Não são mais as crianças das regiões da Alsácia-Lorena ou de Bordeaux que são a sustentação da comunidade judaica. São os filhos e netos dos sobreviventes da Shoá, do Holocausto; são os refugiados e repatriados da África do Norte que reavivaram um judaísmo quase destituído de cor e de vida.Os judeus na história da FrançaA história dos judeus na França foi marcada por períodos de perseguição, expulsão e restrição de liberdade, sem direito à cidadania. A situação começou a mudar após a Revolução de 1789, culminando com a nova constituição que passa a vigorar dois anos mais tarde e, entre outros atos importantes, emancipa a população judaica do país. Uma situação bastante diversa da vigente durante o Antigo Regime, quando a maioria dos judeus não existia oficialmente. Às vésperas da Revolução Francesa, havia cerca de 40 mil judeus no país: os sefaraditas ou portugueses, mais abastados e integrados, viviam no sul e no oeste da França, na região de Bordeaux; os ashquenazitas – estimados em cerca de 30 mil – com menos recursos, viviam no norte e no leste do país, a região da Alsácia-Lorena, falavam iídiche e mantinham uma estrutura comunal autônoma. A partir de 1791 os judeus passam ser considerados cidadãos franceses israelitas.Ao tomar o poder, Napoleão Bonaparte tenta impulsionar o processo de emancipação e integrar, ainda mais, as comunidades judaicas na vida francesa. Após concluir a reorganização da Igreja Católica e Protestante, na França, mantendo-as sob o controle do estado, o imperador desejava regularizar os assuntos judaicos de maneira semelhante. Queria definir a posição dos judeus frente ao estado e estabelecer um novo conjunto de instituições judaicas. Como parte desse processo convoca uma “Assembléia dos Judeus Notáveis” e, em 1807, um “Grande Sinédrio”, composto por rabinos e intelectuais leigos.Em 1808, logo após a reunião do Grande Sinédrio, um edito imperial estabelece, na França, um sistema de consistórios - juntas de rabinos e leigos, para administrar os assuntos judaicos. De acordo com este modelo, o Consistório Central de Paris, nomeado pelo Ministério, supervisiona os outros consistórios distritais. Além de manter e gerir as sinagogas e outras instituições religiosas e zelar por sua ordem, os consistórios fiscalizam a aplicação dos decretos e encarregam-se da distribuição dos impostos. Com a lei de 8 de fevereiro de 1831, o culto israelita passa a ser equiparado ao das outras religiões e recebe um orçamento do Estado.
Durante todo o século 19 os consistórios desempenham um papel primordial na vida religiosa e administrativa dos judeus da França. Atuam como interme-diários obrigatórios entre o Estado e as comunidades, recebem autorização para adquirir terrenos e construir edifícios em nome das comunidades e chegam, mesmo, a ser considerados como “donos” das sinagogas.As sinagogas após a EmancipaçãoAs sinagogas construídas na época muito revelam sobre a vida dos judeus emancipados, com seus dias de glória e de derrota. Pode-se ver a arquitetura posta a serviço da redefinição ideológica pela qual passava o judaísmo francês. A vida judaica abre-se à modernidade, sob o efeito da mudança de seu status e de sua mentalidade. Com a emancipação, as comunidades fazem das sinagogas um símbolo da sua suposta “regeneração” e de seu desejo de se inserir no contexto da França revolucionária e no ambiente das cidades em que viviam. Ao passar da condição de exilado para a de cidadão, os judeus deixam de lado a prática de construir sinagogas simples, às vezes escondidas em ruas pequenas e secundárias. Em seu lugar, surgem obras monumentais que retratam o seu sentimento de liberdade e atestam a sensação de finalmente estarem integrados e instalados no país.Os rabinos do século 19 aprovam a construção de sinagogas com tamanha arte e pompa, pois no judaísmo é apropriado adornar e embelezar a casa de orações como mais uma forma de se honrar a D’us. O uso da arte nas sinagogas é um mandamento justificado, Hidu mitzvá, segundo o qual deve ser adicionada uma dimensão estética a todos os objetos religiosos.Na realidade, não existe um estilo arquitetônico que possa ser chamado de “tradicionalmente judaico”, na França nem em outros países, talvez em virtude dos séculos de opressão e de expulsão que não permitiram aos judeus desenvolver um estilo próprio na construção de seus locais de oração. Por isso, é interessante ver como, na ausência de modelos e regras precisas, os arquitetos criaram uma nova concepção ao construir as sinagogas, adotando novos estilos, usando fachadas expressivas, novos motivos decorativos. Procuram inspiração na Antigüidade bíblica e na única referência disponível em seus livros sagrados, em suas canções nostálgicas, em sua memória coletiva: o Templo de Salomão, em Jerusalém, duas vezes destruído e sempre presente nos sonhos e anseios do povo judeu.As sinagogas construídas a partir de 1791 passam a ser produto de uma curiosa mistura de fundamentos judaicos com a arquitetura ocidental, fortemente impregnada de elementos vindos do cristianismo. Na França, atingem o seu esplendor no final do século 18. Os resultados foram extraordinários: um conjunto de monumentos esplêndidos considerando- se a modéstia de uma comunidade que contava aproximadamente 90 mil pessoas no fim do século 19. A maioria das sinagogas construídas entre 1791 e 1830 seguem o estilo do “schil”- apesar de suntuosas, no interior, as fachadas eram simples, discretas e quase imperceptíveis. A única sinagoga que foge a este padrão é a de Bordeaux.O schil, como os judeus ashquenazim chamavam o seu local de orações e de estudos, geralmente era uma construção simples, seguindo a situação que lhes fora imposta antes da emancipação. Essa designação se aplicava, sobretudo, a um local interno, situado muitas vezes no andar superior de uma casa construída no meio de um contexto hostil, numa rua de judeus, num vilarejo da Alsácia-Lorena ou dentro de um gueto. Às vezes, sob o mesmo teto, podiam-se encontrar uma sala de orações, uma de estudos, a mikvê e um forno comunitário para assar as matzot para Pessach.Foi determinante na evolução deste estilo, encontrado em grande parte da França pré Revolução, a proibição que pesava sobre os judeus de construir sinagogas e a grande intolerância das comunidades no seio das quais viviam. Um exemplo dessa animosidade foi a ordem do Conselho Real de Colmar, em 1726, de destruir sinagogas que haviam sido construídas sem a devida autorização.Nas regiões da Alsácia, Lorena, Nancy, Metz e outras, as sinagogas seguiam tal padrão de simplicidade. Exceção constituíram as de Nice e do Condado de Venaissin, perto de Avignon, hoje, Vaucluse. Apesar de as mesmas imposições se aplicarem aos judeus dessas áreas, suas casas de oração eram interiormente muito suntuosas. O Condado de Venaissin era um estado papal: um enclave, dentro da França, cedido ao Papa. Este confinou os judeus da região em pequenos guetos, em Carpetras e Cavaillon. Este último era conhecido como o gueto de “la Carrière” (termo provençal que significa “rua”).Mesmo depois da emancipação, uma certa intolerância subsistia nessas regiões. Isto é comprovado pelo fato de as sinagogas raramente serem de frente para a rua. Em Venaissin, as sinagogas sofrem restrições apesar de construídas dentro das “Carrières”. Mas, mesmo assim, o schil de Carpentras e o de Cavaillon tornaram-se famosos por sua linda decoração, com seu echal (o altar central) elevado e a ricamente ornada cadeira de Eliahu ha-Navi, suspensa.A magnífica sinagoga de Cavaillon foi reconstruída em 1772, com o nome de Contadine. A sinagoga era dividida em três níveis: o mais baixo era usado para o ritual de lavagem das mãos, netilat iadaim, além de abrigar um forno para assar matzot, os pães ázimos de Pessach. Contrastando com essa simplicidade funcional, os níveis superiores tinham luxuosa decoração em estilo rococó. É muito interessante ver esse tipo de construção, em vários andares, para as funções comunitárias; especialmente em Carpentras, onde, por trás de uma estreita fachada, muito simples, encontra-se verdadeiro complexo, com vários edifícios.Contudo, é importante mencionar que, apesar de todos os esforços, a emancipação se deu lentamente. Até 1822, os judeus de Paris não possuíam sinagogas nem outros edifícios comunitários de porte. Espalhavam-se entre várias casas de orações e de estudo, pequenas e dispersas, localizadas principalmente no bairro do Marais. O schil da rua Saint Avoye, construído em 1796, recebeu o pomposo título de “sinagoga consistorial” . No entanto, e apesar de ser maior que as outras, contém apenas 107 lugares para homens e 85 para mulheres.Somente em 1819 os judeus de Paris receberam a autorização real para a construção da primeira sinagoga da cidade, na rua Notre Dame de Nazareth. Era chegada a hora desta justificada e esperada permissão. Em 1822, a comunidade celebra oficialmente, com grande pompa, a inauguração de uma magnífica sinagoga, como que a testemunhar que o período de discrição nos edifícios comunitários judaicos havia terminado.O sistema de consistórios, criado em 1808 por Napoleão, perdura até nossos dias, com modalidades um pouco diferentes. Para os rabinos e os consistórios, o sentido representado pelas três denominações talmúdicas – Beit Haknesset, Beit Hatefilá e Beit Hamidrash, respectivamente, casa da assembléia, casa das rezas e casa dos estudos – permanece o ponto primordial das sinagogas. Mas estes importantes conceitos, de oração e estudo em congregação, eram transformados por um caráter oficial e pomposo. E estas transformações são evidenciadas pela evolução na arquitetura das casas de oração francesas. Já quase no fim do século 19 surgem as sinagogas financiadas pelos mecenas judeus, como a família Rothschild. Surgem belos trabalhos dos arquitetos judeus, entre os quais Aldrophe, Ulmann, Poutremoli, Bechmann e Hess. Deve-se aos Rothschild o financiamento da construção das sinagogas de Paris e da província: Boulogne, Neuilly e Chasseloup. Outras famílias abastadas oferecem preciosos objetos de culto, candelabros, adornos e mantos de Torá, bem como fino mobiliário. A Sra. Furtado Heine, dedicou-se à construção da sinagoga de Versalhes. O banqueiro de origem bordolense Daniel Iffla financia a construção do templo de rito sefaradi em Paris, na rua Buffault (1877) e de várias outras sinagogas, em Arcachon (1879), Bruyerès (1903), Tours e Tunis. Grandes famílias sefaraditas como Allegri, Astruc, Sciama e Paz, também participam na construção de sinagogas. Com a chegada dos judeus da África do Norte, várias sinagogas mais, de rito sefaradi, são construídas: Neuilly, Saint Lazare e outras.Na grande sinagoga da rua da Victoire segue-se o rito ashquenazi. Em 1857, os judeus poloneses fundam nova sinagoga, na rua des Rosiers, em Paris.Nas últimas décadas, graças à chegada dos judeus do leste, sobreviventes do Holocausto, e dos da África do Norte, chegou a 800 mil o número de judeus na França. Talvez, os fundadores dessas casas de oração achassem “exótica” a forma como é, hoje, praticado o culto nessas sinagogas, segundo os costumes das comunidades que as freqüentam. Mas, não se pode negar que são uma imagem maravilhosa da sobrevivência do judaísmo francês.As sinagogas da emancipação são monumentos que têm sua presença concreta, inscrita na vida das cidades. Elas atestam a liberdade de consciência e a igualdade cívica enfim reconhecidas aos judeus. “Como são eloqüentes, essas rezas mudas que o talento do artista soube animar!”, proclamava o grande rabino Zadoc Kahn diante da sinagoga da rua da Victoire.Ou como afirmou, certa vez, o Grão-Rabino Joseph Sitruk: ...”Não é significativo lermos, até hoje, nas sinagogas que se transformaram em bibliotecas ou centros culturais, trechos como os Salmos ou a Gênese, que atestam a vida que há em nossas orações, que vão além das paredes de uma comunidade? O interior da sinagoga – construção e reunião de fiéis, verdadeira escada de Jacob – como o interior de nós mesmos – não seria esta a imagem do santuário que cada um deve erguer ao Eterno, em seu coração? E o culto exterior, não seria a expressão do culto interior? ...Em nossas sinagogas em todos os vilarejos, de Bayonne a Bergheim ou Schalbach, as palavras de Isaías proclamam aos olhos do mundo: “Minha casa será chamada de Casa de Orações para todas as nações” (Isaías 56:7).

