domingo, 2 de dezembro de 2007

parasha vaeieshev

PARASHÁ VAIESHEV a y i e

Para os cabalistas a idéia por trás do exílio dos hebreus em Mitzraim (Egito) está relacionada diretamente ao exílio da alma dentro do corpo físico e também no universo da fisicalidade. Para os cabalistas, Yosef é uma parte (porção) de nossa consciência centrada no Ruach ("espírito"), e uma parte de nossa memória espiritual, uma memória que nos permite estar freqüentemente atento ao que viemos objetivamente realizar nesta vida. Yessod é essencialmente Yesh (Há) + Sod (segredo), e isso significa que por intermédio desta sefirá temos acesso aos mistérios espirituais que envolvem nossa existência, os segredos de nossa alma. A vinda de Yosef para Mitzraim (Egito), marca a entrada de uma nova consciência dentro do mundo físico, a consciência espiritual. Os sábios nos ensinam que Yosef trouxe a Shechiná (Presença Divina) para Mitzraim. Essa é a grande função e missão da alma do tzadick dentro do mundo físico – trazer para a experiência da fisicalidade a revelação da Luz do Mundo Infinito e a Consciência Infinita. Yosef é uma representação da alma de todo o tzadick (justo), cuja regência está diretamente à capacidade de gerar e refletir a Luz do Mundo Infinito por intermédio da restrição. Este é o grande mistério por trás da letra TZADICK – a total submissão aos princípios espirituais.

"Yosef foi baixado a Mitzraim..." Gn: 39:1

Assim também a alma do tzadick é levada, conduzida ao mundo físico para poder revelar a Luz Infinita.

"E esteve o Eterno com Yosef, e foi um homem prospero..." Gn: 39:2

Apesar de todos os grandes problemas e restrições que marcaram a vida de Yosef, o poder do Nome Sagrado está com ele e isso é a garantia de seu triunfo.

"E viu seu senhor que o Eterno estava com ele, e, em tudo o que ele faz ia, o Eterno estava com ele, e , em tudo o fazia , o Eterno o fazia prosperar." Gn: 39:3

O "Adôn" (senhor) é uma representação do corpo físico, pois o mesmo em Mitzraim exerce um poder sobre nós por intermédio de suas necessidades. Mas Yosef não está submetido à consciência de seu Adôn (senhor), ele reconhece que tudo o que acontece dentro do mundo físico é reflexo de nossas ações nos outros "mundos" (olamot). Para os cabalistas existem quatro etapas do surgimento da Luz, e as quatro etapas do surgimento da Luz do Mundo Infinito podem ser comparados aos círculos concêntricos formados quando jogamos uma pedra em um lago. A primeira etapa da Luz, a Sabedoria (Chochmá) causa a segunda fase, a Compreensão (Biná), que por sua vez é o potencial para formar a Beleza (Tiferet) em seguida, e por último o Reino (Malchut), de onde se desperta por completo o desejo de receber e finalmente se revelam e se manifestam as forças que se encontram em potencial nas quatro fases da Luz. Desta forma, aprendemos que tudo aquilo que acontece em Malchut é resultado do que primeiro brotou no território da Emanação. Tudo se inicia por Chochmá cuja virtude é a auto-anulação (bitul). Todo o cabalista sabe que somente por intermédio da auto-anulação do ego é possível transcender os limites da fisicalidade e conectar-se a FONTE de toda a Luz Infinita.

