quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

PARASHÁ BO ` a



Nesta semana, estaremos lendo Bo que é a terceira Parashá do livro de Shemot. É nela que estão os relatos das três últimas pragas que Deus lançou sobre o Egito. A oitava praga é a dos gafanhotos; a nona, da escuridão; e a décima e última, a pior delas, a praga referente à morte dos primogênitos. Interessante verificar que este trecho semanal da nossa Torá traz diversas leis e costumes que cumprimos até hoje.

A primeira das leis refere-se aos costumes de Pessach. Assim está dito: “Sete dias comereis pães ázimos, mas no primeiro dia cessareis de ter fermento em vossas casas” Shemot: 12:15. Daí a lei de não comermos fermento e nem o possuirmos em casa durante a festa de Pessach, que tem duração de sete dias.

O costume de comermos matzá neste período também está aqui relatado: “E cozeram com a massa que tiraram do Egito, tortas e pães ázimos que não fermentaram, porque foram desterrados do Egito e não puderam demorar-se” Shemot: 12:39. Na pressa da saída do Egito, não houve tempo para que o pão que seria comido pelo povo fermentasse. E é em lembrança deste fato que comemos durante a festa de Pessach a matzá, o pão que não é fermentado.

O calendário judaico tem seu início justamente no mês da festa de Pessach, durante o mês da Primavera, em Israel. Assim está descrito: “Este mês seja para vós princípio dos meses; seja ele para vós o primeiro dos meses do ano” Shemot: 12:2.

Também o nome da festa “Pessach” tem sua origem nesta Parashá: “E será o sangue para vós por sinal, sobre as casas e, que estejais lá, e verei o sangue e saltarei sobre vós, e não haverá em vós praga do destruidor, quando Eu ferir a terra do Egito” Shemot: 12: 13. A palavra “pessach” (saltou) é encontrada nestes versículos. D’us nos conta que iria “saltar” sobre as casas dos Judeus, evitando assim que o Anjo da Morte, encarregado da morte dos primogênitos, levasse também aqueles do Povo Judeu. Daí o nome da festa: “Pessach”.

Uma das maiores mitzvot de Pessach é contar aos filhos, e aos filhos dos filhos, que o Povo Judeu foi escravo no Egito e que D’us, com mão forte e braço poderoso o tirou da escravidão. Esta é a lei: “E para que conte aos ouvidos de teu filho, e do filho de teu filho” Shemot: 10:2.

A obrigação do Povo Judeu de colocar a mezuzá no batente da porta de entrada de suas casas também provém desta Parashá e está diretamente ligada à praga da morte dos primogênitos: “E tomarão do sangue, e porão sobre os dois umbrais e sobre as vergas das partas das casas em que o comerão” Shemot: 12:7; “E será o sangue para vós como sinal, sobre as casas em que estejas lá, e verei o sangue e saltarei sobre vós, e não haverá sobre vós praga do destruidor...” Shemot: 12:13. Ou seja, colocamos a mezuzá em nossos batentes assim como nossos antepassados foram instruídos por D’us a tingirem os umbrais de suas casas com o sangue do cordeiro, tornando assim suas casas reconhecíveis como casas Judias.

Ainda nesta Parashá está relatado o costume do Pidion HaBen, aquela cerimônia em que o primogênito de um casal é resgatado de D’us por meio de um pagamento simbólico. Assim está relatado: “Consagra para Mim todo primogênito, todo aquele que abre a matriz de sua mãe, entre os filhos de Israel, no homem e no animal; para Mim ele é” Shemot: 13:2.

A obrigação da colocação dos Tefilin (Filactérios) também provém deste trecho: “E será para ti como um sinal sobre tua mão e como a memória entre os teus olhos” Shemot: 13:9.

A Parashá Bo, conforme vimos acima, é importantíssima. É nela que acontece a fuga do Povo Judeu do cativeiro do Egito; nela estão relatados os costumes e leis de Pessach; nela está determinado o início do ano no calendário judaico; nela está relatada a lei da colocação da mezuzá; é dela que vem a origem do Pidion HaBen e da colocação dos Tefilin. Mas será que é por mero acaso que estas leis e costumes, tão importantes para o Povo Judeu, se encontram justamente neste trecho? Após 430 anos de escravidão, finalmente o povo é liberado do cativeiro no Egito. Mas é só a partir deste momento, quando o povo deixou de ser escravo do Faraó e passou a servir a D’us, que pôde receber tantas mitzvót, pois elas são leis que só podem ser feitas em liberdade. Por exemplo, a mitzvá de contar aos filhos, e aos filhos dos filhos, que um dia fomos escravos e o festejo do início do calendário judaico, cujo marco é exatamente a liberdade.

Rabino Michel Schlesinger

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