judeus no marrocos

HISTÓRIA DAS COMUNIDADES
Judeus no Marrocos Foto Ilustrativa
Edição 55 - dezembro de 2006
A milenar saga judaica no Marrocos, onde os primeiros judeus se estabeleceram ainda quando Salomão reinava sobre Israel, está intimamente ligada à conturbada e, por vezes, sangrenta história do país.
Invadido no decorrer de milênios por inúmeros povos - até a chegada dos árabes, que trouxeram o Islã e mudaram para sempre a região - o Marrocos localiza-se no norte da África, na região mais ocidental do Magrebe, em árabe, "lugar onde o sol se põe".
A falta de documentação não permite determinar com exatidão quando os primeiros judeus chegaram à região e, mais especificamente, ao Marrocos. Há provas tangíveis de uma presença judaica a partir da destruição do Segundo Templo, em 70 E.C., mas há estudiosos que acreditam ser bem mais antiga, remontando ao período do Primeiro Templo. Para apoiar a tese, citam inúmeras tradições. Entre estas, uma, segundo a qual, na época do rei Salomão, mercadores judeus percorriam a região em busca de ouro. Alguns deles se teriam estabelecido no Saara marroquino. Já os judeus de Ifrane, cidade ao sul do Marrocos, acreditam descender da tribo de Efraim, uma das Dez Tribos exiladas durante o período do Primeiro Templo.
Ao chegar à região, os primeiros judeus lá encontraram os berberes, povo que até hoje representa importante parcela da população marroquina e cuja história se entrelaça com a da comunidade judaica local.
O domínio romano
No ano de 70 E.C., após ter esmagado na Judéia a Grande Revolta, Tito, general romano, expulsa os judeus da Terra Santa dispersando- os por todo o Mediterrâneo. Alguns milhares se estabelecem no norte da África - inclusive na área que hoje é o Marrocos. A presença judaica na região é atestada pelos artefatos arqueológicos descobertos em Volubilis e por lápides com inscrições em hebraico, que remontam ao século 2 E.C.
Na época, as comunidades judaicas marroquinas eram bem organizadas e possuíam grande autonomia sobre os assuntos internos. Mantinham intenso contato com a Terra Santa, havendo mesmo registros históricos de que Rabi Akiva visitou várias comunidades do Magrebe.
Tal tranqüilidade sofre seu primeiro grande revés quando, no século 4, o cristianismo se torna a religião do Império Romano. Discriminados, os judeus vêem seus antigos direitos civis abolidos e suas sinagogas transformadas em igrejas. Muitos deixam as cidades litorâneas, refugiando-se entre os berberes, nas montanhas Atlas.
Por um breve período, por volta de 406 E.C., quando os vândalos, tribo germânica, conquistam o Norte da África, os judeus voltam a ter liberdade religiosa e independência comunitária. Mas tal período de bonança chega ao fim quando os bizantinos tomam a região. O imperador Justiniano desencadeia um período de cruel perseguição aos judeus.
E mesmo quando visigodos, outro povo germânico, tomam o Marrocos após conquistar a Espanha, a vida dos judeus não apresenta melhora. As perseguições e as conversões forçadas fazem com que milhares deles abandonem a Espanha e as cidades da costa marroquina, buscando mais uma vez refúgio entre os berberes.
Início do domínio islâmico
Por volta de 630, surgia o Islã, novo poder militar e religioso que mudaria para sempre a geopolítica da região. Bastaram apenas quatro décadas para que os exércitos árabes dominassem todo o Norte da África. Para os judeus, a conquista árabe foi um período de grande sofrimento, em que inúmeras comunidades foram totalmente arrasadas.
Os berberes do Atlas resistiram à invasão islâmica e um grande número de judeus se aliou a eles, juntos organizando uma resistência armada que duraria 25 anos. É desse período a história de Kahena, famosa rainha judia da tribo berbere de Jerawa. Principal líder na luta contra as forças islâmicas, entre 687 e 697, Kahena conseguiu mobilizar seu povo nos Aures, atual Argélia, a leste das montanhas Atlas. Sua derrocada marcou o fim da independência das tribos berberes, que então se submetem ao Islã. Serão os seus guerreiros - e não os árabes - os que subjugaram a maior parte do Magrebe em nome do islamismo.
Os primeiros a contar a história de Kahena e das tribos berberes judaizantes resistentes à invasão islâmica foram os historiadores árabes do século 7, e, mais tarde, Ibn Khaldoun, filósofo muçulmano do século 14. Já em tempos modernos, estudiosos como H. W. Hirschberg questionam o fato e até mesmo a possibilidade de que tribos inteiras se tenham convertido ao judaísmo. Apesar de não descartar totalmente a teoria, apontam para o fato de não haver registros de tais conversões, nem tampouco ser a história mencionada em documentos judaicos anteriores ao século 15.
A retomada das atividades comerciais, aliada ao fato de serem boas as relações entre os governantes e os judeus, faz com que muitos voltem à região, reconstruindo a vida judaica. E, quando da conquista da Espanha, em 711, por Tarik ibn-Ziyad, governador do Magrebe Ocidental, as comunidades judaicas marroquinas passam a ter contatos com as academias da Babilônia tornando-se parte da tradição babilônico-sefaradi.
Somente as comunidades do interior, menores e mais isoladas, continuaram a viver como sempre o tinham feito, muitas destas sobrevivendo, intocadas, até meados do século 20.
Vida judaica sob o Islã
A presença muçulmana no Marrocos perdura até hoje, e não há como descrever, de forma simplista, as condições em que os judeus viveram desde a conquista árabe até a chegada dos europeus, quase mil anos mais tarde minoria permanente, os judeus sofriam mais do que os demais habitantes com a instabilidade política da região, onde, no decorrer dos séculos, com espantosa regularidade, os períodos de paz eram suplantados por outros, de turbulência e matança. A verdade é que sua vida e bem-estar estavam à total mercê dos governantes. Classificados de dhimmis - não-muçulmanos que se recusavam à conversão - os judeus eram passíveis de obediência a uma série de leis, cujo rigor dependia do humor de cada governante. Além do mais, para terem permissão de viver em terras muçulmanas, eram obrigados a pagar altos impostos, talvez suportáveis em tempos de paz, mas exorbitantes em épocas de guerra. Tais tributos eram a maior fonte de ingresso nos cofres públicos e essa situação fiscal explica o interesse dos mandantes na prosperidade judaica e no fato de que, assim que novas cidades eram fundadas, os sultões criarem mellahs - bairros reservados aos judeus. Explica também o número reduzido de conversões forçadas, já que, uma vez convertidos, representariam prejuízo financeiro para o Erário público.
Dinastias trás dinastias no poder
Um período glorioso do judaísmo marroquino teve início no século 9, após a subida ao trono de Idris II. Sua benevolência perante a comunidade judaica permitiu o desenvolvimento do judaísmo marroquino, que recebe o afluxo de judeus de outros pontos do Norte da África. O Sultão lhes permite estabelecer- se na recém-construí da capital, Fez, que se torna importante centro do judaísmo mundial. Segundo relatos, mais de 90 mil viviam na cidade, inclusive vários dos maiores sábios da época. Entre estes, podemos citar Rabi Yitshak Al- Fassi (ver artigo), Rabi Judah ben David Hayyuj, Rabi Yehuda ben Koraiach e Rabi Dunash ibn-Labarat. O próprio Maimônides deixou a Espanha para viver e estudar em Fez, durante vários anos.
Mas a dinastia idríssida não consegue manter-se no poder e sua queda dá início a um período de turbulências, em que o Marrocos é governado por uma sucessão interminável de dinastias curtas e instáveis. Um período nada favorável aos judeus. Quando, em 1032, Fez cai em mãos berberes, a cidade é devastada e 6 mil judeus massacrados, cabendo idêntica sorte aos que residiam em outras cidades marroquinas.
No mundo muçulmano, os conflitos entre as dinastias religiosas, que se sucediam no poder, era exacerbado por disputas doutrinárias quanto ao rigor da aplicação da lei islâmica. E quando uma dinastia liberal era substituída por uma mais extremista, os judeus eram expostos aos riscos inerentes à sua condição de dhimmis. Contudo, não se pode afirmar que sua vida, no país, fosse pior do que a do restante da população local - até a chegada dos almóadas, em árabe os al-Muwahhidun, a dizer, "os monoteístas".
Rigidamente intolerantes com os não-muçulmanos, os almóadas conquistam o Marrocos em 1147, ocupando sucessivamente grande parte da Espanha, e se mantendo no poder até o ano de 1269. Iniciava-se um século de intenso sofrimento para a comunidade judaica. Relatos da época falam de massacres, conversões forçadas e destruição em massa. Até mesmo o poderoso reino judaico localizado no vale do Draa Oriental, que há séculos era independente, chega ao fim com os conquistadores.
Em um de seus poemas, Rabi Ibn Ezra descreve a desgraça que se abateu sobre os judeus marroquinos, a quem os almóadas davam como opção a conversão, a morte ou o exílio. Apesar do perigo, milhares deixam o país. Entre os que lá permaneceram, muitos escolhem a morte. A maioria, no entanto, para salvar a vida, aceita pro forma o Islã, enquanto secretamente continuavam praticando o judaísmo. Um dos momentos mais dramáticos para essa comunidade foi quando, consultado sobre a escolha feita pelos cripto-judeus, um sábio que vivia fora do Marrocos deu uma resposta devastadora: teria sido melhor escolher a morte à conversão. As conseqüências foram gravíssimas. Muitos julgaram que se era esse o caso, era melhor, então, abraçar totalmente o Islã. Maimônides, que, à época, residia em Fez, levantou-se em defesa dos cripto-judeus, publicando a famosa "Carta sobre a Apostasia", Igereth ha-Chamad. Nesta, Maimônides rechaça, com veemência, a responsa do sábio, afirmando que este certamente desconhecia a realidade dos que viviam sob o jugo almóada. Ademais, no decorrer de nossa história, outros judeus haviam sido forçados a aceitar, na aparência, uma fé que não era a nossa, fato que não os transformara, por si só, em não judeus. No entanto, advertia Maimônides, o ideal era abandonar os países onde fosse difícil praticar a nossa religião, abertamente.
Com o passar do tempo, de muçulmanos radicais os almóadas se transformaram em governantes refinados. A situação dos judeus também melhorou; no início do século 13 cessaram as perseguições e, aos poucos, foi recuperando seu fôlego o judaísmo marroquino - uma sombra, porém, da vida existente antes da catástrofe. Quando, em 1258, toma o poder uma nova dinastia berbere, os merínides, que reinará até 1456, os judeus entram em novo período de tranqüilidade e prosperidade.
Diáspora sefaradita
Após os violentos pogroms de 1391 e a instalação da Inquisição, levas de judeus deixaram a Espanha, em grande parte já sob domínio cristão. E, entre as paragens que se apresentavam para se estabelecerem, estava o Marrocos. O fluxo aumentou após 1492, quando, entre os 300 mil judeus que preferiram deixar a Espanha a se converter ao cristianismo, muitos escolheram novamente esse país. Ciente de seu talento e elevada cultura, bem como das vantagens que suas habilidades comerciais trariam para o reino, o Sultão abre-lhes as portas.
Em 1497, foi a vez dos judeus que viviam em Portugal ter que optar entre exílio ou conversão, e, outra vez, refugiaram-se no Marrocos, aos milhares. E, nos séculos posteriores, esse mesmo país virou um porto-seguro para conversos que escapavam da Inquisição, ansiosos por retornar ao judaísmo.
Os sefaraditas, chamados de megorashim, ou seja, exilados, fixam-se principalmente no litoral Norte, onde se tornam a maioria. Criam suas próprias comunidades e sinagogas, vivendo conforme suas tradições e costumes. A princípio, os judeus locais, os toshavim ou "residentes" , tratavam os refugiados ibéricos com desconfiança. Estranhavam seus hábitos, seus min'haguim; até o idioma era diferente, pois enquanto os sefaraditas falavam espanhol ou português, os toshavim se comunicavam em judeo-árabe. Com o tempo, apesar da enorme influência dos oriundos de Sefarad sobre a vida religioso-cultural das comunidades judaicas do Marrocos, eles próprios acabaram por assimilar aspectos da cultura judaica local, criando uma nova síntese tipicamente marroquina, assim como um novo dialeto, um ladino arabizado, chamado de Haquitia.
Graças a seu talento para o comércio e contatos com toda a diáspora sefardi, os judeus ibéricos se tornaram prósperos mercadores. Seu prestígio junto ao Sultão aumentou ainda mais a partir de 1600, quando os portugueses tomam áreas do litoral atlântico marroquino. As raízes européias dos "exilados" e suas habilidades de negociadores e diplomatas, tornavam-nos indispensáveis entre os governantes árabes e os reis católicos.
A Era moderna
No século 17, instala-se no poder nova dinastia berbere, originária do Sudeste marroquino, os alaouitas, que constituem a família real do Marrocos até hoje. Seus sultãos, buscando contrabalançar as constantes pressões dos turcos otomanos, que, em fins do século 16 já haviam conquistado todo o Magrebe, procuram desenvolver ligações comerciais e diplomáticas com as nações da Europa Ocidental. Nesse cenário, era preponderante o papel dos grandes comerciantes judeus, que não só obtêm dos sultãos virtual monopólio do comércio ultramarino, como se tornam os responsáveis pela diplomacia do país e pela negociação de tratados internacionais. Para os europeus, também, os judeus eram praticamente indispensáveis, sendo os únicos intermediários plausíveis entre o mundo islâmico e o europeu.
Para proteger seus interesses as nações européias começam a instalar consulados no Marrocos, que podiam estender sua proteção a representantes e funcionários locais, via de regra, judeus. Tal "representação judaica" dos poderes europeus provoca um forte ressentimento entre as massas berberes, fazendo com que, até o século 20, os judeus servissem de bode expiatório em qualquer instância em que os muçulmanos discordassem das medidas adotadas pelos estrangeiros.
Fontes judaicas relatam a "dança" das fortunas judaico-marroquinas , na Era moderna. Durante o reinado de Moulay Ismail, por exemplo, em que o Marrocos atingia seu apogeu, dois dos mais importantes conselheiros reais eram judeus, Moshé Ben Attar e Youssef Memran. Mas, com a morte de Ismail, em 1727, o país entra em um período de anarquia durante o qual são arrasadas comunidades judaicas inteiras, no interior. E, se sob o sultanato de Mulay Muhammed (1757-1790), os únicos diplomatas enviados a países ocidentais eram judeus marroquinos, seu filho Mulay al-Yazid encarrega-se de massacrar milhares de judeus em Tetuan, Marrakesh e Meknés.
Um outro fator que influenciava as condições de vida dos judeus marroquinos era a sua posição econômica. Enquanto grandes mercadores e diplomatas formavam uma pequena mas poderosa classe alta, a maioria deles vivia na total penúria, como seus vizinhos muçulmanos. Em busca de um futuro melhor, a partir do século 19 inicia-se um intenso processo de emigração para a Europa, América do Sul, inclusive para a Amazônia, e para Eretz Israel.
O único raio de esperança nesse período foi a chegada, ao Marrocos, da Alliance Israelite Universelle, que abre sua primeira escola em Tetuan, em 1862. Sua missão era dar aos judeus uma educação moderna, francesa, que os ajudasse a melhorar de vida. Em 1912, a Alliance já tinha mais de 27 escolas, em todo o território marroquino, com acima de 30 mil alunos.
A difícil situação dos judeus marroquinos leva, em 1864, sir Moses Montefiori àquele país. Recebido pelo sultão Sidi Mohammed Abd-al-Rahman com grandes honras, Montefiori intercede em favor dos judeus junto ao mesmo, que tudo promete mas nada faz para mudar o status quo.
Protetorado francês
No Marrocos, o domínio colonial inicia-se formalmente em 1912, quando o país é dividido entre Espanha e França, que fica com a maior parte. Tânger é declarada Zona internacional. O tratado provocou uma onda de violência contra os judeus de Fez, que têm a terça parte de seu bairro incendiado, deixando 60 mortos e outras várias dezenas de feridos.
Os franceses governam o país por mais de 45 anos, mantendo o sultão no poder, com um papel apenas figurativo. A mudança é notória; todo o Marrocos é modernizado, urbanizando- se as cidades. Para os judeus locais, o domínio francês traz algum alívio, terminando com a segregação que lhes fora imposta. O processo geral de urbanização faz com que, em número crescente, deixem o interior e se estabeleçam nas cidades, onde lhes é permitido viver fora dos mellahs. Contudo, sob o aspecto de sua situação legal, não há grandes avanços. Eles não detêm igualdade de direitos e vêem frustrada a esperança de receber cidadania francesa, diferentemente do que ocorrera na Argélia.
Os judeus logo se adaptam, e com entusiasmo, à cultura européia, sob cuja influência surge uma elite judaica moderna. Mas, felizmente, a assimilação em massa que se viu na Argélia não se repetiu no Marrocos, graças à força da tradição rabínica marroquina, além da intensa pressão comiunitária sobre seus membros.
A Shoá
Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, a população judaica do Marrocos somava 225.000 pessoas. Com a queda da França em mãos alemãs, a partir de 1940, o Marrocos francês passa a seguir as determinações do governo de Vichy. No entanto, o sultão Mohamed ben Youssouf , futuro rei Mohamed V, recusa-se a aplicar as leis raciais e a autorizar a deportação dos judeus. Apesar disso, o governo de Vichy "interna" em campos restritos os judeus "estrangeiros" e obriga os "locais" a voltar aos mellahs.
Entre os "projetos" nazistas estava a criação de um campo de concentração no Saara, mas o desembarque das forças americanas, em 1942, no Marrocos e Argélia, coloca um fim no sinistro plano. Para celebrar esse milagre, os judeus do Marrocos fixaram o dia 2 de Kislev do ano de 5703 como um outro Purim - e o denominam "o Purim de Hitler".
Com o fim da 2a Guerra e a criação do Estado de Israel, em 1948, a violência anti-judaica torna-se freqüente. Apesar da mão forte do governo sobre os responsáveis, o clima de instabilidade faz com que 67 mil judeus emigrem para Israel, até 1956, ano em que o Marrocos se torna independente. Ao voltar do exílio e retomar o governo de sua nação, Mohamed V concede igualdade de direitos aos judeus e os insere na vida pública. No entanto, pouco depois, são demitidos todos os que detinham algum cargo oficial. A emigração para Israel é proibida, porém, mais de 47 mil conseguem fazer aliá.
Em 1961, quando Hassan II, o 21o monarca da dinastia Alaouita, sobe ao trono, reverte a política do pai no tocante aos judeus, permitindo-lhes, entre outras benesses, emigrar. Mas, apesar da proteção do Sultão, são intensos, no país, os sentimentos anti-judaicos e as agitações contra a comunidade atingem um nível de pico em 1967, quando da Guerra dos Seis Dias. Naquele ponto, a maioria dos que ainda viviam no país decidem partir de vez. Alguns vão para Israel, outros para a França e Canadá. Calcula-se que, em 1970, 35 mil judeus ainda vivessem no Marrocos, protegidos pelo Rei.
Hassan II foi, sem dúvida, o melhor amigo de Israel, em todo o mundo árabe. Em 1986, recebeu Shimon Peres, então primeiro-ministro do país, e se reuniu com uma delegação oficial de judeus de origem marroquina. Ao falecer, em 1999, assume o trono seu filho, Mohamed VI, seguindo a mesma política paterna em relação a Israel. Quando, no ano de 2000, dois jovens marroquinos tentaram vandalizar uma sinagoga, em Tânger, o próprio Rei, em um pronunciamento pela televisão, afirma que não toleraria qualquer ação contra os judeus.
Mesmo assim, em maio de 2003, homens-bomba atacam quatro entidades judaicas, em Casablanca, e realizam um quinto ataque contra o consulado espanhol. Nenhum judeu ficou ferido nos incidentes, por ser Shabat, não havia judeus nos locais atingidos, mas 29 muçulmanos perderam a vida. O rei Mohammed VI visitou o local de um dos atentados, no próprio dia. E, como demonstração de apoio à comunidade judaica, o governo organiza uma grande manifestação pelas ruas de Casablanca, na qual o Monarca reafirma a tradicional proteção de sua família aos judeus marroquinos.
Protegidos pelo Rei, por volta de 6 mil judeus vivem atualmente no Marrocos, sendo que quase todos em Casablanca. Há pequenas comunidades judaicas em Rabat, Marrakesh, Meknés, Tânger, Fez e Tetuan. Apesar de seu número reduzido, os judeus marroquinos continuam tendo importante papel na vida econômica e política do país. Merece destaque o fato de ser judeu um dos principais assessores do Rei, André Azoulay. Outro aspecto notório é o de que as escolas judaicas e as sinagogas, espalhadas pelo país, recebem subsídio do governo. O Marrocos tornou-se um local de grande interesse turístico para os judeus de todas as partes do mundo, alguns em busca da milenar e fascinante tradição judaico-marroquina; outros, para zorear, ou seja, visitar os túmulos dos Tzadikim, e lá invocar pelas bênçãos e orientações divinas - um costume de grande significado entre nossos irmãos marroquinos, de todas as épocas.
Bibliografia:
Stilman, Norman, The Jews of Arab Lands in Modern Times, The Jewsih Publication Society, N.Y.
Mann, Vivian B, Morocco: Jews and Art in a Muslim Land, Merrell Publishers, Catalogo da exposição do Jewish Museum de New York Artigo publicado na revista Kountrass, L'histoire des Juifs au Maroc, outubro de 2006