Os cabalistas nos ensinam que tanto a primeira quanto a terceira fase são "fecundadoras" da Luz e por isso são associadas à energia masculina, já a segunda e a quarta fase são consideradas "reveladoras" da Luz e por isso são descritas como femininas. No texto da Torá, da porção desta semana, Potiphar é um eunuco, ou seja, sem potencial "fecundador" e por isso representando a parte de nossa alma incapaz de transformar a realidade, necessitando de Yosef para conseguir prosperar. Logo, aprendemos que, quem prospera é o espírito e não as forças da fisicalidade. O que modifica o nosso universo exterior (Mitzraim) é o nosso universo interior (Yosef). Em Malchut (Mitzraim) temos unicamente a natureza ilusória da existência. O mundo verdadeiro é o mundo espiritual e está oculto. Mas apesar disto, a Luz do Mundo Infinito (Or Ein Soph) – tudo o que é, foi e será – está presente neste mundo de ilusão. A Sabedoria Infinita está dentro de nós e a nossa volta, apenas se encontra fora do alcance de nossos sentidos racionais.

Mas se a realidade está aqui. Por que não a experimentamos?
A Cabalá nos ensina que o propósito da criação foi ocultar o Infinito, para que fosse possível criar um circuito de energia através da resistência positiva e desta forma afastarmos a energia negativa conhecida como "desejo de receber para si mesmo". Mesmo que não seja possível ver a Realidade (Olam Tikun), podemos por intermédio da resistência positiva, revelar a Luz do Mundo Infinito e eliminar desta forma as força de Nachash em nossas vidas. Nossa capacidade para transcender a ilusão e nos conectarmos a Consciência Infinita da existência, depende de um processo de três etapas: AUTO-ANULAÇÃO, CONTENTAMENTO e SEPARAÇÃO.

O ato de auto-anulação estabelece uma conexão com o universo extra físico, pleno e completo (apesar de oculto). Esta é a consciência que nos permite perceber que há um universo Infinito – aqui mesmo, dentro deste mundo físico – abrindo a nossa mente para novas possibilidades. Assim sendo, a auto-anulação e o acesso à mente contemplativa representa a etapa inicial na jornada rumo a transcendência. O exercício aqui é ter a consciência de que você é parte da totalidade existente no mundo e parte dos planos do Eterno. O segundo nível da percepção Infinita é o contentamento pleno. Neste estágio temos que compreender que há estados de consciência infinitamente "superiores" e "mais puros" que aqueles accessíveis a mente que acompanha nossas rotinas cotidianas. Este estado de contentamento (atributo de Biná) não se refere a uma fé cega e sim a uma experiência emocional que nasce do conhecimento.

Aqui o cabalista vislumbra a sua completude e plenitude e deve se sentir absolutamente preenchido com a Luz do Mundo Infinito. Tudo o que possui é tudo o que precisa para sua mais plena realização e crescimento. Este estado de contentamento é representado pela alegria e o entusiasmo mesmo diante da adversidade. A separação é a terceira etapa da jornada em direção a conexão de nosso espaço interior, a consciência com o nosso espaço exterior. Para que seja estabelecida a consciência do Or Ein Soph que nos rodeia, temos que nos libertarmos das limitações que nos impõe a ilusão material. Sobretudo a identificação que temos com os aspectos da fisicalidade que promovem o fortalecimento de uma "auto-imagem residual" limitada e restrita as leis do mundo físico. Enquanto esta "separação" não ocorrer, não haverá espaço para o milagre. Aqui também o cabalista deve aprender a manter-se separado de tudo o que estimula o seu Yêtzer Hará. A resistência da ilusão material é a chave para o Olam HaBá (Consciência Infinita). Através do processo das três fases de "auto-anulação", "contentamento" e "separação" do Mundo da Restrição Material, transcendemos a ilusão e criamos um canal aos estados superiores de consciência. Assim, não sendo obstáculo para a revelação da Luz, o cabalista procura se tornar um meio pelo qual a Shechiná se revela no Mundo Físico. Assim como nos ensinou Yosef HaTzadick por seu exemplo.

"Em todos locais que os chassidim vão, a Shechiná vai com eles e não os abandona. Yosef caminhou no vale da sombra da morte e o fizeram descer para o Egito, e a Shechiná estava com ele,..." Zohar – Vaieshev

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