quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

PARASHÁ VAYIGÁSH y b i e

E disse: Eu sou Él, Elohim de teu pai; Não temas descer a Mitzraim, porque lá Eu farei de ti uma grande nação. Gn: 46:3.

Há um grande elemento comum entre os patriarcas de nossa Tradição – todos passaram por grandes forças de restrição em suas vidas. Qual é o objetivo destas forças de restrição? Mitzraim representa o mundo limitado e restrito da fisicalidade. Sendo assim, o mundo físico é reconhecido como sendo o Mundo da Restrição (resistência). Mas como podemos iluminar nossa relação com este mundo de restrição?

Segundo os Princípios da Cabalá Contemplativa, o universo inteiro opera através de um sistema de três colunas. Na Cabalá, o principal mediador que atua entre a influência positiva e a influência negativa é conhecida como "Coluna Central". Esse é o elemento neutro entre as polaridades "positiva" e "negativa". A Coluna Central representa o princípio mediador que deve servir como canal entre as duas polaridades, a fim de que a energia possa se manifestar. A Coluna Central é uma força moderadora que funciona da mesma forma que um filamento deve exercer resistência para revelar a luz. Da mesma forma quando estabelecemos uma resistência voluntária em nossos desejos, também conseguimos revelar a Luz Espiritual oculta por trás do aparente mundo físico. Este é essencialmente o grande paradoxo da existência, para termos as coisas temos que ter e projetar o desejo de receber, mais para atingir os nossos objetivos devemos restringir o que queremos receber, pois unicamente através da restrição é que se revela a energia.

A restrição é a energia-inteligência da Coluna Central da Árvore da Vida. Ao resistir ao que queremos receber, criamos uma conexão que compartilha conosco. Esse conceito nos parece muito estranho em uma primeira visão.

Aprendemos que toda a energia que se revela neste mundo de restrição é energia refletida (restringida). Por isso, se quisermos receber (revelar a energia que desejamos), temos que reter a ação de nosso desejo e com isso criar um bloqueio ao fluxo de receber. No momento em que decidimos pela Coluna Central, criamos uma interferência no mundo de Malchut, somente assim é que a energia positiva torna-se revelada.

Os cabalistas nos ensinam que, quanto maior for o nosso desejo de possuir alguma coisa menos probabilidades temos de consegui-la e, ao contrário, resistir a aquilo que mais desejamos é a maneira mais segura de obtermos as coisas. Esta aparente contradição é um desafio a tudo o que temos aprendido. Como se pode esperar que venhamos a chegar a alguma parte deste mundo se recusarmos e restringirmos o que mais desejamos?

O fato é que a idéia da resistência é um modo operante no mundo físico e também deve por sua vez governar o âmbito metafísico, incluindo nossa vida emocional e nossos pensamentos.
Assim, devido a circunstâncias culturais e condicionamentos educacionais, não nos surpreende que o ser humano não possa compreender e por isso mesmo abraçar com toda a convicção, em primeira instância, o conceito da resistência. Não é fácil romper com níveis profundos de condicionamentos robóticos profundamente enraizados.

Como é o caso de todas as verdades cabalísticas, a idéia de resistir ao que mais se deseja, não pode vir unicamente por intermédio da lógica – deve-se fazer uso da experiência. O pensamento racional é uma ferramenta, mas como qualquer ferramenta possui suas limitações.

Devemos nos lembrar que não é a Luz o que a Cabalá nos pede para afastarmos e sim a obstrução da Luz, o desejo de receber para si mesmo. Ao resistir ao que mais desejamos, criamos um estado alterado de consciência. Simplesmente, ao criarmos o tzimtzum, o ato original da Criação, a pessoa cria afinidade com a Luz e alcança a união com o Or Ein Soph.

Mas, se a Luz esta presente a todo tempo e em todos os lugares, como pode só ser revelada dentro de Mitzraim?

A Cabalá classifica a Luz de acordo com duas divisões, "Or" e "Shefá". Dentro da perspectiva humana, esta última é a mais importante dentre todas.

A Or (Luz) se manifesta unicamente ao estabelecer contato com a resistência. A luz do sol, em relação à Or, se revela unicamente quando se reflete em algo físico. A Luz que é vista chama-se Shefá. Isso se dá pelo fato de a Or é invisível, o Shefá é a única luz que revela e, por isso, é a única luz que podemos ver.

Os cabalistas nos ensinam que a Luz (Or) está em toda à parte, no ar, na água, até mesmo no centro da Terra. A Presença Infinita de Or Ein Soph penetra tanto no físico como no extrafísico com igual intensidade. O paradoxo é que nenhuma luz se revela ao menos que passe por um processo de resistência. E esta é a diferença entre a Or e o Shefá. A Or está presente em toda à parte, mas não é revelada por não sofrer nenhuma ação de resistência. Assim sendo, se a Luz está presente mesmo quando não revelada isso significa que todos os desejos são potencialmente concedidos e que cada desejo já está absolutamente satisfeito. Para os cabalistas não há nenhuma possibilidade de que um desejo surja sem que sua satisfação tenha sido plenamente alcançada em um nível extrafísico. Neste mundo de restrição nada se manifesta sem que tenha existido um pensamento prévio. Nada existe hoje que já não tenha existido no Ein Soph.

Devemos ter a consciência de que quanto maior for a capacidade de se refletir (sofrer resistência) maior é a luz que se revela. Assim sendo, o desejo de receber para si mesmo, que é o ponto máximo da capacidade de adsorção, não revela nada, no entanto, o desejo de compartilhar, que é a natureza refletida de nossa alma, revela tudo o que pode ser revelado.

Unicamente a humanidade necessita exercer a resistência voluntária para revelar a Luz. O fracasso ao restringir e conseqüentemente refletir a Luz que se oferece livremente, pode resultar em todo o tipo de caos de vazio.

O livre arbítrio é um privilégio reservado unicamente a quem elege exercê-lo. Os cabalistas nos ensinam que a extensão do livre arbítrio do homem reside em sua capacidade e em sua vontade de restringir os aspectos negativos do desejo. Ao restringirmos o desejo de receber para si mesmo, revelamos a Luz que dorme dentro de nós. É somente por intermédio do sistema de restrição que podemos adquirir o livre arbítrio. O homem que não exerce resistência voluntária contra seu desejo de receber para si mesmo não possui livre arbítrio. A consciência requer um incessante esforço de resistência. Depois do tzimtzum, a única forma de exercer o livre arbítrio passou a ser através da resistência dos aspectos negativos do desejo. O único livre arbítrio é escolher não caminhar pelo Yetzer Hará (má inclinação). E sermos assim, soberanos em nossa existência dentro do mundo físico (Malchut).

"E habitarão na terra que dei ao Meu servo Yacov, onde moraram os vossos pais, e nela voltarão habitar eles, seus filhos, e os filhos dos seus filhos, para sempre; e Meu servo David será seu príncipe para sempre”.Ezequiel 37: 25

Ivdu et HaShem B’simchá
Sirvamos a HaShem com alegria

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