ben Gurion

Ben-Gurion
Por Zevi Ghivelder
Foto Ilustrativa
Dentro de três anos, no mês de dezembro, David Ben-Gurion estará completando 120 anos. Isto não quer dizer que ele vá desaparecer, mesmo porque já morreu quando tinha 87 anos de idade e, a rigor, continua vivo.
Edição 43 - Dezembro de 2003
Sim, Ben-Gurion está vivo para todos os judeus, tanto em Israel como na diáspora, que se mantêm fiéis à sua visão de que uma vez constituído um Israel soberano, este seria um estado judaico e não somente um estado para os judeus. De acordo com a autêntica visão messiânica que permeou toda a sua existência, Ben-Gurion avistou no horizonte da história um estado judaico que, conforme registrou em suas memórias, não se destacaria no mundo por sua riqueza material ou conquistas tecnológicas, mas através de sua consistência espiritual, a partir de inamovíveis valores éticos e morais. Essa visão de Ben-Gurion, que pode até parecer utópica, está presente até os dias atuais quando a sociedade israelense se debruça em autocrítica, sobretudo no que diz respeito à manutenção de territórios ocupados. A par das condições políticas e de segurança estratégica que sustentam tal ocupação, há vozes importantes em Israel que a vêem como uma agressão aos princípios éticos que devem pautar a existência de um estado judaico, segundo o postulado de Ben-Gurion. É difícil avaliar como ele reagiria, hoje, diante dessa questão. Em 1967, logo depois da Guerra dos Seis Dias, declarou que o país deveria eliminar qualquer anseio no tocante a ganhos de territórios e que deveria abandoná-los em troca da paz. Mas, na verdade, Ben-Gurion era cético quanto às perspectivas de paz com os países árabes. Disso sou testemunha pessoal.Em janeiro de 1972, estava eu visitando o doutor Albert Sabin, então presidente do Instituto Weizmann, quando ele me disse que tinha um encontro com Ben-Gurion no dia seguinte, a quem apresentaria um projeto educacional cujo conteúdo já não me lembro. A entrevista seria em Sde Boker, no Neguev, e ele indagou se eu gostaria de acompanhá-lo. Ora, que pergunta. Graças ao meu amigo Sabin, pude viver momentos inesquecíveis, talvez os mais significativos em meus anos de profissão. Ben-Gurion chegou ao meio-dia, exatamente na hora marcada, vestindo terno e um casaco de lã pretos, seguido por dois guarda-costas. Apesar de seus 86 anos, vinha com passos determinados. Antes da reunião, falando em inglês, disse que estava com fome. Fomos a um refeitório, acompanhados por um judeu residente na Califórnia, que tinha feito a viagem até o deserto só para tirar uma fotografia ao lado de Ben-Gurion. À mesa, sentou-se ao lado do grande líder, eu mesmo bati a foto e, em seguida, ocupei seu lugar. Serviram-lhe uma sopa de cenouras sobre a qual se concentrou, quase sem falar durante a refeição. Dispensou a sobremesa e, ato contínuo, nos encaminhamos para uma sala onde ele examinaria os papéis levados pelo doutor Sabin. Quando me vi ali fechado, junto aos dois, mal acreditei. Antes de entrar no assunto, o cientista tirou uma fotografia de Ben-Gurion da pasta e pediu que ele a autografasse. O velho, como sempre foi chamado em Israel apesar de ter sido primeiro-ministro com apenas 62 anos de idade, começou a escrever uma dedicatória na margem branca da foto. Parou, virou-se para mim e perguntou: Affection se escreve com um ou dois efes? Respondi os dois efes, mal conseguindo conter a emoção. Parecia incrível, mas numa dedicatória do grande patriarca moderno do povo judeu, endereçada a outro judeu, nascido na Rússia e naturalizado norte-americano, consagrado benfeitor da humanidade, havia uma interferência minha de uma letra, somente uma letra, mas que me significava uma imensidão.Depois dos assuntos objetivos, passei a entrevistar Ben-Gurion, sem fazer qualquer anotação, para extrair o caráter de uma entrevista formal e de modo a deixá-lo à vontade. Primeiro, falou sobre a China, argumentando que um país tão importante, daquela dimensão e com tamanha população, não poderia continuar à margem do contexto internacional. Acreditava que Mao Tse Tung teria que se abrir para o Ocidente, o que acabou acontecendo, naquele mesmo ano, com a histórica viagem de Richard Nixon a Pequim. Abordou a questão dos territórios ocupados. Insistiu que se tratava do único trunfo de Israel para alcançar a paz. Disse-lhe, a propósito, que havia uma notícia no Herald Tribune daquele dia, na qual lhe atribuíam uma declaração segundo a qual ele considerava a viabilidade de ser alcançada a paz. Ben-Gurion respondeu: "A notícia está incorreta. Omitiram minha formulação de paz completa. Eu considero como paz aquilo que a Alemanha e a França, ou os Estados Unidos e o Japão, fizeram depois da guerra. Uma paz que inclua confiança mútua e francas relações comerciais e culturais. Nós até poderemos ter convivência com nossos vizinhos, mas nossas estruturas sociais e políticas são tão diferentes das deles, que dificilmente teremos uma paz completa". Foram palavras proféticas quando se constata o nível de paz que Israel hoje mantém com a Jordânia e com o Egito, na medida que esses dois países emitem, com relação a Israel, um tipo de declaração convencional em inglês e outra, inamistosa, em árabe.Por causa da idade avançada, Ben-Gurion já não falava com absoluta desenvoltura. Perguntou meu nome pelos menos umas cinco vezes e, a cada resposta minha, dizia: "Vem para Israel! Vem para Israel!" Recordou-se vagamente de sua visita ao Brasil, três anos antes, quando o vi de perto pela primeira vez, durante uma recepção na embaixada de Israel, no Rio de Janeiro. Ao ser a ele apresentado pelo então embaixador Itzhak Harkavi, certificou-se do meu nome e disse: "Vem para Israel". Fui, sim, diversas vezes, mas sem me radicar, como "o velho" queria, ou melhor, exigia - não somente de mim, mas de todo o povo judeu na diáspora.David Ben-Gurion, Gruen de família, nasceu em Plonsk, Polônia, no dia 16 de outubro de 1886. Sua mãe, Sheindel, morreu quando ele tinha onze anos de idade, exatamente no ano em que Theodor Herzl promovia, na Basiléia, o Primeiro Congresso Sionista Mundial. Para aquele menino judeu do interior polonês, a Suíça estava mais longe do que a lua e o sionismo, com este rótulo específico, apenas começava a existir. Mas seu pai, Avigdor, advogado e comerciante, já era um sionista. A casa dos Gruen era o centro, em Plonsk, do movimento Chovevei Tsion, Amantes de Sion, precursor do sionismo político. Em vez de estudar numa ieshivá, o jovem David teve uma educação secular, que manteve pelo resto da vida, e foi o fundador do movimento juvenil sionista Ezra, cujos membros renegavam o idioma ídiche, falando apenas hebraico entre si. O restante de sua biografia oficial é mais do que conhecida. Com 18 anos de idade, passou a lecionar numa escola judaica de Varsóvia e aderiu ao movimento sionista socialista Poalei Tsion. Aportou em Jaffa, na antiga Palestina, em 1906, trabalhando a terra em sucessivos agrupamentos coletivos, quando enfrentou toda a sorte de dificuldades e doenças. Como a Palestina estava sob domínio otomano, entendeu que deveria dominar as leis otomanas para defender a causa judaica. Foi estudar direito na Turquia com seu amigo Itzhak Ben Zvi, que viria a ser presidente de Israel. Por causa da primeira guerra mundial, ambos foram considerados suspeitos e expulsos do país. David Gruen, já com o nome hebraizado para Ben-Gurion, rumou em 1915 para os Estados Unidos, onde permaneceu durante três anos. Dedicou-se a aprender inglês e fortaleceu em Nova York o movimento sionista socialista. Ali conheceu a jovem Paula Monbesz, com quem se casou. Se, por um lado, sentiu-se mobilizado pela revolução russa e com o estilo de liderança exercido por Lênin, por outro lado ficou impactado com a democracia norte-americana, que sempre o inspirou. Voltou para a Palestina e deslanchou uma carreira de ativista que o levaria à liderança da comunidade judaica ali existente e a uma posição proe-minente no sionismo internacional. Foi no decorrer desses anos que desenvolveu e solidificou as características de sua personalidade, ímpar em muitos sentidos. Apesar das inúmeras tarefas políticas e sindicais que acumulou e, além dos embates enfrentados tanto dentro como fora do âmbito judaico, encontrou tempo para se tornar um intelectual erudito. Devorou livros de filosofia; leu e escreveu comentários sobre a Bíblia, concluindo que não era somente D'us que havia escolhido os judeus, os judeus também O haviam escolhido; aprendeu o idioma grego para ler Platão no original (já primeiro-ministro estudou espanhol para melhor aproveitar o Dom Quixote, de Cervantes); aprofundou-se no budismo e na obra de Spinoza. Conforme assinalou o escritor israelense Amos Oz, sua forma habitual de comunicação se voltava para a batalha verbal em vez do diálogo; mais do que um filósofo era um ponto de exclamação com temperamento vulcânico; um judeu secular nacionalista que combinava visões messiânicas judaicas com ideais socialistas; um homem com feroz ambição de liderança, extraordinária habilidade política e um senso mais chegado ao sarcasmo do que ao humor. Tinha curiosidade pelas ciências naturais e ignorava obras de ficção, exceto os clássicos. Acima de tudo, era um trabalhador infatigável. Certa ocasião, quando primeiro-ministro, segurou sua equipe no trabalho até tarde da noite. Uma secretária tomou coragem e lhe perguntou: "O senhor nunca descansa?" - "Como descansar, você quer dizer dormir?", respondeu. - "Não, primeiro-ministro, eu me refiro a repousar". - "Eu não entendo. Como é possível alguém ficar sentado olhando para a parede?"Ao longo da trajetória política e humana que percorreu, Ben-Gurion viveu, no meu entender, três acontecimentos absolutamente cruciais e em todos foi bem- sucedido. Se apenas um deles tivesse falhado, a corrente se romperia e é impossível imaginar qual teria sido, em função disso, o destino judaico. O primeiro grande momento deu-se durante e logo depois da Segunda Guerra Mundial. Assim como encorajou milhares de jovens da comunidade judaica da Palestina a se engajarem no exército inglês na luta contra o nazismo, após o conflito passou a combater o poder mandatário britânico, trazendo levas de imigrantes ilegais para a futura nação em embrião. As interceptações efetuadas pelos ingleses, colocando os refugiados do Holocausto novamente atrás de cercas de arame farpado, levantaram a opinião pública mundial a favor do sionismo e culminaram com a votação da partilha da Palestina, nas Nações Unidas, em 1947. Enquanto isso acontecia às claras, Ben-Gurion criou um exército nas sombras, encarregado de comprar armas para a futura guerra pela independência, que ele estava certo que viria. O quartel-general, disfarçado como empresa comercial, ficava em Nova York, num andar do prédio onde se situava a boate Copacabana, comandado com notável eficiência por Teddy Kollek, o hoje legendário prefeito de Jerusalém. O trabalho desenvolvido por Kollek, envolvendo inclusive a compra de navios e aviões, vai além da imaginação, antecipando uma frase que Ben-Gurion diria anos mais tarde: "O difícil a gente faz imediatamente. O impossível leva um pouco mais de tempo". O segundo grande momento correspondeu ao da declaração da independência de Israel. No dia 13 de maio de 1948, véspera da data marcada, a liderança sionista foi notificada de que os Estados Unidos, mais precisamente o secretário de estado, general George Marshall, opunham-se à independência, temerosos das conseqüências que tal ação unilateral poderia causar em todo o Oriente Médio. Parte considerável dos líderes sionistas também se opunha à independência imediata com base em previsões sinistras de derrota. Entretanto, mesmo ciente de que o novo país sofreria um forte e imprevisível ataque armado por parte dos países árabes, Ben-Gurion sabia que, se aquela oportunidade fosse perdida, era impossível dizer quando haveria outra, se é que haveria. Na manhã do dia 14, os membros do futuro gabinete ainda discutiam os termos da declaração de independência. Uns queriam que o texto fizesse menção às fronteiras, tais como definidas pela partilha. Ben-Gurion se opôs: a declaração norte-americana não falava em fronteiras. Na verdade, ele pressentia que estas poderiam vir a ser alteradas em função das batalhas, tal como aconteceu após a celebração do armistício, em Rodes. Os ortodoxos insistiam na inserção do termo "D'us, Todo Poderoso". Os seculares rejeitavam. Prevaleceu a opinião de Ben-Gurion: constaria o termo Rocha de Israel (Tsur Israel), equivalente a D'us. E o nome do país? Uns disseram Judéia, outros Sion. Mais uma vez, Ben-Gurion bateu o martelo: Israel.A cerimônia estava marcada para as quatro da tarde. Enquanto o texto era polido, um artista plástico, Otto Wallisch, percorria a cidade em busca de adereços que ornassem condignamente o salão do Museu de Tel Aviv, onde seria realizada a cerimônia oficial. Depois de muita procura, acabou encontrando um retrato de Theodor Herzl, cujo tamanho insatisfatório foi aumentado com uma larga moldura. Achou duas bandeiras com as estrelas de David, mas estavam tão sujas que tiveram que passar por uma lavanderia rápida antes de serem levadas para o museu. Ben-Gurion tinha corrido até sua casa na rua Keren Kayemet, número 5, para trocar de roupa. O texto final lhe seria entregue na entrada do salão. Seu assistente direto, Zeev Sharef, de posse do documento final, providenciou conduções para os líderes e ele mesmo acabou ficando a pé. Nem sombra de um táxi. Pediu ajuda a um policial que parou o primeiro carro, pedindo ao motorista que levasse Zeev. O homem respondeu: "Não posso. Estou indo para casa. Quero ouvir pelo rádio a declaração da independência". Ao que Zeev atalhou:"Pois se você não me levar, não haverá declaração a ser ouvida". Ele chegou ao museu quando faltava exatamente um minuto para as quatro horas e entregou a declaração a Ben-Gurion.O terceiro momento crucial vivido por Ben-Gurion corresponde ao episódio do navio "Altalena". No dia 12 de junho, Menachem Begin, líder da organização Irgun, que havia cometido ações armadas contra militares ingleses, anunciou que dali a cinco dias chegaria a Israel um navio com mil imigrantes e armas e munições que dariam para abastecer dez batalhões. Begin queria que seus homens, lutando em Jerusalém, ficassem com vinte por cento da preciosa carga. Ben-Gurion respondeu que tudo deveria ser entregue aos combatentes da nova nação, inclusive as armas que a Irgun ainda mantinha em seu poder. Era imprescindível, naquela quadra dos acontecimentos, a união nacional. Begin não se conformou e ameaçou ficar com tudo. "O Altalena" deitou âncora em frente a Kfar Vitkin e os caixotes começaram a ser descarregados. Um oficial da Haganá (ainda não havia o exército regular israelense) entregou a Begin um ultimato: ou as armas eram entregues, ou tudo seria confiscado. Diante da recusa, Ben-Gurion decidiu usar a força. O navio deslocou-se até a costa de Tel Aviv e encalhou sobre os destroços de um velho navio afundado pelos ingleses. Na manhã do dia 22, Ben-Gurion reuniu o gabinete. Seus olhos flamejavam enquanto dizia: "O que está acontecendo coloca em perigo nosso esforço de guerra e, mais importante ainda, ameaça a existência do país. Um estado não pode sobreviver sem que o seu exército seja controlado pelo próprio estado". E enquanto Ben-Gurion se dirigia ao gabinete, Menachem Begin falava de um alto-falante no navio: "Povo de Tel Aviv! Nós, da Irgun, trouxemos armas para combater o inimigo, mas o governo está negando o acesso a elas. Ajude-nos a descarregar. Se há diferenças entre nós, vamos resolvê-las depois". Ao mesmo tempo, no quartel-general da Palmach, corporação ligada à Haganá de Ben-Gurion, seus comandantes, Ygal Allon e Itzhak Rabin, começaram a distribuir granadas a seus homens. Uma lancha passou a trazer a carga para a praia e Ben-Gurion estava perfeitamente calmo quando disse: "Não há jeito. Vamos ter que bombardear o navio". Em seguida, o "Altalena" foi atingido por um petardo e pegou fogo. Mais de cem pessoas morreram. Outras se jogaram ao mar e foram recolhidas por botes, inclusive Begin que, naquela noite, voltou a falar através de sua estação de rádio secreta: "Os soldados da Irgun não vão entrar numa guerra fratricida, mas também não vão aceitar a disciplina de Ben-Gurion". Mas a história demonstrou que a disciplina de Ben-Gurion acabou mesmo prevalecendo. A rigor, ele não conferia ao Exército de Defesa de Israel apenas um valor militar, mas encarava-o como um poderoso centro de integração social, como uma instituição que traria homogeneidade nacional aos jovens judeus que tinham chegado ao país provenientes de todos os cantos do mundo.Foi no trágico episódio do "Altalena", até hoje encravado no âmago dos entrechoques políticos israelenses, que Ben-Gurion promoveu a união do povo de Israel. Ele fez dessa inabalável necessidade de união a sua prática e teoria, partindo do princípio segundo o qual a nova e emergente sociedade judaica, que estivera dividida por dois mil anos, desconhecia qualquer forma de se governar e sequer possuía uma autoridade espiritual centralizada. Na biografia Ben-Gurion, Prophet of Fire, o autor Dan Kurzman escreve que Ben-Gurion era, ao mesmo tempo, humilde e arrogante, tímido e agressivo, alerta e ausente, generoso e mesquinho, comiserado e cruel, sentimental e frio. Muitas vezes tratou aliados com desprezo e admirou adversários, justamente porque estes se atreviam a desafiá-lo. Manobrava o Parlamento como um ditador, mas obedecia cegamente às regras da democracia. Quanto aos seus sentimentos religiosos, confidenciou a um amigo; "Depois de muito ler e de muito meditar, acho impossível provar que D'us não exista".Zevi GhivelderJornalista e escritor
PARASHÁ SHEMOT ze n y

