quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A aldeia dos descontentes!

Por Yanki Tauber

Era uma vez uma aldeia repleta de pessoas descontentes. Durante o dia todo elas caminhavam com o rosto triste, cada qual remoendo seus problemas, sempre invejosas do sucesso dos vizinhos.Certo dia, chegou um idoso sábio à vila. Reuniu todos os moradores na praça principal e lhes disse: "Gostaria que cada um de vocês vá para casa e traga sua posse mais preciosa, aquilo que mais preza na vida, e coloque aqui no meio da praça." Logo havia uma grande pilha de trouxas e pacotes de todos os tipos e tamanhos no centro da praça da aldeia."Agora", instruiu o sábio, "vocês podem escolher para si mesmos qualquer um desses presentes. A escolha é sua - peguem o pacote que desejarem."Todo homem, mulher e criança da aldeia fez exatamente o mesmo. Cada qual escolheu seu próprio pacote.A Torá, como todos sabemos, começa pelo início, descrevendo a criação dos céus e da terra, os continentes e oceanos, vegetação e vida animal. Então, no 26º versículo, passamos à criação do homem. "E D'us disse", lemos, "Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança…"Façamos? Até este ponto – e daqui até o restante da Torá – D'us é mencionado como a suprema singularidade. Ele é o Chefe, a fonte exclusiva e fazedor de tudo. Mas neste único exemplo, há um "nós", um coro de opiniões, uma chefia celestial perante a qual o Criador apresenta uma proposta e pede aprovação.A quem D'us consultou quando desejou criar o ser humano? Nossos Sábios oferecem várias explicações. Uma delas é que D'us perguntou aos anjos, como se para rebater suas críticas posteriores sobre as falhas do homem mortal. Outra explicação é que D'us estava envolvendo todos os elementos do universo, ou todos os aspectos de Seu ser infinitamente potencializado, na formação da alma multi-facetada do homem. Todas essas explicações, obviamente, levantam pelo menos tantas questões quanto respostas. De fato, é a respeito desse versículo específico que os Sábios declararam: "A Torá diz dessa maneira; todo aquele que deseja interpretar erradamente, que o faça…" Obviamente, aqui há uma importante mensagem para nós – tão importante que a Torá insiste nessa fraseologia específica apesar do fato de que dá lugar a má interpretação.Porém há uma interpretação desse versículo que nos apresenta um enigma de um paradoxo. O Midrash oferece a seguinte explicação: "A quem Ele consultou? As almas dos justos." D'us está perguntando a um conselho de almas humanas se Ele deveria criar a alma humana!A trama fica mais forte. Quem são estes "justos" (tsadikim) a quem D'us consultou? Segundo o Profeta Yeshayáhu, "Nosso povo é todo de tsadikim." Cada um de nós possui a alma de um tsadic (independentemente de até que ponto permitimos a sua expressão). Em outras palavras, D'us perguntou a cada um de nós se desejávamos ser criados, se escolhemos aceitar o desafio da vida terrena. Somente então Ele nos criou.Se perguntar a uma alma se deseja ser criada parece uma pegadinha, este paradoxo de fato resolve um paradoxo muito mais profundo – o paradoxo do Divino decreto e do arbítrio humano.D'us está para sempre nos dizendo o que fazer. De fato, a própria palavra Torá significa "instrução", e isso é basicamente aquilo que a Torá é: uma série de instruções vindas do Alto. E apesar disso sabemos que "um princípio fundamental da Torá" é que "o livre arbítrio foi concedido ao homem". Quais são exatamente as nossas opções, se D'us está constantemente nos instruindo?A questão vai mais além. Vamos presumir que, em qualquer situação, sob quaisquer circunstâncias, a opção é nossa sobre como agir. Mas que tipo de escolha é essa, se ninguém nos perguntou se queríamos estar naquela situação e sob aquelas circunstâncias, para começar? Que tipo de "escolha" existe, se não escolhemos se devemos ou não receber aquela opção?Então a Torá nos revela este segredo impressionante: aquela suprema escolha foi feita por nós, antes mesmo de existirmos. Antes que D'us emanasse sua alma e a soprasse dentro do seu corpo, você foi perguntado se deveria ser. Então, em qualquer situação em que você se encontre, em todo desafio que enfrenta em sua vida – você está lá porque você escolheu ser colocado naquela vida.Passamos pela vida reclamando: "Eu não pedi para nascer…!" Porém mil vezes por dia refutamos essa alegação. Com incontáveis escolhas e ações, afirmamos que a vida que temos é a vida que desejamos. Afinal, nós a escolhemos

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