Parashah – SHEMOT – Ex.1:1-6:1
Haftarah – Is.27:6 –28:13; 29:22,23

19 de TEVET de 5768 / 28 de DEZEMBRO de 2007



D’us suscita um líder.
Servidão no Egito: Transcorreram aproximadamente trezentos anos desde a morte de Yoseef. Os 70 hebreus que haviam se radicados no fértil delta do rio Nilo multiplicaram-se em centenas de milhares. Mas o povo israelita, outrora objeto do favor de Faraó, é agora escravo temido e odiado do rei egípcio.

A situação política mudou radicalmente no Egito. Os hicsos, povo que havia ocupado o país durante quase dois séculos, foram expulsos, e o Alto Egito e o Baixo Egito voltaram a unificar-se. O Egito chegou ao apogeu de seu poderio militar e se inicia um grande programa de construção de cidades de depósito. Uma nova família de faros assenta-se no trono egípcio e os serviços que Yossef prestou ao Egito constituem apenas uma modesta lembrança do regime odiado que desapareceu. Não há gratidão para com os hebreus nos corações egípcios. Vêem com alarma o assombroso e sobrenatural crescimento da população israelita. Converter-se-ia gósen em uma via de entrada para conquistadores estrangeiros? Aliar-se-iam os israelitas e invasores para derrotar os egípcios? Por outro lado, Faraó não quer que os hebreus se retirem. Com dureza os obrigará a servir como escravos e desse modo os diminuirá em numero; ao mesmo tempo se valera deles para realizar a construção de obras publicas. Faraó organiza os hebreus em grupos sob capatazes para tirar barro e fazer tijolos, construir edifícios, canais e prepara fossos, para irrigação.

Porque o Eterno permitiu que seu povo fosse tão cruelmente oprimido? Queria que nascesse neles o desejo de sair do Egito. É provável que os israelitas estivessem tão contentes em Gósen que se houvessem esquecido do concerto abrâmico pelo qual D’us lhes havia prometido a terra de Canaã. Além disso, alguns dos israelitas apesar de viverem em Gósen separados dos egípcios, começaram a praticar a idolatria (Js.24:14;Ex.20:7,8). Tão grande foi sua decadência espiritual que o Egito se converteu em símbolo do mundo e os israelitas chegaram a representar o homem não regenerado. Era preciso algo drástico para sacudi-los a fim de que desejassem retornar à terra prometida.

Não obstante, D’us frustra o plano de Faraó. Quanto mais os egípcios oprimem aos hebreus, tanto mais se multiplicam e crescem. A tentativa de exterminar os hebreus matando os recém-nascidos do sexo masculino e conservando a vida das meninas pensando que elas se casariam com egípcios e assim perderiam sua identidade racial. A situação dos israelitas tornou-se grave. Para sobreviver como raça necessitavam de um libertador.

A preparação de Moshê: Ex.2. Moshê figura junto a Avrahan e David como um dos três maiores personagens do Tanach. Libertador, dirigente, mediador, legislador, profeta, foi, sobretudo um grande homem de D’us. Quase se pode dizer que o livro de Êxodo é a história de um homem, do homem Moshê que representa o ponto central em torno do qual gira a crise do plano da redenção. No coração dele verifica-se o conflito, ele recebe a comunicação de D’us para o povo e sobre ele pesa toda a carga das peregrinações. É ele quem recebe o golpe da critica do povo, pois se acha como mediador entre o povo e D’us e intercede perante D’us a favor deles.

Moshê narra o começo de sua história com tanta simplicidade e modéstia que nem mesmo menciona o nome de seus pais. São notáveis os fatores que D’us empregou para livrar o futuro libertador mediante a pequena arca: o amor perspicaz de Joquebede, a mãe, o choro do nenê, a compaixão da princesa e a sagacidade de Miriã, irmã de Moshê. A seguir D’us fez mais do que os pais esperavam, pois lhes devolveu o menino para que o criassem e a mãe foi paga por seu trabalho.

D’us preparou a Moshê para ser líder e libertado de seu povo. A mão divina evidencia-se passo a passo:

- Moshê foi criado em um lar piedoso, pelo menos durante os primeiros cinco ou sete anos de sua vida, e assim aprendeu a ter não somente fé em D’us mas também simpatia e a mor por seu povo oprimido.

- Foi educado no palácio do Egito, põe-se em relevo a providência divina em que por meio do decreto de matança Moshê foi conduzido ao palácio. Ali recebeu a melhor educação que o maior e mais culto império daquele tempo oferecia. A permanência no palácio não somente contribuiu para faze-lo “poderoso em suas palavras e obras” mas também o livrou do espírito covarde e servil de um escravo. A filha de Faraó foi possivelmente, Hatsepute que, segundo a tradição judaica, era casada mas não tinha filhos e desejava ardentemente ter um filho.

- Adquiriu experiência no deserto. Aos 40 anos de idade, Moshê identificou-se com o povo israelita e procurou libertá-lo por suas próprias forças, mas nem Moshê estava preparado para libertá-lo, nem o povo para ser libertado. Parece que Moshê dava mostras de arrogância, provocando a pergunta: “Quem tem posto a ti por maioral e juiz sobre nós?” Como pastor, Moshê aprendeu muitas lições que o ajudariam a governar com paciência e humildade os hebreus, pois como as ovelhas, eram embrutecidos, indefesos e não sabiam cuidar de si mesmos. Conheceu também o deserto através do qual guiaria a Israel em sua peregrinação de quarenta anos. Alem disso teve comunhão com D’us e chegou a conhece-lo pessoalmente. Ali aprendeu a confiar nele e não em sua própria força.
Chamamento e comissão de Moshê: Ex.3-4. Moshê foi chamado enquanto pastoreava ovelhas no sopé do monte Horebe ou Sinai. O fogo na sarça simbolizava a presença e santidade purificadora de D’us (Gn.15:17; Dt.4:24), e a sarça talvez representava a Israel em sua baixa condição. Como a sarça ardia sem consumir-se, assim Israel não foi consumido no forno da aflição. D’us revelou a Moshê a compaixão que sentia pelo povo oprimido e depois delineou os pormenores de seu plano para libertá-lo.

Moshê estava pouco disposto a aceitar a comissão de D’us. Respondeu com quatro escusas:

- Quem eu sou, que vá a Faraó?

- Em nome de quem me apresentarei diante de meu povo?

- Os israelitas não vão acreditar que eu sou o mensageiro de D’us.

- Não tenho facilidade de palavras.

Contestadas suas escusas, Moshê aceitou seu chamado e nunca mais olhou para trás. De imediato deu início à sua missão voltando ao Egito. O acontecimento segundo o qual D’us quis matar a Moshê (Ex.4:24-26) provavelmente fazendo–o enfermar a ponto de morrer, explica-se como uma advertência para circuncidar a seu filho. D’us não faz acepção de pessoas e os grandes servos de D’us devem obedecer-lhe tanto como os demais. “Se Moshê se tivesse apresentado perante o povo israelita sem haver circuncidado a seu filho, sem haver cumprido o Antigo Concerto, ter-se-ia anulado sua influência juntos deles”.

Aarão uniu-se a Moshê no caminho e juntos trouxeram aos anciãos a promessa de livramento e lhes demonstraram os sinais. Acendeu-se a fé entre os hebreus e, muito em breve outras pessoas de Israel receberam as notícias (possivelmente reuniões secretas) e se inclinaram perante D’us em louvor e adoração.

Shabat Shalom!
PARASHÁ SHEMOT ze n y

Ao relatar a primeira revelação de D’us a Moshê — o milagre da sarça ardente —, a Torá nos conta: “Um anjo de D’us apareceu a ele em uma sarça flamejante”.Ele viu — espere, a sarça ardia em fogo, mas a sarça não se consumia. Moshê pensou, ‘eu vou me virar e observar este grande sinal’... D’us viu que ele se virou para ver e D’us o chamou.”“.

Por que Moshê mereceu ser chamado por D’us? Porque “ele se virou para ver”.Todos nós vemos sinais extraordinários de tempos em tempos, pois tudo, desde uma folha levada pelo vento até os movimentos geopolíticos das nações, é governado pela Providência Divina. Freqüentemente, esta Providência se revela tão abertamente que nos espantaríamos se prestássemos a devida atenção a ela. Mas, o que costuma ocorrer? Nós passamos por ela sem lhe dar a menor importância.

Nós temos nossas preocupações, às quais atribuímos grande importância. Elas nos cegam, nos deixando indiferentes a tudo mais. Nós esperamos que o padrão habitual de nossas vidas prossiga e esta expectativa governa a maneira de olharmos o mundo.

Não antecipamos ou ansiamos grandes mudanças. Ao contrário, estamos satisfeitos com o ontem e esperamos que hoje seja exatamente da mesma forma. Esta mentalidade nos impede de entender o quão diferente “hoje” é.

Moshê também tinha preocupações e padrões habituais. No entanto, ele tinha sensibilidade para “se virar e ver”.Ao presenciar algo extraordinário, ele estava pronto para deixar esta revelação tomá-lo por completo. Isto era o que D’us procurava.

Com freqüência, um líder é muito ocupado, muito preocupado. Ele não demonstra flexibilidade mental para apreciar o que uma pessoa oferece ou o que uma situação traz. Ele tem um plano e este deve ser executado de qualquer maneira.

Um “Moshê” pode parar. Ele está preparado para mudar seu plano de ação. Ele não é tão obcecado por seu modo de pensar que não possa aprender algo novo.

A lição da Torá Escrita é reforçada por um insight da Tradição Oral. O Midrash pergunta: “Por que Moshê foi para a montanha para ver a sarça ardente?” E responde que ele estava atrás de uma ovelha que fugira. Como pastor do rebanho de Yitró, ele era responsável não pelo rebanho todo, mas também por cada uma das ovelhas. Ao notar que uma havia sumido, ele foi atrás dela.

Esta ovelha o levou à sarça ardente.

Esta não foi uma seqüência acidental. D’us estava procurando um líder para Seu povo. Ele queria alguém que se preocupasse não só com o povo todo, mas com cada indivíduo, alguém que cuidasse das necessidades pessoais de cada um. E, assim, Ele testou Moshê.

Sem dúvida, cada indivíduo deve fazer sacrifícios pelo bem da sociedade como um todo. Mas estes devem ser feitos de boa vontade, não impostos. O que pedir a uma pessoa, e como pedir — ou, mais precisamente, como criar um ambiente em que a pessoa ofereça sem ser solicitada — são os desafios de um líder. D’us estava procurando um líder que não fizesse essas escolhas de maneira insensível, mas que pensasse sobre cada indivíduo como se estivesse pensando em si próprio. E assim, quando Moshê correu atrás da ovelha, D’us lhe mostrou a sarça ardente.
PARASHÁ SHEMOT ze n y

E disse o Eterno a Moshê: ”Serei O que serei”. E disse: “Assim dirás aos filhos de Israel: Serei enviou-me a vós”. Shemot: 3:14


Eu estarei com vocês em seu sofrimento atual, e Eu estarei com vocês nos exílios e perseguições futuras. Rashi

Quando D'us apareceu a Moshê na sarça ardente e encarregou-o com a missão de levar o Povo de Israel para fora do Egito, Moshê disse ao Todo Poderoso:

“Veja, eu irei aos filhos de Israel e direi a eles: ‘O D'us de vossos pais enviou-me a vocês’, e eles dirão: ‘Qual é Seu nome?’. O quê direi a eles?”

D'us respondeu a Moshê: “Eu serei quem serei... diga aos filhos de Israel: ‘Eu Serei’ (Eh-he-yeh) enviou-me a vocês”.

Um D'us Anônimo?

Nomear algo é descrevê-lo e defini-lo. Portanto, D'us, que é infinito e indefinível, não pode ser nomeado. Assim, D'us não têm nome, somente nomes – descrições dos vários padrões de comportamento que podem ser relacionados à Sua influência em nossas vidas.

Nas palavras do Midrash, “D'us disse a Moshê: Você quer saber meu nome? Eu sou chamado por Minhas ações. Eu posso ser chamado E-l Sha-daí ou Tzevaot ou Elohim ou Yi-Há-Ve-Ha. Quando Eu julgo Minhas criaturas, Eu sou chamado Elohim. Quando travo guerra com os perversos, Eu sou chamado Tzevaot. Quando Eu tolero os pecados do homem, Eu sou chamado E-l Sha-daí. Quando Eu tenho compaixão por Meu mundo, Eu sou chamado Yi-Ha-Ve-Ha..."

Nisto reside o profundo significado da pergunta que Moshê antecipou dos filhos de Israel. “Qual é Seu nome?”, que eles certamente perguntariam. Que tipo de comportamento estamos vendo por parte de D'us nestes momentos? “Você diz que D'us já viu o sofrimento de Seu povo no Egito, já ouviu seus lamentos e conhece sua dor e, portanto, enviou-te para nos redimir. Onde estava Ele até agora? Onde estava Ele durante os oitenta e seis anos em que temos padecido sob o chicote dos capatazes, em que bebês têm sido arrancados dos braços de suas mães e jogados no Nilo, em que o Faraó tem se banhado no sangue das crianças judias?” Que nome estará Ele agora assumindo, depois de oitenta e seis anos durante os quais Ele aparentemente estava sem nome e afastado de nossas vidas?

Divino, Mas Não Sagrado.

Como explicado acima, cada um dos nomes divinos descreve um dos atributos pelos quais D'us escolheu para se relacionar com Sua criação: Elohim descreve a concepção de D'us do atributo de Justiça: Yi-Ha-Ve-Ha, Sua concepção de Compaixão; e assim por diante. Eh-he-yeh ("I Serei"), o nome pelo qual D'us identifica a Si próprio a Moshé, conota a concepção de D'us sobre Ser e Existir.

É por isto que existe alguma questão entre as autoridades haláchicas sobre se o nome Eh-he-yeh deve ser contado entre os sete nomes sagrados de D'us. A lei da Tora proíbe apagar ou desfigurar o nome de D'us, pois até mesmo a tinta e o papel (ou outro meio) assumem santidade em virtude de sua representação de algo relacionado ao Divino. Apesar de existirem vários nomes e adjetivos que descrevem o envolvimento multifacetado de D'us com Sua criação, há sete nomes divinos primários aos quais se aplicam os aspectos mais estritos desta lei. Apesar do fato de que muitos cabalistas consideram Eh‑he‑yeh como sendo o mais elevado dos nomes divinos, ele não está incluído em certas versões da lista dos sete nomes que aparecem no Talmud e nos trabalhos haláchicos; de fato, a conclusão haláchica é a de que ele não é um dos sete nomes sagrados (Talmud, Shavuot 35, e Dikdukei Sofrim, ibid.; Mishneh Torah, Leis dos Fundamentos da Torá, 6:2; ibid., edições Veneza 1524 e Veneza 1540; comentário de Kessef Mishneh sobre Mishneh Torah, ibid.; Shulchan Aruch, Yoreh Deah 276:9).

O motivo para este paradoxo é mais bem entendido pela compreensão do significado do termo “santidade”. O quê torna algo “sagrado”? Sagrado (kadosh em Hebraico) significa transcendental e separado. D'us é sagrado, pois Ele transcende nossa realidade terrena; Shabat é um dia sagrado, pois é um dia de separação da materialidade de nosso dia-a-dia; o Rolo da Torá ou um par de tefilin são sagrados pois são objetos que visivelmente transcendem seus estados materiais para servirem a um objetivo Divino.

O mesmo se aplica aos sete nomes divinos sagrados: cada um descreve uma atividade divina que vai além da norma mundana, uma intervenção divina na realidade – D'us como governante, D'us como juiz, D'us como provedor, D'us como salvador, etc. Por outro lado, Eh-he-yeh (“Eu sou”) é D'us existindo – D'us como essência da realidade (Guia dos Perplexos, parte 1, cap. 62; Ralbag e Abarbanel sobre Shemot 3; Ikarim 2:27 et al. Ver também Gevurot Hashem, final do cap. 25). Assim, Eh-he-yeh está além da santidade. Se santidade é uma característica da transcendência de D'us, o início de D'us transcende à própria santidade, descrevendo uma dimensão de realidade divina que preenche toda existência mesmo ao transcendê-la, e, assim, se relaciona igualmente a todos eles, sagrados ou mundanos.

[Todavia, Eh-he-yeh é um nome – isto é, um padrão de comportamento assumido – de D'us. O próprio fenômeno da “existência” é parte e parcela da criação de D'us, e D'us certamente não pode ser definido por algo que Ele criou. Finalmente, D'us pode ser descrito como um “ser” ou “existência” somente no sentido com que falamos d’Ele como um provedor ou governante: estes são meros nomes que descrevem não Sua essência, mas uma certa percepção que Ele nos permite ter d’Ele afetando nossa realidade de uma certa forma.]

A Resposta

Esta foi à resposta de D'us ao clamor do povo ao perguntar “Qual é Seu nome?”

“Diga aos filhos de Israel”, disse D'us a Moshê, “que Meu nome é Eh-he-yeh. Onde Eu estava todos estes anos? Com vocês. Eu sou o ’ser‘, Eu sou o ’existir‘, Eu sou a realidade. Eu estou no gemido do escravo espancado, no pranto da mãe enlutada, no sangue derramado de uma criança assassinada. Algumas coisas devem ser, não importa quão dolorosas e incompreensíveis aos seus ‘eus’ humanos, para que coisas maiores, coisas infinitamente grandes e felizes, possam ser. Mas, Eu não orquestro estas coisas de um longínquo céu, sagrado e removido de sua dor existencial. Eu estou aqui com vocês, sofrendo com vocês, pedindo pela redenção junto com vocês.”

Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg


RESUMO DA PARASHÁ SHEMOT

A Parashá Em Uma Clipá (Casca) de Noz

Shemot: 1:1 - 6:1


Os Filhos de Israel se multiplicaram no Egito. Ameaçados por seus crescentes números, o Faraó os escraviza e ordena às parteiras judias, Shifrá e Puá, que matem os meninos recém-nascidos. Quando elas não obedecem, ele ordena ao seu povo para jogarem os bebês judeus no Nilo.

Uma criança nasce para Yocheved, a filha de Levi, e seu marido, Amram, e é colocada em um cesto no rio, enquanto a irmã do bebê, Mirian, observa á distância. A filha do Faraó descobre o menino, cuida dele como seu próprio filho e lhe dá o nome de Moisés.

Enquanto ainda um jovem, Moisés deixa o palácio e descobre o sofrimento de seus irmãos. Ele vê um egípcio batendo em um judeu e mata o egípcio. No dia seguinte, ele vê dois judeus lutando; ao repreendê-los, eles revelam seu ato do dia anterior e Moisés é forçado a fugir para Midian. Lá, ele salva as filhas de Yitró, casa-se com uma delas – Tsiporá – e se torna um pastor do rebanho de seu sogro.

D'us aparece para Moisés em um arbusto ardente aos pés do Monte Sinai e o instrui a ir ao Faraó e exigir para que “Deixe o Meu povo ir para que eles possam servir-Me”. O irmão de Moisés, Aharão, é indicado para servir como seu porta-voz. No Egito, Moisés e Aharão se reúnem com os anciãos de Israel para dizer-lhes que é chegada a hora de sua redenção. O povo acredita; mas o Faraó recusa-se a deixá-los ir e até aumenta o sofrimento de Israel.

Moisés retorna a D'us para protestar: “Por quê Tu fizeste mal ao povo?” D'us promete que a redenção está bem próxima.
HORÁRIO DE ACENDIMENTO DAS VELAS DE SHABAT


Início do Shabat (Sexta-feira).

19 de TEVET de 5768 (28 de DEZEMBRO de 2007)


Acender as velas ANTES do horário indicado

Rio de Janeiro S. Paulo P. Alegre Brasília Belém Salvador
19:18 19:35 20:08 19:24 18:01 17:42



Final do Shabat (Sábado).

20 de TEVET de 5768 (29 de DEZEMBRO de 2007)


Rio de Janeiro S. Paulo P. Alegre Brasília Belém Salvador
20:29 20:45 21:18 20:34 19:12 18:52


Na Sexta-feira, acenda as velas somente ANTES do horário indicado.
Ao ascender às duas velas kasher, primeira a da direita e depois a da esquerda, faz-se três movimentos circulares com as mãos, de fora para dentro em volta das velas, e em seguida cubra os olhos com as mãos e fale a seguinte bênção:

Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner shel Shabat kodesh.

Bendito és Tu, A-do-nai, nosso D'us, Rei do Universo, que nos santificou com Seus mandamentos, e nos ordenou acender a vela do sagrado Shabat.

Ato contínuo, descubra os olhos e mire as chamas das velas. Reflita sobre a alegria em receber o Shabat; agradecendo a D’us por todas as bênçãos e pelo mérito de podermos cumprir a sua vontade.
PARASHÁ SHEMOT ze n y

A parashá desta semana contém um forte indicativo da natureza profética do trabalho de Moshê. A Luz do Mundo Infinito indica a missão de Moshê diante do povo, retirar o povo Judeu da escravidão e humilhação do mundo finito (Olam HaZe), que é uma visão e percepção limitada da realidade e almejar a chegada a "Terra Prometida" (Olam HaBa = Consciência Ilimitada).

E tenho dito: Eu vos farei subir da aflição de Mitzraim para a terra do Cananeu e do Hiteu, do Amoreu e do Periseu, do Hiveu e do Jebuseu, para uma terra que emana de leite e mel. Shemot: 3:17

Quando o texto nos fala do "rei de Mitzraim" ele está se referindo ao "ego" e seus esforços robóticos na tentativa de nos manter preso às amarras da consciência finita. Para os cabalistas este é o maior agente aprisionador na natureza humana.

E Eu sei que não vos deixará o rei de Mitzraim ir nem mesmo com poder forte. Shemot: 3:19

Mais, Moshé nega por quatro vezes a missão que lhe é concedida, ao longo de seu diálogo com a Luz do Mundo Infinito. Cada vez que ele nega a natureza de seu preparo, está indicando que algo deve ser adquirido no exercício da experiência profética.

"Quem sou eu que irei ao Faraó?" Shemot: 3:11

É importante ter esta resposta – "quem é você" – para a realização de sua missão espiritual maior. Aqui envolve saber também qual é o papel que você ocupa dentro da existência. A descoberta do "ani", ou seja, o ser real que habita muitas vezes oculto dentro de nós.

"Qual é o seu Nome?" Shemot: 3:13

O conhecimento da força e da natureza espiritual do Nome de D’us é essencial no exercício do trabalho do cabalista. Aqui envolve igualmente o conhecimento dos elementos contemplativos que fazem parte da meditação e acesso aos níveis superiores da alma.

E respondeu Moshê, dizendo: E eles não crerão nem ouvirão a minha voz, pois dirão: Não apareceu a você o Eterno. Shemot: 4:1

A adesão a uma liderança espiritual está diretamente conectada a uma "visão", Moshê precisa ter uma visão da Luz para que o seu trabalho seja realizado com vitalidade. Para estarmos dentro do caminho espiritual é preciso buscar os elementos que possam nos indicar a adesão ao Mundo Infinito, isso passa inevitavelmente pelos elementos de adesão dentro do mundo físico. A "adesão" é um estado de submissão espiritual em que o discípulo busca estar totalmente submetido a uma linha de pensamento para desta forma buscar os elementos superiores de "adesão" com o Mundo Infinito.

E disse Moshê ao Eterno: Rogo, Senhor! Eu não sou um homem eloqüente nem de ontem, nem de anteontem, nem desde que falaste a teu servo; pois sou pesado de boca e pesado de língua. Shemot: 4:10

A idéia de ser pesado de boca indica que Moshê ainda possuía a sua palavra ligada aos níveis inferiores do mundo limitado, suas palavras ao serem pesadas estavam submetidas à força de gravidade que atua sobre tudo o que se liga ao mundo físico. Os antigos afirmam que a "lei da gravidade" é uma expressão (em Malchut) do desejo de receber para si mesmo. Sua palavra ainda estava inspirada pelos elementos da natureza física e era necessário buscar uma inspiração "do alto" para o exercício de sua missão espiritual. Para os cabalistas, não basta ter o conhecimento das palavras e do conteúdo elementar do conhecimento espiritual, é necessário estar sob a inspiração da Shechiná para poder falar os ensinamentos superiores. É isso que os antigos mestres contemplativos denominavam de unção do alto. Mesmo que se tenha o conhecimento das palavras, é necessário que elas sejam guiadas pela consciência superior e tenha não apenas uma conexão com a Verdade do Alto como também um poder transformador em si mesma.

E disse: “Jogue-a ao chão”, e jogou-a ao chão e se converteu em uma serpente, e fugiu Moshê de sua face. Shemot: 4:3
Aqui Moshê experimenta o poder espiritual que lhe é concedido por intermédio desta visão. Dominar Nachash (serpente), que é a força robótica e manipuladora do ego é parte de sua missão espiritual. O "galho" mencionado é a letra e "vav" e a sua associação com o Ruach dentre os níveis da alma. Reverter à ação nociva de Nachash (serpente) dentro de nós e transformá-la em forca espiritual é o que o cabalista consegue ao aplicar a restrição voluntária em sua vida.

E disse-lhe o Eterno, mais: “Leva por favor, a tua mão ao peito”. E levou a mão ao peito, e a tirou, e eis que a sua mão estava sarnenta como a neve. Shemot: 4:6

Moshê precisa reconhecer o aspecto frágil e superficial do corpo.

E será, caso não creiam também nestes dois sinais e não ouvirem a tua voz, tomarás das águas do Ieor e derramarás no seco; e as águas que tomarás do rio tornar-se-ão sangue no seco. Shemot: 4:9

Quando a Torá se refere a Ieor, os antigos associavam este nome ao Nilo, mais o termo usado aqui indica a idéia de "fluxo". O Ieor é a natureza do fluxo (shefá) que flui no mundo. A natureza de iniqüidade existente no mundo físico (seco) naquela época estava repleta de julgamento (sangue).

A natureza essencial desta parashá é nos indicar a natureza do tsadick (justo) e sua preparação para aquilo que veio a representar a maior revolução espiritual de todos os tempos. Segundo os sábios de nossa Tradição naquele tempo em Mitzraim (Egito), a força e inclinação negativa na humanidade haviam atingido proporções alarmantes. Mas por que a Luz do Mundo Infinito havia permitido que a humanidade chegasse neste estágio? Por que, de tempos em tempo, somos influenciados igualmente por uma massa crítica negativa? Através dos tempos o ser humano sempre tentou encontrar uma panacéia para todos os problemas, um meio, um método, uma fórmula para eliminarmos de uma vez por todas o sofrimento de toda a humanidade. Muitos, ao longo da história, sonharam com um mundo assim, mais para a perspectiva cabalista, o descobrimento de um meio que terminasse com o sofrimento humano resultaria em uma tragédia sem paralelo, pior que todas as guerras, que todas as catástrofes, que todas as epidemias e que todas as atrocidades juntas. Que razão teria um cabalista para pensar assim? Para os cabalistas isso produziria um prolongamento cruel de nosso tikun, que é o nosso processo de correção espiritual. Estamos aqui neste mundo para fazermos ajustes, correções e aprimoramentos e nossas constituições finitas e essas transformações se produzem por intermédio da resistência, o mal estar e o sofrimento. Este processo de correção é chamado de tikun. A alma se purifica por intermédio da resistência. Pensar em um tempo onde todas os obstáculos pudessem ser removidos seria como pensar em uma tragédia, pois isso apenas prolongaria a agonia da existência finita e deixaria toda a natureza espiritual do ser humano, congelada. Nossos Sábios nos ensinam que cada um de nós possui uma só aspiração verdadeira, que é regressar a Luz do Mundo Infinito e para isso temos que buscar um nível de adesão com os tzadickim (justos) de nossa Tradição. Um tzadick é um homem sagrado, uma pessoa de conhecimento. Moshê foi um tzadick, assim como Rav Akiva, Rav Avraham Abuláfia também compartilharam disto. Uma pessoa que almeja tornar-se um tzadick afasta totalmente o desejo de receber para si mesmo e resiste aos desejos do corpo, seguindo unicamente à vontade da alma. Tais pessoas se encontram tão completamente desprovidas do aspecto negativo do desejo que a natureza dos sentidos comuns é superada por uma percepção sensorial mais sensível (derivada da alma). Para isso, o tzadick pratica a restrição em cada oportunidade. Procura eliminar o estado de comodidade e complacência porque estas são inspirações do corpo, causadas pelo desejo de receber para si mesmo. É por isso que uma mente, pautada no desejo de receber para si mesmo, quando observa a vida de um tzadick pode erroneamente achar que o mesmo está sofrendo, quando nada poderia estar mais afastado da verdade. O tzadick, ao negar-se cair nas tramas da comodidade, se eleva acima do mundo físico das ilusões e das aparências exteriores, e se conecta a uma consciência superior que é ativada pelo aspecto positivo do desejo – o desejo de receber para compartilhar.

A resistência voluntária do tzadick causa o cancelamento do desejo de receber para si mesmo, que é a raiz de toda má ação e por isso ele é capaz de transcender o âmbito negativo. Ao transformar o desejo de receber para si mesmo em desejo de receber para compartilhar ele se eleva por cima do Olam Tohu (Consciência do Caos) que representa a realidade física ilusória que enfrentamos cotidianamente e se une com Olam Tikun (Consciência da Correção) que é a verdadeira realidade Infinita do Or Ein Soph (Luz do Mundo Infinito). Quando o tzadick consegue realizar esta operação em sua vida, ele consegue elevar igualmente toda a humanidade.

Por cima do estado inferior da consciência do corpo existe a verdadeira realidade Infinita e é nesta realidade que o tzadick permanece conectado a todo o tempo. O tzadick afasta o desejo de comodidade e complacência do corpo com o fim de satisfazer as diretrizes da alma que é muito mais importante.

O circuito espiritual requer a resistência voluntária. Ou restringimos e revelamos a Luz ou não restringimos e permanecemos na obscuridade. A menos que mediante sua resistência voluntária o homem vença o aspecto negativo do desejo, o propósito de sua existência nunca será revelado. Por isso, o cabalista deveria adotar uma atitude de resistência constante, pois ao fazer isso, ele dissipa a ilusão atrai a Luz para si e para a humanidade. Esse simples mecanismo tem a capacidade única de eliminar todas as ilusões de Olam Tohu.
PARASHÁ SHEMOT ze n y

Shabat: Eliminar obstáculos

Energia: Yessod de Guevurá - A disciplina fundamentada


Meditação: Yessod de Guevurá, entre outras coisas, questiona a solidez do alicerce onde construímos o projeto de vida que norteia os nossos caminhos. A forma como fundamentamos a nossa disciplina é muito importante. Estabelecê-la de acordo com o que nós queremos e gostamos pode nos tornar prisioneiros do ego. Devemos fundamentá-la em algo maior e mais sábio como um caminho espiritual. O estudo da Cabalá, por exemplo, ainda que ganhe uma roupagem contemporânea para facilitar a nossa compreensão, não pode contrariar as orientações de nossos antepassados porque a Verdade revelada pela Torá é atemporal. Questionar é importante, mas não podemos nos afastar da disciplina, fundamentando-a em nossas vidas. Desta forma é mais fácil fazer o que deve ser feito.


Exercício: Você se mantém fiel aos ensinamentos que recebe ou se disciplina somente para as coisas que quer? Nossas reflexões sempre têm uma abordagem fortemente espiritual, mas os princípios se aplicam a outras áreas de sua vida, não se esqueça disso.


Salmo: 99

Torá: Shemot: 5:1-23












SHEMOT
z e n y

LEU

e ` l

KEVAC
w e k

parasha shemot

PARASHÁ SHEMOT ze n y

Bereshit: 47:28 - 49:26

A parshá, que inicia o segundo livro da Torá, começa citando os nomes dos filhos de Yaacov enfatizando suas gerações por terem se conservados fiéis aos ensinamentos dos Patriarcas, apesar de habitarem no Egito, uma nação idólatra.

O faraó governa o Egito, esquecendo os benefícios que trouxe Yossef para o país, que o tornou rico e próspero. Leis cruéis que visavam o enfraquecimento do Povo de Israel através da aflição e sofrimento foram decretadas pelo seu impiedoso poder.

Duas parteiras judias, Shifrá e Puá negam-se a cumprir o plano do faraó de matar todo menino judeu recém-nascido, dispostas a sacrificar a própria vida. Foram recompensadas em sua descendência formada por cohanim, leviim e reis.

Nasce Moshê que é lançado por sua mãe nas águas do Rio Nilo para que sua vida fosse poupada. A filha do faraó Batia, estende seu braço que alonga-se milagrosamente e salva o menino. Moshê sofre com o trabalho escravo do povo judeu e acaba matando um egípcio em um episódio onde este golpeava covardemente um judeu. Moshê foge para Midian e acaba conhecendo Yitrô e casa-se com sua filha, Tsipora.

D’us se revela para Moshê através do fogo na sarça ardente e lhe incumbe a missão de libertar o povo judeu do Egito. D’us promete a Moshê que estenderá Sua mão e ferirá o Egito e por haver ainda temor por parte de Moshê, D’us lhe mostra Seu poder através de milagres; transforma um bastão em cobra e novamente em bastão; a mão de Moshê fica com a doença de tsahará e torna a ficar sã, novamente.

Moshê, acompanhado de sua família, segue para o Egito a fim de salvar seu povo. Mas ao ver que tornou-se ainda maior a ira do faraó impondo mais intensamente sua crueldade sobre os judeus, Moshê clama a D’us que lhe responde que com mão forte ferirá todo o Egito.
Mensagem da Parashá:

O papel da mulher judia

Na porção semanal de Shemot lemos sobre o começo da escravidão de nossos antepassados no Egito e sobre os fatores que os redimiram. Nossos sábios observam que as mulheres judias no Egito eram responsáveis pela Redenção. Elas derrotaram o faraó e suas intrigas acendendo a chama dos valores espirituais no coração de sua geração.

Em nossa sociedade contemporânea as mulheres judia têm sido colocada na delicada posição de timoneiro do barco de sobrevivência judaica. A educação das crianças é quase que totalmente legada a ela. Caso renegue sua responsabilidade, há pouco a fazer por parte de seu marido, para retificar sua decisão. Uma investigação mais vasta na composição de nossa vida comunitária mostrará que a mulher contemporânea está exercendo sua influência quase em todas as áreas judaicas. Geralmente é ela que determina qual escola seus filhos irão frequentar. É ativa, tanto nos círculos de sua comunidade quanto na sociedade cívica. Muito do sucesso obtido na angariação de fundos de beneficência deve ser atribuído à sua participação.

O famoso historiador judeu Cecil Roth salientou a participação feminina ao definir a comunidade judaica americana como um "Matriarcado". Como sua influência é indubitável, é extremamente importante que a mulher esteja devidamente equipada para desempenhar seu papel. Seu conhecimento sobre os valores é imprescindível.

Estamos confiantes que as mulheres judia uma vez consciente de seu papel singular, já aceitou o desafio de redimir o judeu do século XXI da escravidão da ignorância judaica e da indiferença que ameaça sua sobrevivência nos dias atuais.

Por que Moshê merecia converter-se no líder de Bnei Israel

Apesar de ter-se criado no Egito, Moshê se aproximou de seus irmãos e compartilhou de sua dor.
Quando viu que um escravo judeu era golpeado, quase assassinado pelo capataz egípcio, matou o egípcio para salvar seu irmão judeu, pois amava a todos de seu povo.

Mais tarde, Moshê viu um judeu a ponto de golpear outro; repreendeu o rashá (malvado), dizendo-lhe: "Como se atreve a golpear seu irmão?" Salvou-o, pois realmente se importava com cada um deles.

Ao chegar ao poço de Midian, Moshê viu que as filhas de Yitrô eram empurradas na água pelos pastores malvados. Essas moças foram resgatadas por Moshê que realmente se preocupava com todas as pessoas criadas por D’us.

E quando cuidou das ovelhas de Yitrô, um cordeiro sedento se aproximou em busca de água. Ao vê-lo, Moshê disse: "Sem dúvida, deves estar cansado". Levou-o até o rebanho para pô-lo a salvo, pois realmente se preocupava com todas as criaturas de D’us.

D’us disse: "Moshê, porque te preocupas com todas as criaturas que fiz e tratas a todas tão bem, quero que sejas o pastor de meu povo, o líder do Povo de Israel”.

D’us põe à prova o povo judeu no Egito

Vocês se lembram que Yaacov, junto com a família, viajou para o Egito, onde Yossef governava. Mesmo depois da morte de Yossef, seus irmãos e os filhos e netos desses permaneceram no Egito. Ali ficaram por muitos anos mais. O povo de Israel esteve pelo total de duzentos anos no Egito.

Esperavam pelo mensageiro especial de D’us, porque Yossef lhes havia ordenado que não saíssem do Egito até que D’us enviasse seu mensageiro para tirá-los de lá.

O plano de D’us era fazer com que os judeus permanecessem no Egito por muito tempo. Desse modo, D’us cumpriu as palavras ditas a Avraham: "Teus filhos serão estranhos numa terra que não é a deles. Serão convertidos em escravos e ali sofrerão por muitos anos”.

D’us tinha muitas razões para fazer com que os judeus permanecessem no Egito por um longo tempo. Uma delas era colocar os judeus à prova, das seguintes formas:

Continuariam sendo tsadikim (homens justos) e continuariam servindo a D’us, embora seus vizinhos egípcios venerassem ídolos?

Os homens judeus tomariam egípcias por esposas, e as mulheres judias aceitariam homens egípcios por esposos, ou negar-se-iam a contrair matrimônio com não-judeus?

Os judeus falariam hebraico entre eles, dando aos filhos nomes judaicos, ou começariam a falar egípcio e dariam nomes egípcios aos filhos?

E quando D’us enviasse Moshê para libertá-los, os judeus aceitariam segui-lo a Terra de Israel ou prefeririam ficar no Egito por se sentirem bem ali?

D’us pôs o povo de Israel à prova de todas essas formas. Os judeus que não passaram por elas morreram no Egito. Somente aqueles que mereciam receber a Torá foram libertados do Egito.

O Midrash explica:

Uma razão pela qual D’us exilou o Povo de Israel no Egito

Nosso antepassado Yaacov tinha quatro esposas. Duas delas, Bil-ha e Zilpa, eram servas das outras duas, Rachel e Léa. Quando Yaacov casou-se com Bil-ha e Zilpa, deu-lhes a liberdade. Os filhos de Léa, sem pena, desprezavam os filhos de Bil-ha e Zilpa. Zombavam deles, dizendo: "Vocês são filhos de escravas!”.

D’us disse: "Levarei todos os filhos de Yaacov a uma terra estrangeira, o Egito. Os egípcios sentirão aversão pelos judeus e os escravizarão. Então, todos os judeus serão iguais e amigos entre si”.E assim aconteceu. Como os egípcios depreciavam todos os judeus, estes se tornaram amigos entre si. Quando saíram do Egito, todos os judeus se sentiam irmãos. Nem um só deles se acreditava melhor que qualquer outro judeu por descender de Rachel ou Léa, nem de Bil-ha ou Zilpa.

Como o Povo de Israel suportou a prova do exílio egípcio

Os descendentes de Yaacov, o Povo de Israel, não prosperaram muito entre os egípcios depois da morte de Yossef e seus irmãos.

Enquanto Yossef vivia e governava o país, havia ordenado ao Povo de Israel: "Fiquem no distrito de Goshen, longe dos egípcios!" Yossef sabia que os judeus não se misturariam com os egípcios e desta forma não venerariam ídolos como eles. Quando Yossef morreu, seus irmãos continuaram advertindo os filhos e netos sobre preservar a herança do povo judeu.

Porém, depois da morte de todos os irmãos de Yossef, os judeus somente tinham a tribo de Levi para adverti-los de que não deveriam mesclar-se aos egípcios. Muitos judeus se afastaram de Goshen e se fixaram em outras partes do Egito. Logo aprenderam a inclinar-se perante o deus principal do Egito, a ovelha, e perante outros deuses animais egípcios. A maioria dos judeus começou a venerar ídolos, como seus vizinhos egípcios.

Porém, nenhum judeu contraiu matrimônio com mulheres não judia, e nenhuma moça judia consentiu em casar-se com um egípcio. Os judeus não falavam egípcio entre si; somente falavam lashon hakodesh, hebraico. Também não deram nomes egípcios a seus filhos.

Porém, D’us não estava satisfeito com os judeus. Queria que todos eles continuassem servindo somente a Ele. Quando preferiam misturar-se aos egípcios e agir como eles, D’us fazia com que os egípcios odiassem os judeus. Queria que os judeus compreendessem que deviam fazer teshuvá (arrependimento), e deixassem de servir aos deuses egípcios.

Os egípcios ficam descontentes pelo grande número de filhos dos judeus

D’us havia prometido a Avraham que seus descendentes seriam tão numerosos como as estrelas. Começou a dar cumprimento a essa promessa aumentando a família de Yaacov. Ao chegar ao Egito, a família de Yaacov tinha somente setenta membros. Mas logo teve centenas, depois milhares, e logo centenas de milhares de judeus. Milhões de judeus.

Como isso aconteceu?

D’us fez um milagre e as mães judias deram à luz não a um filho só, mas seis ao mesmo tempo! Logo existiam muitas famílias judias que tinham cinquenta ou sessenta filhos. E outras famílias tinham sessenta filhos homens e igual número de filhas. Imaginem o barulho, a emoção, e a diversão para as crianças, com tantos irmãos e irmãs!

Os egípcios comentavam furiosos, cada vez mais indignados. Esperavam uma oportunidade para ferir e destruir essas crianças.

O Faraó obriga os judeus a tornarem-se seus escravos

O Faraó, o rei egípcio que vivia nessa época, era um homem malvado. Decidiu ser cruel com o povo judeu. Resolveu "esquecer" que um judeu, Yossef, havia certa vez salvado todo o Egito da morte por inanição, quando juntou o cereal necessário para alimentar todo o povo egípcio, e havia governado o país por oitenta anos.

O faraó disse aos conselheiros: "Devemos criar um plano para evitar que as judias tenham tantos filhos! Se as famílias continuarem crescendo da forma que estão fazendo agora, logo haverá mais judeus que egípcios, e os judeus poderão aliar-se a nossos inimigos e assumir o controle do país!" O faraó e os ministros urdiram um terrível plano: transformariam os judeus em escravos que trabalhariam para eles noite e dia. Separariam os pais das famílias e os deixariam tão fracos que poucas crianças nasceriam. Mas como o faraó faria para converter os judeus em escravos? Ele e os conselheiros tiveram uma idéia maligna.

Proclamaram o seguinte anúncio: "O faraó precisa construir novos edifícios para armazenamento de cereal. Necessita de grande número de trabalhadores para as obras. Espera que todos os cidadãos responsáveis se unam para ajudar! Todos os trabalhadores serão pagos”.

Os egípcios disseram ao povo de Israel: "O que vocês, judeus, estão fazendo para ajudar nosso país? Também devem ajudar!”.

Assim, os judeus começaram a trabalhar na construção de novos armazéns para o faraó. Para estimular as pessoas a trabalharem, o próprio faraó se apresentou na obra no primeiro dia, com a pá na mão. Logo correu a notícia de que até o rei havia pessoalmente ajudado nas tarefas da construção. Animadas mais e mais pessoas se apresentaram, entre essas todos os homens judeus, com exceção daqueles da tribo de Levi.

Os homens do faraó foram aos homens da tribo de Levi e perguntaram: "Não nos ajudarão na construção?" Mas eles se negaram. Responderam: "Somos os rabinos do povo judeu. Devemos estudar e ensiná-los. Não temos tempo para nenhum outro trabalho”.

Quando os homens do faraó escutaram isso, não mais incomodaram os homens da tribo de Levi. A princípio, o faraó pagava aos trabalhadores judeus. Ao cabo de certo tempo, porém, deixou de fazê-lo. Quando os judeus protestaram, os supervisores disseram: "O rei ordena que todos os judeus continuem construindo, mesmo sem salário!" Alguns judeus não se apresentaram mais para trabalhar, mas os supervisores conheciam o nome e endereço de cada um deles. Os policiais egípcios eram informados sobre todo judeu que faltava ao trabalho, e este era levado à força. Os supervisores egípcios eram exploradores cruéis e desalmados. Obrigaram todos os judeus a trabalhar rapidamente e sem descanso. Se um judeu demorava porque estava cansado, era açoitado com um chicote e obrigado a trabalhar ainda mais rápido.

O faraó também designou policiais entre os judeus, cujo trabalho era conseguir que os judeus trabalhassem ao máximo de sua capacidade. Os policiais judeus tinham ordens de açoitar todo judeu que fosse lento no trabalho, mas se negaram a castigar seus irmãos judeus. Quando os supervisores egípcios viram que a polícia judaica se apiedava dos demais judeus e permitia-lhes fazer o trabalho mais lentamente, começaram então a açoitar os policiais judeus. Porém, estes judeus preferiam o chicote a golpear seus irmãos judeus.

Mais tarde, D’us premiou estes heróicos policiais judeus. Chamou-os zekenim, anciãos do povo judaico.

O faraó dá permissão aos egípcios para empregar judeus como escravos

O faraó esperava escutar a notícia de que o Povo de Israel tinha cada vez menor número de filhos. Mas para sua desilusão, foi informado que o número de filhos era cada vez maior!

"Os judeus não trabalham com empenho suficiente!" Concluiu o faraó. "Aí é que está o problema”.Por isso, o faraó fez um novo anúncio. "Todo egípcio pode levar os judeus que quiser, a fim de que trabalhem na sua casa ou na lavoura”.

Os egípcios ficaram muito satisfeitos com essa nova ordem, pois agora podiam ter todos os escravos que quisessem para fazer seu trabalho. Um egípcio podia simplesmente dizer a um judeu: "Preciso de alguém para tirar as pedras do meu jardim", ou "necessito plantar meu jardim, venha comigo!" E o pobre e exausto judeu deveria trabalhar para o egípcio à noite, quando terminasse o trabalho para o faraó.

Porém, a esperança do faraó de que cada vez houvesse menos filhos para os judeus não se cumpriu. As famílias judias continuaram crescendo. De tal modo cresceram que o faraó aprovou um novo decreto. A princípio, os homens do faraó forneciam aos judeus os tijolos para a construção. Agora o faraó queria que os judeus fabricassem seus próprios tijolos. Deviam reunir o material para fabricar os tijolos, exceto a palha, que seria fornecida pelo faraó. Esta nova exigência tornou o trabalho dos pobres escravos judeus muito mais difícil.

Mas os planos do faraó não tinham êxito. As famílias judias se multiplicavam cada vez mais. Quando o faraó se deu conta disso, urdiu um plano novo e terrível. De agora em diante, tomaria os cuidados para que todos os varões judeus recém-nascidos fossem assassinados secretamente!


O faraó ordena às parteiras que matem em segredo os judeus recém-nascidos
O faraó ordenou que trouxessem ao palácio as duas mulheres judias encarregadas de ajudar as mães a ter os bebês. Chamavam-se Shifra e Puá.

Ordenou-lhes: Shifra e Puá façam com que não nasçam mais meninos judeus vivos! Quando forem chamadas à casa de uma judia prestes a dar à luz e for um menino, asfixiem-no e digam à mãe: "Sentimos muito, mas seu filho nasceu morto!”.

O faraó pensou: "Pronto, não haverá mais meninos judeus”.

Por que o faraó ordenou a morte somente dos varões? Poderia ter ordenado a morte de meninas! Mas os sábios feiticeiros o haviam avisado: "vemos nas estrelas, Majestade, que está para nascer um menino que libertará todos os escravos judeus e os tirará do Egito”.Por isso, o faraó decidiu matar todos os meninos judeus, na esperança de que o futuro líder se encontrasse entre eles. Não ocorreu ao faraó que as parteiras pudessem desobedecer-lhe. Afinal, bem se sabia no Egito que todo aquele que se atrevesse a desobedecer ao poderoso faraó seria condenado à morte. Acontece que Shifra e Puá decidiram ignorar a ordem, pois eram tsadikaniot, mulheres de bem. Afirmaram: "Estamos dispostas a morrer antes de matar meninos judeus, D’us nos livre!”.

Quando o faraó ficou sabendo que nenhum menino judeu estava nascendo morto, chamou Shifra e Puá para repreendê-las: "Por que estão deixando viver os meninos judeus?”.

Elas responderam: "Não é nossa culpa, Majestade. Nunca somos chamadas a tempo. As mulheres judias fazem Tefilá (rezam) para que seus filhos nasçam rapidamente e em paz. Quando nos chamam já é demasiado tarde; os bebês já nasceram!”.

D’us recompensou Shifra e Puá com bênçãos pela sua coragem em desobedecer às ordens do faraó. Seus descendentes se converteram nos líderes do povo judeu: cohanim, leviyim e reis.

Os meninos judeus são arremessados ao Rio Nilo

O faraó e seus assessores compreenderam que não podiam mandar matar os meninos judeus em segredo, de modo que decidiram assassiná-los abertamente.

O rei proclamou: "De agora em diante, todos os varões judeus serão jogados ao Nilo!”.

Como o faraó imaginou que as mães judias esconderiam seus filhos recém-nascidos, ordenou aos egípcios que se mudassem para casas vizinhas às dos judeus para espioná-los e saber quando uma mulher judia estava prestes a dar à luz. Então deviam informar à polícia egípcia, e a casa judaica era registrada assim que nascesse o bebê. Se fosse menino, levariam-no e o afogariam no rio. Os egípcios ajudaram o faraó, vigiando os judeus. Diziam aos filhos: "sigam as mulheres judias para todos os lados, assim saberão quando estão prestes a dar à luz”.

As egípcias também ajudaram o faraó da seguinte maneira: quando um policial egípcio ia procurar um menino judeu num lugar assinalado e não o encontrava, as mulheres egípcias levavam seu próprio filho ao lugar. Beliscavam a criança para que chorasse, e quando o menino judeu escutava o choro, também começava a chorar. Assim, era descoberto e levado para ser jogado ao Rio Nilo.

Como D’us salvou os meninos judeus

D’us fez um milagre para o povo judeu. Os meninos jogados ao rio não se afogavam. Ao contrário, o rio os arrastava até umas cavernas perto de uns campos, longe das cidades egípcias. Ali, D’us se ocupava com os meninos. Colocou duas pedras junto à boca dos pequenos. De uma delas fluía leite, e da outra mel. Os meninos cresciam, alimentados por D’us, e logo regressavam às casas de suas famílias.

Outro Midrash explica que D’us salvava os meninos mantendo-os vivos milagrosamente no Rio Nilo. D’us permitia que pudessem respirar na água como peixes, e tiravam o sustento do rio. Assim, quando o faraó cancelou o decreto, os meninos saíram vivos do rio.
Desse modo, os malvados planos do faraó não tiveram êxito.
Nasce Moshê

Um dos líderes do povo judeu nesse momento era o tsadic (justo) Amram, da tribo de Levi. Era tão justo que não havia jamais cometido um só pecado na vida. Sua esposa Yocheved era também uma grande tsadeket (justa). Tinham uma filha de seis anos, Miriam, e um filho de três, Aharon.

No dia em que Yocheved estava para dar à luz a outro menino, os astrólogos e sábios do faraó o advertiram: "Lemos nas estrelas que hoje nascerá o menino que tirará os judeus do Egito”.Porém, os egípcios nunca puderam descobrir o filho de Amram e Yocheved. Esta o escondeu em casa por três meses. Porém, temerosa de que os egípcios tivessem visto algo, buscou outro esconderijo.

Yocheved pensou: "Talvez, se ocultar meu filho no rio, os astrólogos do faraó vejam nas estrelas que o menino que os preocupa foi jogado ao rio. Talvez assim o faraó cancele a ordem de atirar os meninos judeus no rio”.

Moshê no Rio Nilo

A mãe de Moshê arrumou uma caixa de madeira e colocou uma tampa. Para impermeabilizá-la, cobriu-a com breu por fora e com argila por dentro. Pôs a caixa no Rio Nilo entre os juncos que cresciam às margens, onde poderia ser vista pela gente que passava perto do rio.

A irmã de Moshê, Miriam, decidiu permanecer perto da margem do rio para ver o que aconteceria ao irmão. Passaram-se vinte minutos e ninguém notou a caixa que flutuava no rio. Mas quem se aproximava agora? Miriam viu que se tratava de uma dama egípcia da alta nobreza, seguida pelas criadas. Quem poderia ser? Quando se aproximou, Miriam viu que era a filha do faraó, a princesa Batia, que vinha banhar-se no Nilo. Podem imaginar como bateu o coração de Miriam, quando viu que Batia mergulhava no rio, não muito distante da caixa com seu irmãozinho dentro?

Miriam observou ansiosamente, para ver se Batia descobriria o menino. Pois não é que descobriu?

"Que será isso que flutua entre os juncos?" Exclamou a princesa.

Ordenou às criadas: Tragam-me essa caixa! Como se negassem Batia estendeu o braço para alcançá-la. Era impossível para Batia alcançar a caixa que estava fora de seu alcance, mas ela tentou de todas as maneiras. D’us fez um milagre: seu braço se esticou até alcançar a caixa e Batia pôde abri-la. Surpreendeu-se ao encontrar um menino dentro.

Que lindo bebê! Batia ficou encantada, e não sabia o que fazer com ele. D’us enviou o anjo Gabriel para que desse uma palmada no menino, que começou a chorar; Batia sentiu pena dele. "Rápido, corram!" Ordenou às criadas. "Este menino deve ser um judeu, e está morrendo de fome. Tragam uma ama de leite para que o amamente!”.

As moças regressaram com uma ama egípcia, mas para surpresa de todos, o bebê fechava a boca com força e não quis mamar do seu peito. Batia ordenou quer trouxesse outra ama egípcia para amamentar o nenê, porém uma vez mais ele cerrou a boca e se negou a mamar. Miriam estava observando a cena desde o começo. Neste momento, perguntou: Tragam uma ama judia? Talvez o menino aceite seu leite.

Quando a princesa consentiu, Miriam correu para casa e trouxe a sua própria mãe, Yocheved. Naturalmente, o pequeno mamou o leite de sua mãe!

Moshê no palácio do faraó

Você acaba de saber quem era o menino. Não era outro senão Moshê. Na verdade, este nome foi-lhe dado pela princesa Batia. Chamou-o assim porque a palavra Moshê significa "tirei-o da água", e Batia o havia encontrado no rio.

Batia disse à mãe de Moshê: "Fique com o menino em sua casa e o amamente até que eu vá buscá-lo para levar ao palácio, e te pagarei por isso”.

Dois anos depois, a princesa reconheceu Moshê e o levou ao palácio do faraó. Cuidava muito bem dele. Amava o menino como se fosse seu próprio filho. Seu pai, o faraó, também se encantou com o bebê e sempre brincava com ele.




Moshê tira a coroa do faraó

Certa vez, o pequeno Moshê estava sentado sobre os joelhos do faraó. De repente, esticou a mãozinha, tirou a coroa do faraó, e a colocou sobre a própria cabeça.

Podem imaginar o alvoroço que se produziu na corte? Um ministro advertiu o faraó: "Majestade, este menino, embora pequeno, já está lhe tirando a coroa! Quando crescer, tirará todo o reino! Talvez seja este o menino que os feiticeiros diziam que levaria os judeus do Egito. Mate-o agora mesmo e não se converterá num inimigo poderoso para o senhor!

Outro ministro interpôs-se: Majestade é um exagero dar tanta atenção aos atos de uma criança. Todos os pequeninos gostam de brincar com objetos brilhantes. Ele tomou sua coroa simplesmente porque pensou que era um objeto agradável e brilhante para brincar.”“.

Para por fim à discussão entre os ministros, decidiram por o pequeno Moshê à prova, e descobrir porque havia tirado a coroa do faraó. Compreendia ele a importância da coroa ou estava só brincando? Se a prova mostrasse que Moshê havia tomado a coroa do faraó com um propósito determinado, seria morto.

Colocaram diante de Moshê duas vasilhas: uma cheia de moedas de ouro e outra de carvões acesos e resplandecentes. Escolheria Moshê o ouro ou os carvões ardentes? Se escolhesse as moedas de ouro, demonstraria que tinha inteligência suficiente para compreender que o ouro era mais valioso que o carvão. Se for tão inteligente isso queria dizer que compreendia o valor da coroa e que a havia colocado sobre a própria cabeça de propósito. Porém, se escolhesse o carvão por causa de seu esplendor, demonstraria ser apenas uma criança que se sentia atraída pelo brilho da coroa. Moshê era um menino muito esperto. Sabia que o ouro era muito mais valioso que o carvão, e estendeu a mãozinha para o ouro. Mas D’us enviou o anjo Gabriel para que empurrasse a mão de Moshê até o recipiente cheio de carvões ardentes. Moshê pegou um, e, vendo que estava muito quente para segurá-lo, levou-o à boca. O carvão ardente queimou-lhe a língua, e desde esse dia Moshê teve dificuldades para falar.

Moshê cresce

Moshê cresceu no palácio do faraó. Embora fosse tratado como um príncipe e pudesse desfrutar de todos os prazeres da corte egípcia, Moshê estava sempre triste, tão triste que chorava sem parar. Havia descoberto que era judeu, e sentia-se consternado ao ver como o faraó tratava cruelmente a seus irmãos, os judeus. Moshê se negou a desfrutar dos prazeres do palácio enquanto outros judeus sofriam e trabalhavam duramente.

Então, Moshê pediu ao faraó que o deixasse supervisionar os escravos judeus, e a cada vez que visitava um lugar onde via os judeus trabalhando, ajudava-os secretamente no que fosse possível. Com o pretexto de ajudar o faraó, Moshê os ajudava a carregar fardos ou a terminar um trabalho. Angustiava-se terrivelmente ao ver que os judeus sofriam tanto.

Os planos de Moshê para dar aos judeus um dia de descanso

Moshê estava constantemente pensando na forma de aliviar o trabalho dos judeus, e finalmente elaborou um plano. Foi ver o faraó e lhe disse: "Tenho observado os judeus trabalhando e devo informar-lhe que estão a ponto de sofrer um colapso. Aí, não terão mais utilidade, pois o senhor os obriga a trabalhar sem descanso. Nenhum escravo pode trabalhar semana após semana, mês após mês”.

"Tens alguma sugestão para evitar que sofram um colapso?" Perguntou-lhe o faraó.

"Creio que se lhes permitisse descansar um dia por semana", sugeriu Moshê, "lhes daria a oportunidade de reunir força suficiente para trabalhar melhor o restante do tempo”.

O faraó aceitou o plano de Moshê. Quando permitiu a Moshê escolher um dia da semana, que dia acham que escolheu? Sim, foi o Shabat. Embora a torá ainda não tivesse sido outorgada, Moshê sabia que o Shabat era um dia santo. Sabia que Avraham, Yitschac, Yaacov e Yossef descansavam no Shabat.

Segundo outro Midrash, o faraó descobriu que qualquer edifício que os judeus levantavam no Shabat caía imediatamente.
O faraó perguntou desconfiado: "Por que os edifícios construídos no sétimo dia não duram?" Moshê explicou ao faraó: "Porque não lhes permite descansar neste dia!”.

Desde então, o faraó liberou o Povo de Israel de trabalhar no Shabat.

Moshê mata um egípcio

Certo dia, quando Moshê tinha vinte anos, chegou ao lugar onde trabalhavam os judeus e se deparou com um espetáculo pavoroso! Um supervisor egípcio estava chicoteando selvagemente um judeu! Moshê sabia que precisava detê-lo rapidamente ou ele mataria o judeu. Decidiu que o malvado egípcio não merecia viver, mas pensou que poderia ter filhos ou netos que fossem bons. Embora Moshê fosse jovem, era um grande tsadic (justo) que tinha um poderoso ruach hacodesh, um dom de D’us que lhe permitia ver o futuro de uma pessoa. Moshê previu que este egípcio era um malvado da pior espécie, e que seus filhos e descendentes que pudesse ter seriam reshaim (malvados).

Moshê conhecia o segredo de matar uma pessoa invocando o nome de D’us, pois D’us havia enviado um anjo para que o ensinasse. Pronunciou um dos nomes santos de D’us, com 42 letras, e o egípcio caiu morto.

Moisés rapidamente sepultou o egípcio na areia e advertiu os judeus que haviam presenciado a cena: "Não digam uma palavra do que viram aqui”.

No dia seguinte, Moshê voltou a esse lugar. Havia problemas novamente. Dois homens estavam lutando, e um havia levantado a mão para golpear o outro. Quando Moshê se aproximou, viu que eram judeus. Eram dois reshaim (malvados) chamados Datan e Aviram.

Parem! Ordenou Moshê a Datan, o judeu que levantava a mão contra o outro. Por que faz isso? Nenhum judeu pode golpear outro! Datan replicou com insolência: "És muito jovem para me dar ordens! E mesmo que fosses mais velho, quem te nomeou juiz sobre nós? Ou talvez queres matar-me como fez ontem com o egípcio!" Quando Moshê escutou essas palavras, sentiu-se desolado. Datan mencionara em voz alta o fato de que matara o egípcio. Por acaso Moshê não advertira os judeus a guardar segredo e não falar lashon hará (palavras maliciosas) sobre ele? Moshê temia que D’us não iria tirar os judeus do Egito por pecar, falando lashon hará!

Os dois reshaim (malvados), Datan e Aviram ficaram tão furiosos porque Moshê apartara sua briga, que se apressaram em ir ao palácio e informar ao faraó; "Moshê assassinou um supervisor egípcio!" O faraó deu ordens para deterem Moshê e o condenou à morte. O carrasco quis brandir sua poderosa espada no pescoço de Moshê, mas D’us fez um milagre: seu pescoço ficou duro como uma pedra, e a espada voltou-se para trás, matando o carrasco. Então D’us deixou o faraó mudo, para que não pudesse falar e dar ordens de matar Moshê, e deixou as pessoas cegas, para que não vissem sua fuga.

Moshê se refugia na casa de Yitrô

Moshê saiu da terra do Egito, porque o faraó era poderoso e tinha espiões em toda parte. Viajou a países distantes por muitos anos, até que chegou à terra de Midyan. Enquanto descansava junto a um poço, viu sete irmãs com um rebanho de ovelhas que se aproximavam do poço. Uns pastores que estavam por perto não permitiram que as moças dessem de beber as ovelhas, e jogaram as irmãs dentro do poço.

Quando Moshê viu o ocorrido, tirou as moças do poço e deu água às suas ovelhas. Também ajudou os pastores a dar de beber aos animais. As irmãs agradeceram e foram para casa. Ao chegarem, o pai, Yitrô, lhes perguntou: "Por que chegaram tão cedo hoje? Sempre chegam tarde, pois os pastores as tratam mal e não as deixam dar água às ovelhas”.

Hoje um estranho, um egípcio, nos ajudou, explicaram elas. "Tirou-nos do poço e deu de beber as ovelhas. Trata-se, sem dúvida, de um homem muito bondoso, disse Yitrô. Vão buscá-lo e convidem-no a jantar conosco”.

Moshê foi à casa de Yitrô.

Quem és, e o que fazes em Midyan? Perguntou-lhe Yitrô.

Quando Moshê explicou que estava fugindo do faraó porque este queria matá-lo, Yitrô se assustou porque temia que o faraó o castigasse por dar abrigo a Moshê. Assim, Yitrô ordenou aos serventes que colocaram Moshê em um poço perto da casa, e o mantiveram ali por dez anos. Todos os dias, Tsiporá, uma das filhas de Yitrô, levava-lhe comida, e assim Moshê pôde sobreviver. Finalmente, dez anos depois, Yitrô o libertou.

O maravilhoso cajado de Moshê

Quando D’us criou os céus e a terra e tudo que há neles, criou também um maravilhoso bastão de safira, que deu a Adan, o primeiro homem, que viveu por 930 anos. Adan o entregou a seu tataraneto, o tsadic Chanosh, que havia nascido quando Adan tinha 622 anos. Chanosh o deu a Metushelach, que por sua vez o deu a Noâch. Noâch o deu a Avraham, que o deu a Yitschac, que o deu a Yaacov, que o deu a Yossef. Quando Yossef morreu, Yitrô, que era conselheiro na corte do faraó, o tomou porque percebeu o quão importante era. Yitrô o cravou na terra de seu jardim, no fundo da casa. Porém, quando o bastão foi plantado ali, ninguém, por mais forte que fosse, não conseguia tirá-lo. Yitrô proclamou: Se algum homem conseguir tirar o bastão da terra, dar-lhe-ei uma de minhas filhas por esposa! Mas ninguém conseguia. Quando Moshê saiu do cárcere de Yitrô, tirou o cajado. Guardou-o com ele.

Moshê se casa com Tsiporá

Yitrô deu a Moshê a mais especial de suas filhas, Tsiporá, que era uma grande tsadeket (justa). Esta deu à luz um filho, a quem Moshê chamou Gershon, e logo outro Eliezer.

Moshê ficou vivendo com Yitrô e se ocupou em cuidar das ovelhas.

D’us fala com Moshê de um arbusto ardente

Os pastores só levam as ovelhas e cabras a pastarem o mais perto possível de casa. Moshê, ao contrário, não fazia assim. Todo o dia levava as ovelhas de Yitrô muito longe, longe das cidades povoadas, pois temia que os animais comessem pasto de alguma outra pessoa, e isso seria roubar. Moshê somente ia com o rebanho em campo aberto, onde a terra não pertencia a ninguém.

Estava chegando a hora de liberar o Povo de Israel do Egito. Apenas D’us sabia quando chegaria este momento. Pois como Moshê era um tsadic (justo) tão especial, D’us decidiu elegê-lo líder dos judeus.
Certa vez Moshê conduzia as ovelhas por um campo deserto, e viu um fato inusitado: numa colina havia um arbusto espinhoso que estava se incendiando, sem que os ramos fossem destruídos pelo fogo. Moshê olhou com mais atenção e viu um segundo milagre: apenas parte do arbusto estava se incendiando, e o fogo não tocava a outra parte de jeito nenhum.

Moshê ficou admirado pelo maravilhoso espetáculo. Havia outros pastores junto a Moshê, mas apenas o tsadic (justo) Moshê podia ver o maravilhoso arbusto, e somente ele escutou um anjo de D’us que o chamava para que se aproximasse do arbusto.

Quando Moshê chegou perto, D’us lhe ordenou: "Não chegue muito perto! Tire os sapatos, pois está parada em terra Santa!”.

A colina era Santa, pois a shechiná (Divindade) de D’us estava sobre ela. Voltaria a ser sagrada no ano seguinte quando D’us entregaria os Dez Mandamentos ao Povo de Israel sobre esta colina. Pois a colina onde Moshê vira o arbusto ardente não era outra senão o Har Sinai -Monte Sinai.
D’us disse a Moshê: "Escutei o Povo de Israel chorando por causa do duro trabalho no Egito. Vi que fizeram teshuvá (arrependimento) em seus corações. Vou libertá-los. Vá ao faraó e ordene-lhe: Deixe partirem os judeus. Você os guiará para fora do Egito.
Sou uma pessoa muito insignificante, protestou Moshê. Por que haverias Tu, D’us, de eleger-me o líder que tirará os judeus do Egito? Elege um homem mais importante! Quem sou eu para que o faraó me escute e me permita sair para a terra Santa? Pode estar furioso comigo por ter matado um egípcio – pode até prender-me ou executar-me!

Não temas! Tranquilizou D’us a Moshê. Estarei a teu lado para assegurar teu êxito em liberar o Povo de Israel do Egito. Prometo que o faraó não te fará mal. Esta é uma das razões por que te mostrei a sarça ardente. Foi um sinal: assim como o arbusto não sofreu dano por causa do fogo, não serás prejudicado pelo faraó.

Moshê fez outra pergunta: Se eu disser ao Povo de Israel que me ordenastes tirá-los do Egito, não me acreditarão. Dirão: ‘D’us nunca apareceu para você! Não acreditamos em você!
D’us ficou irado com Moshê por não confiar nos judeus; por pensar que não lhe dariam crédito. D’us esperava que Moshê compreendesse que os judeus eram um povo santo que confiaria nele, pois haviam aprendido de seu antepassado Yaacov e de Yossef, sobre o redentor que D’us enviaria. Como temes que o Povo de Israel não confie em ti, dar-te-ei três sinais, disse D’us a Moshê.

Estas serão as provas para o Povo de Israel de que foste enviado por Mim.

O primeiro sinal

D’us perguntou a Moshê: Que levas nas mãos?

Um cajado, disse Moshê.

Joga-o no solo!

Quando Moshê jogou o cajado, este se transformou em uma serpente. Moshê se assustou tanto com a perigosa serpente que se movia em sua direção que começou a correr.

Mas D’us ordenou-lhe: Pega a serpente pela cabeça!

Quando Moshê fez o que D’us lhe ordenava, a serpente transformou-se em cajado novamente. Era sem dúvida um sinal maravilhoso que convenceria os judeus de que deveriam crer nas palavras de Moshê. Porém, D’us havia também escolhido este sinal para demonstrar a Moshê que estava aborrecido com ele, por haver falado mal de Bnei Israel ao dizer: Não crerão em mim! Desse modo, Moshê havia agido como a serpente no Gan Eden (paraíso) que havia falado lashon hará (calúnias) sobre D’us a Chava. Para que Moshê tomasse consciência de seu erro, D’us utilizou uma serpente como primeiro sinal.

O segundo sinal

D’us ordenou a Moshê: Põe tua mão sobre o peito!

Moshê pôs a mão dentro da túnica. Quando a retirou, estava branca como a neve. Estava coberta da doença cutânea conhecida como tsara’at. Quando uma pessoa contrai essa doença, a pele fica toda branca.

Logo D’us ordenou a Moshê: Coloca novamente tua mão dentro da túnica.

Desta vez, quando Moshê a tirou, a mão estava com sua cor normal novamente. D’us disse: O sinal de tua mão doente será o sinal que mostrarás ao Povo de Israel.

Este sinal era uma nova prova de que Moshê não deveria ter falado sobre Bnei Israel; Não me acreditarão! Como Moshê havia falado mal dos judeus, D’us o havia castigado com uma enfermidade com que D’us castiga as pessoas que falam calúnias.

O terceiro sinal

D’us deu a Moshê outro sinal para que mostrasse ao Povo de Israel. Disse-lhe: Toma um pouco de água do Rio Nilo e joga-a sobre o solo e se transformará em sangue.

Mesmo depois de receber estes três sinais do próprio D’us, Moshê não estava pronto para ir até o faraó.

Meu irmão Aharon sentir-se-á mal se eu me transformar no líder do povo judeu, e não ele! Ele é um navi (profeta) a quem Tu tens falado e enviado mensagens ao povo judaico. Não sou digno de comparecer perante o faraó, pois tenho dificuldades para falar.

Mas D’us insistiu que Moshê fosse o líder de Bnei Israel. Teu irmão Aharon te acompanhará na visita ao faraó e ao povo de Israel, disse-lhe. Ele falará diretamente com o faraó. Tu falarás lashon hakôdesh (hebraico) e ele traduzirá tuas palavras para o egípcio. Leva contigo o cajado, pois com ele farás milagres!

Moshê é castigado por demorar a fazer o brit milá (circuncisão) de seu filho

Moshê disse à esposa: "D’us me ordenou regressar ao Egito”.

Moshê pegou a esposa e o filho, Gershon, junto com o bebê recém-nascido, de oito dias de idade, e os sentou sobre uma mula. Todos empreenderam viagem ao Egito.

Na verdade chegara o momento de fazer a circuncisão do menino recém-nascido, Eliezer. Mas Moshê pensou: "Se eu fizer o brit milá agora, será perigoso que viaje em seguida. E D’us me ordenou viajar ao Egito. Primeiro devo obedecer à ordem de D’us e fazer logo a circuncisão do menino.

Quando Moshê e Tsiporá estavam para chegar ao Egito, Moshê preparou um lugar para a família passar a noite.

Mas D’us esperava que Moshê, agora que a família estava perto do Egito, fizesse a circuncisão antes de qualquer outra coisa. Moshê deveria ter preparado um lugar para dormir somente depois de cumprir com a mitsvá de milá. Por causa disso, D’us enviou um anjo para que castigasse Moshê. Uma serpente começou a enroscar-se em Moshê. Quando Tsiporá entendeu o que isto significava, rapidamente tomou um instrumento afiado e fez a circuncisão no filho. Imediatamente, o anjo libertou Moshê.

Esta história contém duas lições;

1. Vemos que grande tsadic (justo) era Moshê. D’us foi tão severo com ele por demorar a cumprir uma mitsvá, simplesmente pela estatura de Moshê, um grande homem.

2. Aprendemos desta passagem a importância da milá. Assim como o castigo por não cumprir a mitsvá é severo, o zechut (mérito) por cumpri-la é enorme. A mitsvá da milá é, em alguns modos, tão importante como todas as outras mitsvot da Torá juntas!

Aharon vai ao encontro de Moshê e sua família

D’us disse ao irmão de Moshê, Aharon: "Moshê está chegando ao Egito. Vá ao seu encontro”.
Aharon foi ao encontro do irmão. Beijou Moshê, feliz por este ter se tornado o líder do povo judeu. Embora Aharon fosse mais velho, não invejou a alta posição de seu irmão mais jovem. Quando Aharon viu a esposa e os filhos de Moshê, disse: "Por que os trazes ao Egito? Os judeus ali sofrem muito por causa da crueldade do faraó. Seria melhor que voltassem a Midyan”.

Moshê escutou o conselho do irmão. Algum tempo depois, levou a família de volta a Midyan e logo regressou ao Egito sozinho.

Moshê e Aharon falam com Bnei Israel

Moshê e Aharon reuniram os zekenim, os líderes do Povo de Israel. Aharon lhes falou. Explicou a eles que D’us havia enviado Moshê para tirar os judeus do Egito. Os zekenim transmitiram a mensagem a todos os judeus. Todos acreditaram. Inclinaram-se para agradecer a D’us que em breve os libertaria.

Logo Moshê e Aharon foram ao palácio do faraó para ordenar ao rei, em nome de D’us, que pusesse o Povo de Israel em liberdade.

Os milagres que aconteceram quando Moshê e Aharon entraram no palácio

A entrada do palácio era guardada por animais selvagens: ursos ferozes e leões. Estes destroçavam todo aquele que entrava sem permissão. Mas quando Moshê e Aharon entraram, os animais ficaram dóceis como ovelhas. Agacharam a cabeça e seguiram docilmente a Moshê e Aharon por toda à parte.

Antes de entrar na sala do trono, os visitantes tinham que atravessar uma porta baixa. Em frente à porta havia um ídolo egípcio. Quando o visitante inclinava a cabeça para passar pela porta, automaticamente se inclinavam para o ídolo.

Mas para Moshê e Aharon a entrada se tornou milagrosamente mais alta. Embora eles fossem muito altos, puderam entrar na sala sem inclinar-se. O mesmo milagre também aconteceu em tempos anteriores, quando Yaacov fora visitar o faraó. Para ele, também, a porta ficara mais alta.

O faraó se nega a escutar

Moshê e Aharon ordenaram ao faraó em nome de D’us: "Deixa o Povo de Israel sair do Egito". Mas o faraó zombou de suas palavras.

"Quem é D’us? Não o conheço! O nome desse deus não está em nenhum de meus livros”.Moshê e Aharon explicaram ao faraó: "D’us é o D’us do povo judeu. Criou o mundo e o governa! Será melhor para ti que O escutes!”.

Mas o faraó se negou a obedecer. Pelo contrário, tornou-se ainda mais cruel. Ordenou aos guardas: "Estes judeus estão ficando folgados, pois acreditam que logo sairão do país. Devemos, pois, fazer com que trabalhem mais ainda! Até agora lhes paguei para misturar o cimento e fabricar os tijolos. De agora em diante, cada judeu deverá conseguir sua própria palha! E diga-lhes que não podem fazer menos tijolos que antes!”.

Esta foi, sem dúvida, uma ordem cruel. Os judeus se dispersaram por todo o Egito em busca de palha. Mas, naturalmente, isto levou tempo, e o tempo de que dispunham para fazer tijolos era menor. Os supervisores do faraó os açoitaram por obterem menos resultados. Ordenou aos policiais judeus que golpeassem todo judeu que fosse lento no trabalho. Porém, eles não obedeceram Quando os supervisores do faraó viram isso, açoitaram os policiais judeus, mas não conseguiram que batessem nos outros judeus.

Moshê ficou triste ao ver que os judeus sofriam ainda mais depois que ele havia falado com o faraó. Lamentou-se a D’us: "Por que me enviaste ao Egito? Agora o faraó tornou-se ainda mais cruel com o Povo de Israel!”.

D’us respondeu: "Em breve enviarei pragas sobre o faraó, e então o trabalho de Bnei Israel se tornará mais fácil. Finalmente, o faraó os fará sair do Egito com tal pressa que não terão tempo de assar pão para levar na viagem!”.